Capítulo 14 — Acolhimento.Já eram quase seis da tarde quando saíram da delegacia. E isso fazia Carlos lembrar-se de sua fome, fazendo-o pensar que o artista deveria estar tão faminto quanto ele. E embora tocasse no assunto, Fernando não o respondia direito, então decidiu respeitar a decisão dele de permanecer em silêncio e seguiram completamente calados.
Carlos pensou que antes de seguir para a sua casa, deveria ir ao antigo estabelecimento para ver se os pertences restantes do artista ainda estavam no mesmo local. E com isso, percebeu que os olhos de Fernando estavam atentos para as ruas que passavam, vendo que iam à um caminho familiar. Até o carro ser estacionado e ele poder confirmar que realmente estavam onde ele imaginava.
— Espera aqui, Nando. — O instrutor pediu, desligando o carro. — Eu só vou conferir se suas coisas estão por lá, já volto.
Carlos deixou-o esperando no interior do veículo e voltou depois de poucos minutos. Entrou no carro ofegante e olhou para o artista ao lado.
— Não tem mais nada lá... — Suspirou, passando as mãos na testa. — Pelo menos você está com algumas coisas suas, né?
Fernando olhou para a mochila que estava apoiada em seus pés, sem saber como respondê-lo. Carlos encarou o homem constrangido ao seu lado e deu a partida no carro, voltando a dirigir.
O instrutor se esforçava para não demonstrar seu alívio por tê-lo encontrado, pois sabia que aquilo provavelmente não era o que o outro queria. Não estavam conversando e nem mesmo tocavam no assunto de como tudo aquilo tinha acontecido, então apenas respeitaria o tempo dele para quando ele estivesse disposto a falar.
O carro foi estacionado em sua garagem e Carlos retirou a chave da ignição, olhando para o homem ao seu lado, vendo-o pegar a mochila para sair do veículo consigo. O instrutor pegou a chave de casa e abriu a porta, o convidando para entrar.
Ainda sem jeito, Carlos entrava na casa sendo seguido por ele. E foram para a sala, com Carlos tentando guardar discretamente a carta que o artista tinha lhe dado, tirando-a do sofá.
— Eu vou arrumar o quarto pra você ir dormir e volto pra fazer algo pra gente jantar. — Carlos afirmou, sem encará-lo diretamente. — Fica à vontade.
Fernando não teve a oportunidade de respondê-lo, pois Carlos já o abandonava na sala. Então aproveitou a oportunidade para olhar tudo em volta, vendo como era a casa daquele homem que fazia tanta questão de o ajudar.
Não era uma casa sofisticada e enorme, os móveis eram comuns e todo o espaço tinha apenas mobílias essenciais, sem muitas decorações, com tudo limpo e organizado.
Fernando não sabia se deveria se sentar ou procurá-lo, então ao ver que ele passava no corredor ao lado da sala carregando uma pilha de roupas de cama, foi até ele.
Carlos deixou o que segurava na cama de solteiro que tinha no quarto extra e ajeitou algumas caixas para abrir mais espaço na cômoda ao lado.
— Ah, você vai ter que me desculpar, eu não arrumei esse quarto antes... — Carlos afirmou, sorrindo desengonçado. — Amanhã eu posso arrumar melhor, vou só deixar tudo no jeito pra você descansar por enquanto.
O artista viu que ele voltava a atenção para as arrumações e encostou-se no batente da porta, analisando-o enquanto ele trocava o lençol, preocupado em deixar tudo confortável e bem arrumado.
— Prontinho, tudo no jeito. — O instrutor voltou a dizer, se aproximando do homem na porta. — Também deixei toalhas limpas pra você sobre a cômoda.
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Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...