| E S M E |
Suíça, ano 997 D.C.A MULTIDÃO QUE HAVIA SE REUNIDO EM VOLTA DA VELHA PONTE de pedra agora se dipersava aos poucos, satisfeitos com o que seus olhos há pouco testemunharam. Os guardas reais de Veytaux, aprumados à beira da ponte, puxavam a corda atrelada ao corpo da jovem mulher que acabara de ser afogada nas águas do lago.
Uma pequena onda de aplausos, seguida de uma reza desarmônica, varreu o silêncio amedrontador que se instalou quando o corpo sem vida da garota fora puxado de volta para a superfície. A suposta bruxa passara aproximadamente uma hora sob a água, tempo suficiente para o padre e seus seguidores terem certeza de que todo o mal havia sido lavado para fora de sua alma profana.
Do outro lado do lago Léman, camuflada entre as árvores da floresta, Rowena chorava histericamente ao assistir o corpo da irmã mais nova ser levado pelos cavaleiros que haviam acabado de executá-la. Agatha — a velha mentora que cuidava das irmãs — tentava inutilmente acalmar os nervos de Rowena, mantendo-se firme para consolá-la ao tempo que lutava para esconder o próprio luto dentro de si.
A mentora, mesmo internamente abalada, não encontrou outra alternativa para diminuir a histeria de sua protegida, a não ser cantar a velha canção de ninar que sempre acalmara ambas as garotas em seus dias mais difíceis, também sendo a única música que conheciam. Agatha respirou fundo, tentou ajustar sua voz rouca e cansada para que não falhasse e, lentamente, cantou a chorosa cantiga francesa:
"Eu te conheço, andei com você uma vez em um sonho..."
Rowena e Genevieve haviam nascido em Montreux, um vilarejo vizinho, e assim que a mais nova completou doze anos de idade, sua mãe percebeu que havia algo de muito errado com ambas. Temendo ser acusada de bruxaria, a progenitora levou as garotas à cabana de uma velha senhora que vivia nas redondezas do reino de Veytaux — a qual era famosa entre o povo por vender ervas e chás medicinais —, e para que pudesse viver longe do risco de ser levada à fogueira, lá as deixou.
"[...] Eu conheço você, seu olhar tem um brilho familiar..."
O único motivo pelo qual Agatha aceitou as crianças fora porque era uma sábia Bruxa da Natureza com instintos que só outra bruxa poderia compreender, e no instante em que viu as duas jovens pela primeira vez, pôde sentir a aura de suas almas, e instantaneamente soube que também eram bruxas da natureza.
"[...] E eu sei, é verdade que as visões são raramente o que parecem..."
As irmãs tardaram a se adaptar e esquecer o passado, mas com os anos, conseguiram se habilitar à personalidade fria e insensível da nova mentora, e de certa forma, amoleceram moderadamente seu coração de pedra. Elas viveram por muito tempo na pequena cabana afastada do reino, sobrevivendo com a renda dos produtos naturais de Agatha.
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Melius - Cidade Dos Corvos
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