O carro de Paola é bastante espaçoso e exala um enjoativo perfume de cereja. Há dois chaveiros de gatos de pelúcia pendurados no retrovisor, uma vitamina extra-grande de morango no porta-copos e tocava, em volume baixo, algumas músicas de grupos coreanos que eu nunca escutei antes.
Por incrível que pareça o clima está um pouco frio hoje em Arpão Dourado, me fazendo usar roupas da forma que me sinto confortável. As janelas estão abaixadas e o vento entra de maneira agradável fazendo os meus cabelos cor de carvão balançarem de acordo com o ritmo.
Paola está usando um vestido branco colado ao seu corpo com renda nas pontas e uma camisa rosa de botões com mangas curtas. Os botões estão abertos e a parte debaixo amarrada formando um nó. Esse era exatamente o tipo de roupa que eu costumava usar. Mas na tentativa de não me apegar a coisas que me lembrem do passado, decidi que era hora de mudar.
- Obrigada por ter matado aula para ir comigo até lá. - digo tentando quebrar o silêncio. - espero que não tenha perdido nada importante.
- Não precisa agradecer! E sobre a escola eu tenho créditos de sobra, faltar um dia não vai me fazer mal. - ela diminui a velocidade para pararmos num sinal que fechou mais à frente - Mas, confesso que fiquei surpresa quando você me ligou. Depois que você me pediu um tempo sozinha eu não imaginava que seria tanto, então comecei a achar que não nos falaríamos mais.
- Tive umas complicações, mas já estou de boa. - falo tentando ser breve.
- Eu entendo. Todo mundo precisa de um tempo sozinho, para por tudo em ordem. Eu mesma tenho os meus dias de reclusão onde só quero pôr minha máscara de argila e relaxar em um banho de lama. As vezes fazer uma massagem e...
- Não foi desse tipo de reclusão de que eu estava falando. Acho que você nem faz ideia do porquê eu pedi isso, então é inútil perguntar os meus motivos. - me irritei um pouco, eu sei. Mas futilidades como as dela não são bem uma comparação a se fazer com a minha situação.
- Sabe porque eu faço essas coisas quando não estou bem? - ela troca de marcha e segue depois que o sinal abre - Eu faço isso porquê eu acho bem melhor do que deitar na minha cama e chorar quando eu penso que o meu irmãozinho não está mais aqui comigo. E em não ter o abraço dos meus pais pois suas vidas eles dedicaram àquele Hotel, e apesar de morar lá eu mau os vejo. Então, acredite em mim quando eu te digo que entendo muito bem como é!
Estou arrependida de ter falado o que falei. Eu tenho que parar de fazer suposições sobre o que eu acho que as pessoas fazem ou passam. Tenho que aprender a ouvir primeiro e somente depois formar uma opinião, até porque eu não sou a única a ter problemas na vida. E além disso, falei para mim mesma que não tinha problemas em ouvir as pessoas.
- Foi mal. Eu não fazia ideia.
- Tudo bem. Todos temos momentos ruins e cada um sabe o seu jeito de lhe dar com eles. Por isso que decidi respeitar o seu.
Após alguns minutos finalmente chegamos ao tal Parque Marinho e olhando esse imenso portão feito com grades de ferro, penso se realmente foi uma boa ideia ter vindo até aqui. Provavelmente não irei ser contratada, o que acaba sendo uma grande perda de tempo, mas pelo menos é um incentivo a mais para a minha irmã não ter que arriscar perder o emprego para me dar atenção.
No estacionamento, passamos por algumas pessoas que saíam com sacolinhas azuis, que provavelmente são lembrancinhas do local e algumas usavam camisas com a logomarca da cidade. Provavelmente todos ricos ao julgar pela aparência do lugar. Bem na entrada havia uma fila imensa que não se via o fim dela, e enquanto Paola me levava ao começo eu me perguntava se aqui também havia um carimbo no braço para entrada grátis.
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Pela Alma de Uma Baleia
ParanormalDepois do trauma de perder sua mãe, Davina Marques acaba indo morar com sua irmã perto de uma praia. Mesmo tendo prometido a si mesma que não queria ter laços com mais ninguém, ela acaba criando uma forte conexão com uma baleia no parque marinho em...