Capítulo 1 — R$ 1,45.
Carlos, após um cansativo dia de trabalho, apreciava o seu lanche, pensando nos deveres domésticos que o esperavam em casa. Algumas vezes por semana, frequentava aquela cafeteria, pedindo sempre o mesmo sanduíche integral, acompanhado de um suco de laranja.
Abstraiu-se dos pensamentos quando um maltrapilho adentrou o local, notou também olhares indiscretos dos outros clientes em direção ao homem aparentemente andarilho, que se aproximou do balcão e começou a contar as poucas moedas que carregava.
Duas mulheres e um rapaz se levantaram da mesa onde estavam e se retiraram do estabelecimento, reclamando do mau cheiro do homem. E ao ver aquela cena, o gerente do local se aproximou estressado, com uma carranca em seu rosto.
Carlos continuou observando e viu o momento que o maltrapilho colocou as moedas sobre o balcão, perguntando ao gerente se aquela quantia era suficiente para comprar um lanche. No entanto, suas poucas moedas foram ignoradas, pois o andarilho foi expulso do local.
Carlos indignou-se, se levantando de onde estava, deixando o que comia pela metade e pedindo a conta. Ao invés do gerente, outro funcionário lhe atendeu, onde pediu a ele que embrulhasse dois outros lanches, também comprando um suco.
O garçom perguntou se Carlos levaria o restante de seu sanduíche em uma embalagem para a viagem, mas ele negou, somente pagando e saindo do estabelecimento com o novo pedido em mãos.
Na calçada, olhou para os dois lados, procurando pelo homem maltrapilho, então o enxergou ao longe, já em outra quadra. Carlos correu até lá, tomando cuidado com as sacolas que segurava, agora entrando em uma rua menos movimentada, seguindo o andarilho.
— Ei! — Carlos chamou-o.
O homem virou-se bruscamente, com os olhos arregalados.
— Isso aqui é pra você... — Esticou o braço, segurando as sacolas.
O homem maltrapilho não respondeu, dando um passo para trás.
— É um lanche, pra você.
Carlos continuou o encarando, vendo o momento que a expressão do mendigo se aliviou. Assim o andarilho se aproximou colocando uma das mãos no bolso; no momento que o lanche foi entregue, Carlos teve a palma mão tomada pelas poucas moedas que o homem lhe deu, em uma forma de agradecimento.
— Não precisa disso. — Deu um sorriso sem graça, tentando devolver.
— Fique. — Foi tudo o que o maltrapilho respondeu.
— Como é seu nome?
— Eu não tenho nome.
— Todos têm um nome...
— Fernando.
— Eu sou Carlos. — Sorriu. — Espero que goste do lanche, Fernando.
Assim Carlos viu-o se sentar em alguns trapos, no único local coberto daquela rua. Ele se encolheu no que parecia ser o seu único abrigo, em frente à porta de um estabelecimento aparentemente abandonado.
Olhou para as próprias mãos antes de guardar as poucas moedas em seu bolso, achando admirável a forma como ele quis agradecer, lhe dando o pouco que tinha, exatamente um real e quarenta e cinco centavos.
Se retirou dali e virou a esquina, pensando na maneira que Fernando devorava o lanche, sentindo seu peito apertar dentro de si. Também não conseguia parar de pensar no quanto aquele homem era jovem para estar nas ruas, provavelmente tinham a mesma idade, ou pouco mais velho, talvez com seus trinta e poucos.
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Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...