23. A Lenda de Bárbara Zaira

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          Consternada e desolada, Regina arrastava-se pela árida areia da cidade faroeste de Fantasia naquela tarde, seus passos pesados ecoando a frustração que enchia seu coração. Para ela, era simplesmente inconcebível como tudo havia se desenrolado. Como o Autor ousara intervir e impedir seu retorno para casa? Aquela realidade distorcida era como um pesadelo do qual ela não conseguia despertar.

          Ao longo de sabe-se lá quantos capítulos, Regina se aventurou em busca da Feiticeira e do príncipe Charles, alimentando-se da esperança de que, no final, tudo seria recompensado. No entanto, a triste verdade que agora se impunha era que sua busca fora em vão. A menina, que um dia amara o livro de Fantasia com todo o fervor de sua infância, começava a questionar a habilidade e talento do Autor, vendo-o como nada mais do que medíocre. Como ele podia criar um longo arco narrativo apenas para deixar os leitores desamparados no seu desfecho? Se sentia quase como uma personagem de Caverna do Dragão. Toda a sua aventura parecia ter sido uma mera enrolação, uma ilusão vazia.

          Apesar da melancolia, Regina foi forçada a aceitar a dura realidade que se impunha diante dela. Nunca mais poderia voltar para casa e jamais veria seu pai novamente. A tristeza que sentia por ele era profunda, mas não havia nada que pudesse fazer para mudar sua situação. Não importava o quanto tentasse, o Autor sempre encontraria uma maneira de intervir e impedi-la de retornar ao seu mundo.

          Regina retornou à cidade faroeste, com dúvidas pairando sombriamente em sua mente. Como era possível que o Autor tivesse conseguido intervir nos eventos que ocorreram nas Páginas em Branco? Afinal, aquele era o único lugar onde ele não deveria ter acesso. A não ser que houvesse um traidor entre eles, um informante do Autor infiltrado em seu círculo de amigos. No entanto, Regina relutava em acreditar que um de seus companheiros pudesse ser aliado de seu maior inimigo.

          Conformada com seu destino, Regina ainda não fazia ideia de que tudo tinha um propósito. E que o fim daquela história estava mais próximo e palpável do que poderia imaginar. No entanto, isso ficaria reservado para um outro capítulo, pois nesse, Regina enfrentaria uma grande perda que intensificaria sua tristeza...

— Olha só, apareceu a Margarida — Cello, o Fauno delegado da cidade, se surpreendeu ao ver Regina caminhando próxima a ele, depois de tanto tempo ausente da cidade.

          Regina lançou um breve e melancólico aceno ao homem peculiar com chifres de bode. Com passos lentos e o olhar baixo, ela prosseguiu em seu caminho, mergulhada em sua conformidade com seu destino.

— Bárbara Zaira melhorou? — O Fauno perguntou, se recordando que a jovem estava morando com a idosa.

          Subitamente, Regina virou-se bruscamente em direção ao Fauno, finalmente concedendo-lhe sua atenção. Seus olhos, repletos de espanto e confusão, faiscavam buscando resposta.

— Oh, sinto muito. Achei que já soubesse... — Cello disse, mostrando-se pesaroso.

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          Assim que Regina recebeu a devastadora notícia através de Cello, a jovem ficou atônita. A ex-líder da cavalaria do reino de Fantasia, a gentil e bondosa senhora que a acolhera em sua residência de bom grado, e a amada dona de Dog, estava em uma situação crítica. Seu coração mergulhou em desespero, fazendo a loira sair correndo pela cidade. Cada passo acelerado ecoava a angústia que preenchia seu ser, impulsionada pelo desejo desesperado de chegar ao hospital onde Bárbara Zaira estava internada na Unidade de Terapia Intensiva em estado grave.

          Ao adentrar apressadamente o hospital da cidade, Regina dirigiu-se ao balcão de atendimento de forma exacerbada. Por trás do balcão, estava a recepcionista, uma coruja marrom de olhos perspicazes, adornada com óculos de meia lua que conferiam um ar peculiar à sua figura. Os olhares de Regina e da coruja se cruzaram.

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