Localizada no epicentro de uma cadeia de cavernas, a cidade litorânea de Comodo¹ possuía uma enorme parede rochosa que evitava a chegada dos raios solares naquela ilha, sendo assim agraciada pelo apelido de cidade da noite eterna. Todos os dragões que haviam naquele mundo nasciam naquela ilha. Não é à toa o seu nome, que foi batizada quando um explorador fantasianense chegou na ilha pela primeira vez alguns séculos atrás, sendo que o primeiro animal exótico que encontrou ali foi justamente uma espécie de lagarto conhecido como dragão-de-komodo.
Regina caminhava encantada com a beleza daquela ilha noturna ao lado do pirata sedutor. A terra natal do dragão Vilgax, além de ser palco da noite, também era um paraíso para amantes de festas. Os festivais duravam 365 dias no ano. Não era diferente naquele dia; com várias lamparinas expostas pela cidade, diversas tendas montadas — Algumas à beira mar, outras com uma certa distância do oceano —, e muitas pessoas transitando pela cidade litorânea. Algumas odaliscas dançavam com seus trajes árabes enquanto um bardo tocava música com seu bandolim.
— Olá Regina — Uma voz fina, como se fosse oriunda de uma criança, veio de trás da garota.
Abruptamente se virou em direção à pessoa que mencionou seu nome. Um garoto um pouco menor do que ela estava encarando-a. Se fosse defini-lo em uma cor, branco certamente seria a escolha. Utilizando uma bata clara que ia até a altura dos joelhos; com o cabelo platinado em um topete e a pele mais branca do que papel, o menino de olhos castanhos que encarava Regina tinha apenas como diferencial no quesito cor suas botas de camurça da cor vinho.
— Q-Quem é você? Como sabe meu nome?! — Indagou surpresa, dando dois passos para trás, temendo ser mais uma manobra do Autor.
— Larry! Que bom que chegou a salvo — Lemoy passou seu braço sobre o ombro da criança, dando uma breve gargalhada de alegria. Regina arregalou os olhos.
— Não vão me dizer que estou maluca, vão? Larry era um rato da última vez que o vi.
Lemoy deu uma gargalhada, enquanto permanecia com o seu braço sobre o ombro do menino. A criança mantinha um sorriso em seu rosto oval.
— Essa é a forma verdadeira de Larry. Ele é um metamorfo, de forma que pode se transformar em rato quando assim desejar. Mas não me admira que esteja surpresa, fiquei igualmente em choque quando o encontrei pela primeira vez, há alguns dias, em alto mar pedindo por socorro após o seu barco sofrer um naufrágio — O pirata explicou, enfim soltando Larry.
A menina deu um sorriso de canto. Ver um pirata ter um rato falante como animal de estimação ao invés de um papagaio já era incomum o suficiente. Agora o fato desse mesmo rato poder se tornar humano, tornava tudo ainda mais estranho para si. Apenas olhando poderia dizer que tinham uma idade próxima, talvez ele fosse uns dois ou três anos mais novo. Se sentiu mal por, outrora, tê-lo chamado de rato, por mais que de certa forma ele ainda fosse um.
— Falando em naufrágio, capitão o seu navio... — Antes que Larry pudesse concluir a frase, Lemoy balançou a cabeça em sinal que já estava ciente de que seu navio pirata foi destruído pelo Kraken.
— Então acho que nos separaremos aqui, pequena dama — Lemoy inclinou seu corpo em sinal de despedida, levando o próprio braço ao tronco.
A princípio Lemoy era quem Regina mais temia no mundo de Fantasia. Porém, ao conhecê-lo melhor, notou que ninguém era totalmente mau. Toda moeda tinha duas faces. Um pirata que cuidou de uma criança encontrada num naufrágio, e o mesmo que a ajudou a chegar ali a salvo, não tinha como ser alguém com más intenções...
Nesse instante, algumas pessoas passaram em volta do trio, rumo as barracas do festival. Enquanto se endireitava, Lemoy acabou esbarrando no ombro de um homem de meia idade. Se virou para se desculpar, mas o homem sequer lhe deu atenção. Regina semicerrou os olhos, se dando conta do que acabara de ocorrer.
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Fantasia
ФэнтезиPossui algum problema com os clichês da fantasia? Então, talvez, esse seja o livro certo para você nesse caso. Ou, talvez, seja o último livro que irá querer ler na vida. Ao menos, para Regina Monroe a segunda opção é certamente aquela que ela escol...