3. A Morte Te Dá Parabéns

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           Montada nas costas do Centauro, Regina Monroe encontrava-se em uma situação desesperadora. Seus braços estavam firmemente amarrados por uma corda, impossibilitando qualquer chance de escapatória. O Saci segurava a ponta oposta da corda, mantendo um controle firme sobre a prisioneira. Juntos, os três personagens adentravam a região metropolitana de Fantasia, desembarcado em uma cidade que se assemelhava a um cenário de faroeste. A cidade country, onde estavam, era imersa em uma atmosfera de areia e poeira, com bares rústicos e casas de madeira pontuando a paisagem árida.

          Os olhares curiosos dos habitantes da região se fixavam na figura enigmática da jovem vestida de branco. Para todos ela era a mais esquisita do local, enquanto Regina se sentia a única "normal" em meio aquelas criaturas excêntricas. Era impossível ignorar a presença do gigante ciclope de um olho só em sua testa que a fitava, cuja pele azulada reluzia sob o sol, ou mesmo a majestosa fênix que voava em círculos ao redor do trio, com suas penas douradas e vermelhas irradiando uma beleza quase sobrenatural.

          Enquanto avançavam em sua jornada, o Centauro fez um aceno com a cabeça em cumprimento ao seu primo, o imponente Minotauro. O colossal monstro encontrava-se junto a um ferreiro habilidoso que martelava com força sobre uma bigorna, consertando o machado do Minotauro. Em resposta ao gesto amigável, o Minotauro ergueu a mão e acenou de volta para o primo. Regina observava com um misto de fascínio e medo aquela criatura de chifres imponentes, cujo nariz ostentava uma grande argola.

          Logo em seguida, os olhos da jovem encontraram a visão quase automática de uma imensa criatura algemada. O dragão Vilgax, com plumas vermelhas e escamas amarelas espalhadas pelo seu corpo, dominava o espaço com seus assustadores 18 metros de altura. Os aldeões da cidade haviam conseguido acorrentar o temível ser místico. Regina reconhecia Vilgax como um dos antagonistas mais perigosos do livro. Se recordou que no livro de Fantasia uma onda de alívio percorreu o grupo de heróis ao capturarem essa figura reptiliana de poder incomensurável.

          O trio finalmente chegou diante de uma construção de porte médio. A fachada empoeirada e uma placa desgastada revelavam o propósito sombrio daquele lugar. Foi então que Regina percebeu onde exatamente estavam: diante das sombrias paredes da prisão da cidade faroeste. O Saci desmontou Regina do Centauro, levando-a para dentro.

— Então você é a famosa menina que caiu do céu?

          A pergunta veio do homem sentado em frente a uma mesa próxima da cela vazia da prisão. Assim que se ergueu com sua chegada, Regina pôde se dar conta de qual criatura enigmática se tratava. Era o delegado da cidade, apesar de sua aparência peculiar. Seu rosto era humano, mas adornado com dois chifres curvos de carneiro — que não eram símbolos de traição. Da cintura para baixo, o Fauno exibia uma pelagem de carneiro, pernas de bode e cascos no lugar dos pés, completando sua figura com uma cauda semelhante à dos cavalos.

— Senhor Tumnus¹... — Regina falou admirada.

— Quem? Meu nome é Cello. Quem é esse tal de Tumnus ao qual se refere?

— Ah, perdão. Livro errado — Regina se desculpou, ao perceber o equívoco. Não era para menos o engano, afinal aquele Fauno diante dela era um simples figurante no livro Fantasia que conhecia. Estava admirada com o fato de que naquela realidade em que estava inserida ele fosse o delegado.

          O Saci estendeu o braço, indicando que Regina se acomodasse na cadeira diante da mesa. A contragosto, a jovem amarrada cedeu e se sentou. No entanto, no momento em que se acomodou, um ruído de flatulência ecoou pelos arredores, arrancando risadas do Saci, que logo deixou a delegacia após pregar sua travessura, ao ter colocado uma almofada sonora antes que Regina se sentasse.

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