As aulas passaram mais devagar do que eu gostaria mas não foram tão ruins quanto eu pensei. As pessoas daqui são muito alegres e comunicativas, por isso que qualquer janela de amizade que eles tentaram abrir comigo hoje eu acabei fechando com uma cara feia que fiz todas as vezes que percebia um sorriso em minha direção. Acho que causei medo neles. Por isso o dia está indo bem, fora o incidente com aquele idiota, é claro.
Já está na hora do almoço e eu tenho que ser rápida se quero despistar a animada Paola e seu amigo Chris. Observo o imenso corredor cheio de estudantes com hormônios a flor da pele repletos de espinhas e conversas paralelas, então percebo que preciso correr com todas as forças que tenho antes de ser vista.
Caminho por entre todos, tropeçando nos meus próprios pés. O corredor está cheio, todos estão de um lado para o outro indo encontrar seus amigos e se confortar em suas panelinhas diárias. Estão esbarrando em mim, eu não estou sendo vista? Mas é exatamente isso que eu quero. Não é? Começo a me sentir fraca.
Primeiro esbarro: eu estou no carro. Não consigo enxergar direito pelo corredor. Segundo esbarro: a chuva forte escorre pelo vidro e não é possível ver nada à nossa frente. Começa a me faltar ar e tudo fica distante, as vozes e as risadas apenas ecoam. Terceiro esbarro: o carro bate e tudo fica escuro. Escuto distante a voz de alguém me chamando no corredor.
- Davina! Ei, Davina! - era a Paola.
Com minhas mãos suadas e minhas pernas tremendo vou em direção ao banheiro não ligando para nada ao meu redor. Estou tendo uma crise de pânico? Estou recuperando lembranças daquele dia? Não posso me sentir assim. Não aqui. Não fora do meu quarto onde todos possam ver o quão fraca eu sou. Vou tão rápido que não consigo parar quando, BUF! Bato de frente com alguém no meio do caminho. Ainda vejo tudo balançando quando olho para cima e vejo quem eu menos queria.
- Você está bem? - pergunta Yago e por incrível que pareça ele estava mesmo preocupado.
Cara, por que tudo está embaçado? Por que a voz dele está distante?
- Eu tô bem sim... Eu só preciso... Eu...
E assim como minhas memórias, tudo fica escuro.
Abro os meus olhos tentando me manter de pé enquanto Iago me segura para que eu não caía no chão. Sinto suas grandes mãos apertarem firme meus antebraços e é possível notar uma expressão preocupada em seu rosto. Por um instante eu quase desmaio e com certeza seria uma cena e tanto para quem passou o dia não querendo chamar atenção.
- Deixa eu te levar para a enfermaria.
- Não... Não precisa. Devo estar assim porque não comi nada antes de vir. - falo tentando alinhar minha visão que ainda está um pouco turva.
- Tem certeza?
- Tenho, valeu. - tiro seus braços dos meus e viro-me para entrar no banheiro.
- Você tá bem?! Eu vi você quase cair agora. - Fala Paola, a pessoa de quem eu mais queria fugir hoje.
- Eu tô bem sim. Não precisa se preocupar comigo. - já estou irritada de me perguntarem isso.
- Tudo bem então. Você vai almoçar com a gente? - pergunta ela apontando para Chris que está um pouco mais atrás.
No instante que eu abro a boca para responder, sou interrompida por Yago.
- Na verdade, ela combinou de ir almoçar comigo hoje. Preciso mostrar para ela todo o conteúdo que já foi passado até hoje na aula de história. - olho para ele com uma enorme interrogação no rosto.
- Ah... então eu te vejo depois Davina. - fala ela saindo e não fazendo contato visual com Iago.
Depois que eles saem, olho para ele e digo:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pela Alma de Uma Baleia
ParanormalDepois do trauma de perder sua mãe, Davina Marques acaba indo morar com sua irmã perto de uma praia. Mesmo tendo prometido a si mesma que não queria ter laços com mais ninguém, ela acaba criando uma forte conexão com uma baleia no parque marinho em...