CHAPTER XVII: Waves

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| L A N A |
14 de agosto de 2017

AQUELA EXCÊNTRICA NARRATIVA AINDA REVERBERAVA em minha mente quando acordei

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AQUELA EXCÊNTRICA NARRATIVA AINDA REVERBERAVA em minha mente quando acordei. Talvez devesse considerar um privilégio saber a verdadeira história por trás da origem do universo — levando em conta que esse é um dos maiores mistérios para a humanidade —, mas tudo o que eu podia sentir era um insólito frio no estômago, como se estivesse em queda livre sobre uma tenebrosa imensidão de sombras.

Não era um sentimento tão ruim, afinal. Havia algo na sensação de não saber o que me cerca, não ver a cor das coisas como se mostram, mas como realmente são. Havia algo sobre o desconhecido, o silencioso, o frio. Haviam coisas não ditas sobre a escuridão, as quais eu mesma não conseguiria colocar em palavras. Algo aterrorizante e lindo.

Naquele momento, observando através da janela os corvos pairando sobre o infinito cinzento do céu de Corbeaux, eu podia sentir todas as sombras do universo se multiplicando sob minha pele. A sensação vinha e ia em ondas, como normalmente fazia, ao tempo que eu continuava assistindo minha antiga visão do mundo se esvaecer como uma miragem tênue. Momentos etéreos e cinzentos, será que algum dia vão voltar?

Me leve de volta para o sentimento de quando tudo ainda estava para ser descoberto.

Ana e abuela tomavam café da manhã com minha mãe quando cheguei à cozinha. Notar uma grande mala repousando próxima à porta me causou uma leve sensação de ser deixada para trás, como se aquela queda livre fosse só minha.

E de fato, era.

Ana não precisava mais fingir que ainda ia à nossa escola ou que ainda morava em Corbeaux. Agora que tudo fora revelado, estava finalmente livre, e poderia escapar dessa cidade deprimente de uma vez por todas. Ela não era a única a querer desesperadamente fugir de Corbeaux, mas talvez eu fosse a única a desesperadamente querer ficar.

As três me saudaram com um "bom dia" relativamente frio assim que me sentei e larguei a mochila aos pés da cadeira. Ana e Abuela comiam normalmente como em qualquer dia comum, mas minha mãe parecia incomodada pelo elefante branco que ocupava a maior parte daquela cozinha. Um gigantesco elefante branco que todas estavam ignorando, inclusive eu.

— Liguei para Esme ontem à noite — disse Ana, fazendo-me interromper o trajeto da colher de cereal que ia em direção à minha boca.

Senti um pequeno calafrio se espalhar da espinha até a ponta dos dedos, mas não deixei isso ficar evidente em meu rosto. Assim como eu, nossa mãe também ficou imóvel por poucos segundos, claramente temendo o significado daquela frase.

— Que bom.

— Ela vai conversar com você, mi amor abuela esclareceu ternamente. — Vai te explicar algumas coisas que só alguém com tanta vivência como ela pode.

Melius - Cidade Dos CorvosOnde histórias criam vida. Descubra agora