Quando já estou dentro, tropeço em uma pequena caixa de papelão que está bem na entrada e um papel azul gruda no solado do meu sapato. Ótima ideia deixar coisas bem onde as pessoas irão passar, Madame Constância.
Desgrudo ele segurando em minhas mãos e percebo que se trata de um anúncio de emprego no que parece ser o parque marinho da cidade, e me sinto incomodada em devolver o papel para o chão já que não consigo avistar nenhum balde de lixo. Apenas o dobro e ponho em meu bolso esquerdo.
A tenda parece bem maior por dentro do que olhando lá de fora, por um momento me senti em um dos filmes do Harry Potter, mas ao contrário deles esse lugar me causa dor de cabeça de tanta informação espalhada por todos os lados.
O tecido estampado, com algo que não sei descrever, cobre todo o ambiente com tonalidades em vermelho e laranja. Quase não consigo ver o tapete do piso por conta da quantidade absurda de almofadas espalhadas pelo chão e olhar para cima também não se torna agradável quando se tem três luminárias penduradas dentro de três bolas douradas que, pela dor em meus olhos, não foram feitas para se olhar diretamente.
Me aproximo da pequena mesa que está bem no centro do lugar, sento em uma das almofadas próximo a ela e vejo um baralho de cartas de tarô empilhados ao lado de uma sequência de velas perfumadas e um incenso que já está quase no fim.
Apesar de não ter uma bola de cristal, o lugar até que se parece com os que vemos nos filmes, só que chega a ser bem menos organizado. De um lado tem várias caixas de papelão abertas e cheias do que parecessem ser tecidos ou roupas, do outro uma pequena estante de livros bagunçados rouba a cena, alguns estando caídos pelo chão.
Tomara que essa Madame seja melhor lendo cartas do que limpando a sua tenda.
- Boa noite! - a mulher que vi mais cedo sai da parte de trás da tenda através de uma cortina cor de vinho senta-se próximo a mesa e de frente para mim. Ela aparentava ter perto de quarenta anos ou menos - Peço perdão pela bagunça, mas, estar de mudança não é algo que me permite ser organizada. - ela lê mentes?
- Não, o que é isso! Eu nem havia reparado! - digo dando uma risada tentando não parecer culpada por pensar mal do lugar - Mudança? Mas o parque não vai ficar por mais algumas semanas?
- Sim, o parque irá ficar por mais duas semanas. Mas, eu logo estarei de partida.
- Ah, entendo. O comércio anda fraco por esses tempos mesmo. - falo sem saber se usei a palavra certa para o que ela faz aqui.
- Não é por causa disso. - ela da um pequeno e calmo sorriso enquanto acende uma das velas sob a mesa- Digamos que a minha missão por aqui está quase para ser cumprida. - eu prefiro não estender o assunto sobre isso para que a conversa não fique mais estranha ainda - Então, o que te trás à minha tenda?
- Eu... Eu não sei bem o porque entrei aqui. Na verdade, eu esperava que você soubesse. - até porquê aquele olhar para mim foi bastante intimidador - Não é isso que vocês fazem?
- Não é bem assim que funciona. - ela afasta seus longos cabelos negros dos olhos ao mesmo tempo em que suas pulseiras douradas fazem barulho ao bater umas nas outras - A cartomancia não é feita para ver o futuro. Não estamos aqui para dizer o dia da sua morte ou se vai ganhar na loteria amanhã, servimos para orientar. Respeitamos e prezamos muito o livre arbítrio das pessoas, você quem faz suas próprias escolhas e tem que conviver com as consequências delas. O médium que não vê as coisas dessa forma, ou é irresponsável, ou é charlatão.
- Mas vocês não deveriam ter intuições sobre coisas como a morte ou algo do tipo? - pergunto percebendo que estou bastante interessada.
- Sim e não. Não são bem intuições, as vezes são premonições em sonhos ou pequenas visões que temos através das auras que as pessoas emanam. De qualquer forma, falar disso é algo bastante delicado. - ela pega uma carta do baralho e a põe sob a mesa - As pessoas não aceitam bem e se a mensagem não for clara o suficiente podem haver trágicas complicações. - observo bem a carta em que há um desenho de um esqueleto de um homem com uma enorme foice em suas mãos, ele está pisando no que parecem ser pessoas desesperadas afundando em um lago de fogo, sinto um grande arrepio na espinha quando vejo que bem abaixo dele estava escrito: morte.
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Pela Alma de Uma Baleia
ParanormalDepois do trauma de perder sua mãe, Davina Marques acaba indo morar com sua irmã perto de uma praia. Mesmo tendo prometido a si mesma que não queria ter laços com mais ninguém, ela acaba criando uma forte conexão com uma baleia no parque marinho em...