19. Uma Deusa, Uma Bruxa, Uma Feiticeira

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          Regina e Bridge se mantinham em pé. Pararam subitamente ao se certificarem de manter uma boa distância da Feiticeira. Não havia qualquer sinal de sangue nas proximidades, ninguém ferido. Apenas uma mulher na poltrona que possuía um olhar vago ao encarar as duas. A bruxa suspendeu os ataques, a encarando de volta. Havia algo de estranho em seu olhar.

— Pelo visto os boatos eram verdadeiros...

— Do que você está falando? — Regina perguntou de volta. Bridge respondeu, sem tirar os olhos de sua rival:

— Além de poder movimentar objetos e pessoas com a mente, usando de sua telecinesia, a Feiticeira também é capaz de usar da alquimia para transmutar objetos. Isso seria basicamente criar matéria a partir do nada. Porém, para isso existe um princípio de lei de troca de equivalência. Ela precisa dar algo de igual valor para poder utilizar da alquimia. Receio que o que ela ofereça seja a própria vitalidade, por isso ela busca pela imortalidade, para poder transmutar qualquer coisa, a qualquer momento, sem limitações.

          Regina olhou para a dona do aposento. A Feiticeira sorria, como se Bridge estivesse correta.

— Mas tem algo mais — Bridge prosseguiu sem vacilar o olhar. — Ouvi falar por aí que ela desenvolveu uma outra habilidade. Achei que era apenas um boato, mas pelo visto era verdade. O dom da telepatia. Em outras palavras, ela pode ler nossa mente. E mais do que isso, podendo ler nossa mente, ela consegue ter um breve vislumbre do futuro. Não acho que seja mais do que poucos segundos, mas com isso consegue mentalizar que ações tomaríamos se ela fizesse algo. Em resumo, lendo nossa mente, ela consegue ter um panorama de futuros alternativos dependendo do que ela fizer. Pela expressão dela de agora há pouco, ela parece ter tido uma dessas "visões" com um resultado bem catastrófico.

          A Feiticeira mantinha seu sorriso característico estampado no rosto, irradiando sua petulância. Com destreza, girava sua bola de cristal entre os dedos. Enquanto manipulava a esfera, a outra mão da Feiticeira repousava suavemente em sua bochecha, com o cotovelo apoiado no descanso da poltrona.

— Você está certa, Bridge. Tendo a habilidade de ler mentes, consigo ver brevemente o que aconteceria se, por exemplo, eu disparasse uma flecha em suas direções. Só se engana se acha que nessa linha do tempo, quem levaria a pior seria eu. Vi você morrendo, e por um motivo bem decepcionante.

— Se eu morreria, por que hesitou em atirar em nossa direção?! — Bridge parecia mais brava por não ser atacada, do que se tivesse sido.

— Essa é a última oportunidade que tenho de viver a adrenalina do perigo. Os momentos que antecedem minha imortalidade. Não queria que acabasse tão cedo. Além do mais — A Feiticeira se pôs de pé, diante da poltrona —, esqueceu-se de mencionar uma outra habilidade minha. A levitação.

          De forma súbita, Regina testemunhou os pés da Feiticeira se desprendendo do chão. Como se desafiando a gravidade, seu corpo começou a flutuar gradualmente, ascendendo até atingir o ponto intermediário do espaçoso salão. Ali, diante dos olhos atônitos de Regina, a Feiticeira pairava no ar, exibindo sua habilidade sobrenatural de voar usando o poder da mente.

          Bridge desviou sutilmente seu olhar em direção a Regina, transmitindo uma mensagem não verbal que tentava passar despercebida pela Feiticeira. Seus olhos brilhavam com intensidade, como se estivesse tentando transmitir um plano em silêncio. Regina, por sua vez, captou a intensidade do olhar de Bridge, mas não conseguiu decifrar seu significado exato. A expressão ardente nos olhos da bruxa era um enigma para ela. No entanto, a Feiticeira compreendeu perfeitamente o que estava acontecendo.

— Nem adianta, minha querida. É tolice a sua tentar usar o Pétaso mágico na mochila da menina para inibir minha habilidade de ler mentes. Afinal, só em pensar em usá-lo, eu já descobri seu plano.

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