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14 de agosto de 2017HAVIA UMA ANTIGA LENDA LOCAL, sobre uma mulher que perdeu o filho no meio de uma floresta. Era apenas mais uma história de ninar, passada de geração em geração pelos moradores de Corbeaux, a qual Abuela me contara ao menos dez vezes ao longo de minha infância. É engraçado como certas coisas só aparentam ter algum cabimento com o passar do tempo, como se o sabor de certas palavras necessitasse de alguns anos de envelhecimento para ser capaz de agradar o paladar da mente. Como vinho.
A história em si, na verdade, possui duas versões distintas: a versão popular, e a versão de minha abuela. As duas, no entanto, se iniciam da mesma maneira, com uma aldeia de nativos americanos sendo atacada por um grupo de colonizadores europeus. Já era tarde da noite quando os colonizadores armaram a emboscada, e durante o confronto, uma índia chamada Adahy, conseguiu fugir com o filho caçula no colo, adentrando destemidamente na escuridão nebulosa da floresta proibida.
Com o campo de visão iluminado unicamente pelos finos raios lunares que timidamente atravessavam as frestas das copas das imensas árvores que a rodeavam, ela correu corajosamente com a criança em seus braços, ainda incerta sobre a decisão de fugir. Seu coração estava com o filho, mas sua mente permaneceu na aldeia. Adahy sabia que seus deuses e ancestrais veriam como ato de covardia, abandonar seu povo no meio de uma batalha, e temeu dolorosamente que uma maldição caísse sobre si. Ela quis voltar, lutar e morrer ao lado de seu povo, mas o amor pelo filho falou mais alto.
Em um certo momento, o uivar de lobos não muito distante de sua localização os obrigou a atravessar o rio como alternativa desesperada. A correnteza era forte e o frio esmagador pesou como uma chuva de flechas, debilitando seus músculos. A mulher conseguiu chegar à outra margem do rio, mas acabou se separando do filho durante a travessia. A criança sabia nadar muito bem, e por essa razão Adahy não se desesperou, mas após muita procura, examinando cautelosamente toda a borda ao longo do rio, chegou à conclusão de que não conseguiria encontrá-lo naquela escuridão.
Sentindo-se derrotada, Adahy caiu de joelhos, implorando por perdão. Acreditava que aquilo era a punição por ter abandonado seu povo, e chorou envergonhadamente em meio à penumbra fantasmagórica que a cercava. No meio de seus lamentos, Adahy se deparou com uma companhia inesperada. Haviam corvos nos galhos de todas as árvores ao seu redor, observando-a atentamente como em um julgamento silencioso.
Ela não teve tempo de se levantar, quando uma ventania sobrenatural varreu o silêncio da madrugada, empurrando os corvos para além dos galhos com um crocitar sinfônico. Uma figura feita de luz ganhou forma diante dos olhos de Adahy, um corpo humanoide com a cabeça de corvo. A criatura era gigantesca, coberta por penas brancas e uma túnica dourada, e encarou a mulher com uma calma estranhamente casual. Adahy rapidamente se curvou diante do deus misterioso, esperando temerosamente pelas palavras que revelariam o motivo de sua aparição.
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Melius - Cidade Dos Corvos
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