Capítulo 5 — Frio.
O homem já estava longe demais, Fernando não conseguiria alcançá-lo. Sentou-se de volta no canto da calçada que estava seu caderno, tentando ser positivo, pensando que ao menos ainda tinha seus desenhos.
O artista olhou um bom tempo para uma de suas obras incompletas, sem saber o que pensar, há pouco tempo não tinha nada e ao experimentar um pouco mais de dignidade, ela lhe foi tirada novamente, pensando se tudo aquilo seria algum carma que precisava passar.
Ainda estava inconformado com o que tinha acontecido, sem conseguir parar de pensar em como poderia ter evitado tudo aquilo, até ser tomado a atenção por uma voz feminina.
— Com licença, posso ver um pouco do seu trabalho? — Uma moça indagou gentilmente.
— Ah, claro. — Fernando levantou a cabeça, se deparando com uma mulher de semblante simpático.
Entregou-lhe o caderno, por um momento pensando que ela poderia fugir e levar embora o pouco que ainda tinha, mas ela ali ficou, examinando cada folha e apreciando seus traços por alguns minutos. Isso fez com que Fernando retomasse um pouco de seu ânimo, vendo-a parecer interessada e admirada depois de tanto avaliar seus desenhos.
— Nossa! Você não desenha, você humilha! — Ela falou, sorrindo.
— Gentileza sua. — Fernando sorriu, recebendo o caderno de volta.
— Eu quero um retrato, leva quanto tempo?
— Uma meia hora para fazer o básico.
— Sem problema, quanto você cobra?
— O quanto você sentir que vale. — Afirmou, vendo-a arregalar os olhos.
— É sério? Achei interessante a sua forma de pensar. — Ela elogiou. — Bom, eu vou querer um...
A jovem mulher se ajeitou ao seu lado, sentando-se em um degrau de um estabelecimento. Fernando escolheu uma folha livre e começou cada traço enquanto olhava para a moça, que parecia um tanto envergonhada com o olhar do artista sobre si.
— Você tem covinhas. — Ele afirmou, enquanto desenhava.
— Ah, eu gosto delas... — Ela sorriu, ressaltando ainda mais os dois pequenos furos na bochecha.
Fernando começou o esboço, fazendo os traços da simetria do rosto, antes de tudo. Após realçar a localização dos olhos, nariz e boca, apagou os traços do fundo, começando a contornar o rosto com fios encaracolados, assim como os da mulher.
Os detalhes começaram a aparecer quando os olhos e sobrancelhas ficaram prontos, em seguida o nariz, restando apenas a boca, que para o artista, era o que mais gostava de desenhar, não tinha nada mais significativo do que os lábios delineando um sorriso.
Não demorou muito para dar o formato dos lábios carnudos da mulher negra, o retrato tomava forma, mas ainda não era o suficiente. Logo as maçãs do rosto ressaltaram ainda mais a beleza do desenho, onde Fernando acrescentou as covinhas.
Fazia traços rápidos para fazer um sombreamento simples ao esboço, para dar um pouco mais de profundidade e realismo ao rosto. Então assim que terminou, assinou e mostrou para a mulher, que o encarava, admirada.
— É todo seu. — Destacou a folha, entregando-a. — Tem algo que queira mudar ou melhorar?
— Mais ainda? Meu Deus, isso aqui está ótimo! Ficou ainda melhor do que eu imaginei!
— Fico contente que tenha gostado.
— Eu não consigo parar de olhar! Você tem muito talento, mesmo! — Ela ria bobamente até parar para ler a assinatura. — Fernando, né?
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Indigente [COMPLETA]
Любовные романыEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...