Capítulo 40 — Romantismo.
— E depois desse dia, eu não consegui mais me encontrar com eles. A Ana Paula foi quem mais se preocupou e mandou várias mensagens, ela queria saber se o que aconteceu era verdade... Mas eu não tive coragem de falar nada. — Fernando explicou, mantendo seu olhar estacionado em seu copo de suco. — Eu estava completamente constrangido e não queria nem receber visitas.
— Era o Natan que deveria se envergonhar do que fez. Não você. — Carlos afirmou, entristecido com a história.
— Eu poderia estar com raiva, revoltado... Mas eu sabia que o meu depoimento acabaria com a vida de uma pessoa. Eu pensei que se eu esperasse, as coisas voltariam ao normal e que logo todos fossem se esquecer.
— Já imagino que não foi isso o que rolou. — Eduardo também ponderou, recebendo uma resposta afirmativa do artista.
— E vocês já devem imaginar que essa história se espalhou. No fim, eu estava pervertendo um homem compromissado em uma festa infantil. Conseguem imaginar a proporção que isso tomou? — Fernando contava, lembrando-se de toda a reprovação que sentiu. — No fim, até quem não estava na festa ficou sabendo, tomou proporções tão grandes que conseguiram acabar com toda a imagem que eu tinha construído. Quando ouviam o meu nome, só tinham em mente todo o escândalo e não mais o meu trabalho.
— Mas por que você se manteve em silêncio, cara? — Eduardo quis saber, continuando a comer.
— Em primeiro lugar, meu grupo de amigos podia ser vasto, mas de verdade, eu não confiava em boa parte deles. As minhas amizades eram, basicamente, para ter contatos. — Fernando comeu um pouco antes de voltar a falar. — Então, depois disso, eu tinha quase certeza de que muitos não acreditariam em mim... Preferi ficar quieto.
— Eu não te julgo. Até porque a gente nunca tá preparado de verdade pra esse tipo de situação. — Carlos acrescentou.
— De toda forma, eu não conseguia imaginar um cenário onde as coisas acabariam bem. Até imaginei que algumas pessoas não iriam ao evento, mas não que ninguém iria. — Fernando admitiu, sentindo uma parcela de vergonha que sempre voltava para lhe assombrar. — Me boicotaram de todas as formas possíveis. Foi tudo de mal a pior.
— E o que você pensa disso hoje? Você tem noção do quanto isso foi grave? — Carlos indagou, receoso por saber que era uma questão delicada.
— Foi uma calúnia e eu tenho consciência disso. Eu só não consegui voltar atrás, preferi encarar todas as consequências sozinho já que eu sentia que não tinha mais ninguém lá por mim.
Fernando constatou e continuou a comer com calma. Eduardo voltou a repensar no que tinha ouvido, agora entendendo bem o lado do artista. Conseguiu se distrair de suas próprias questões para focar no que o amigo contava, vendo que cada um precisava enfrentar grandes problemas na vida e tendo fé de que conseguiria superar os seus próprios desafios.
♢♦♢
As louças do almoço já estavam lavadas e Eduardo agora se despedia dos amigos no portão. Quando Carlos e Fernando voltaram para dentro de casa junto a Kid, o instrutor sentou-se no sofá, chamando o artista para o acompanhar, deixando claro que queria conversar.
— Foi bom o Edu ter vindo... Você também percebeu que ele parece um pouco mais feliz? — Ajeitou uma almofada em suas costas.
— Você o conhece melhor do que eu, então não sei te dizer. Mas ele parecia bem.
— Eu acho que sim, pelo menos, eu espero que sim. — Carlos agora olhou para o artista sentando-se ao seu lado. — Mas eu tô mais feliz ainda por ter ouvido um pouquinho mais da sua história...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...