| L A N A |
12 de agosto de 2017O PERCURSO DE VOLTA PARA CASA FOI TÃO SILENCIOSO QUANTO A NOITE AO NOSSO REDOR. Ana assumiu o volante do jeep, já que Sarah ainda não parecia emocionalmente estável para nos levar de volta em segurança. Eram 20h46 quando chegamos à residência dos Campbell, e o silêncio sufocante de Corbeaux pareceu ter invadido a casa no instante em que a porta foi aberta.
Não avistamos o pai de Sarah em frente à TV, como quando saímos — o que foi um alívio imediato, já que nenhuma de nós gostaria de relatar os acontecimentos traumáticos daquela noite de karaokê. Nos encaminhamos silenciosamente até o quarto de Sarah, e assim que entramos, Ana rapidamente trancou a porta, como numa tentativa de deixar os últimos minutos longe do nosso alcance.
Sarah e eu sentamos sobre a cama, ambas esperando impacientemente por uma explicação plausível sobre tudo o que acontecera alguns minutos atrás. Ela abraçava a si mesma, aparentando apreciar o perfume da jaqueta que Ian lhe emprestara — ou melhor, apreciar o perfume do dono da jaqueta.
— Tudo bem, então... — Ana nos encarava com nervosismo — Por onde devo começar?
Ela estava notavelmente tensa, e apesar do frio, parecia começar a suar.
— Comece nos contando como conheceu Eleanor e os outros — respondi com rispidez.
— É meio complicado.
— Então simplifique.
Enquanto discutíamos, Sarah apenas observou em silêncio. Ela com certeza podia imaginar o quanto eu estava chateada com minha irmã, por aparentemente ter ocultado tantas coisas inimagináveis e que no momento começavam a me causar um desconfortável frio na barriga.
— Fui envolvida depois que completei dezessete anos. Quando viajamos até Nori para visisitar a vovó ano passado, lembra?
Assenti com a cabeça.
— Bom, quando você não estava por perto, a vovó me chamou para conversar, e disse que tinha um presente, mas que eu não poderia contar a ninguém.
— Por favor, não me diga que vocês fazem parte de uma seita ou algo do tipo — Sarah pediu. — Eu não sei se depois dessa noite ainda tenho estrutura psicológica para aguentar uma coisa assim.
— Que presente?
— Uma história.
— Ouch — Sarah murmurou.
— Uma história? — franzi o cenho.
— Sim, o presente era uma história. Uma interessante, estranha e misteriosa história. No começo eu não acreditei, é claro. Achei que ela estivesse ficando louca; até pensei em avisar ao papai, mas então ela me mostrou sua... — Ana parecia não saber como completar a frase.
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Melius - Cidade Dos Corvos
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