Capítulo XIII

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O dia está bem claro hoje. Apesar de estar perto do fim da tarde, o sol ainda bate por sob as águas que compõem os imensos aquários, fazendo o brilho refletir em nossa vista. Minha pequena amiga nada tranquilamente de um lado para o outro como se estivesse mais calma e serena por eu estar por perto.

Apesar de me sentir bem em saber que ela gosta de mim, seria bom se ela também deixasse que os biólogos cuidassem dela. Porquê, infelizmente, eu não sei se ela precisa de alguma ajuda médica.

- Vem, garota! - chamo ela mais pra perto - Você deve estar faminta, não é? Trouxe um balde de peixes fresquinhos para acabar com isso!

Atiro um peixe em sua direção, mas ela nem se move. Acho que não foi de uma distância boa. Então, balanço um peixe em minhas mãos e o atiro novamente fazendo-o bater em seu focinho e caindo para o lado.

- O que houve? Eu sei que você deve estar com fome pois não se alimenta desde ontem.

Ela põe a cabeça para fora da água como se me pedisse para acariciá-la. Inclino o meu corpo em sua direção e passo a minha mão sob sua cabeça; e é quando sinto um leve formigamento na ponta dos meus dedos me fazendo sentir cansada e um pouco tonta. Sinto um enorme vazio no estômago e uma fraqueza física como se eu estivesse sem energia.

Porém, tudo some no instante em que tiro meus dedos da cabeça dela, me fazendo cair sentada.

- É... é você, não é? - ela continua me encarando com aquele olhar profundo - É você quem está se sentindo assim, e não eu. Você quem está fraca e cansada porque está com fome. Mas, como eu sei disso? Como eu senti o que você estava sentindo? - ela mergulha e vai bem para o fundo - Você bem que poderia ter me feito adivinhar o que você quer comer.

- Já tentou dar caranguejo? - aí que susto! - A espécie dela geralmente se alimenta de caranguejos e lulas.

Fala a garota ruiva olhando para mim. Ela está sentada bem no início da ponte, em uma das grades que rodeiam o aquário.

- Você estava aí a muito tempo? - pergunto rezando para que ela dissesse não.

- Você quer saber se que eu cheguei a tempo de ver o seu diálogo completo e intenso com baleia? - ela da um meio sorriso mostrando as covinhas que tem no canto da boca - Infelizmente, não. Apenas vi o seu desespero.

QUE VERGONHA!

Mau começo a trabalhar e já estou dando motivos para me acharem esquisita.

- Toma. - diz ela oferecendo um balde de caranguejos me fazendo ir em sua direção - Você não tem muita experiência com baleias, não é?

- Para ser sincera, não tenho experiência com nada - falo pegando o balde de sua mão e ao mesmo tempo tentando rir da minha própria desgraça.

- Relaxa, não é nenhum bicho de sete cabeças. É questão de tempo e prática.

Concordo com a cabeça tentando fazer ela acreditar que eu também acho isso, mesmo sabendo que vai demorar um pouco para que eu aprenda tudo que eu preciso fazer aqui.

Eu não tinha percebido que seus olhos eram verdes, um verde que me lembra o tom das esmeraldas; e que apesar da maquiagem, era possível notar que em seu rosto tinha algumas sardas, principalmente concentradas no nariz. Eu sei que existem várias ruivas com esse mesmo estereótipo por ai, mas ela tinha alguma coisa diferente...

Espera... Eu estava tão distraída nos meus pensamentos que nem percebi que estou parada, com o balde na mão encarando ela. Meu Deus, que MICO!

Olho em sua direção para ver se ela percebeu algo, e é quando eu fico com uma vontade imensa de evaporar da face da terra, quando a vejo sorrindo para mim como se me dissesse "Eu sei que eu estava em seus pensamentos".

Pela Alma de Uma BaleiaOnde histórias criam vida. Descubra agora