Capítulo 58 — Ciclos.
Carlos não deixou Kid sozinho por um minuto sequer. Estava o observando desde que ministrou a medicação para dor e febre, além do probiótico. O cachorro ainda se recusava a comer, mas ao menos havia se hidratado.
Fernando se preocupou quando percebeu que o namorado não aparecia no quarto para dormir, então quis procurá-lo. O instrutor estava sentado no chão, apenas observando de perto o animal deitado no sofá.
— Ele parece melhor? — O artista quis saber.
— Eu não sei... — Carlos suspirou, olhando para o outro. — Às vezes ele me olha e parece que quer dizer alguma coisa. Como se estivesse pedindo ajuda... Eu não sei se o remédio vai ser suficiente pra caso ele esteja com dor ou até mesmo se for algo pior...
— Ele precisa descansar agora. E você também. — Fernando reforçou. — Você tem as suas primeiras aulas amanhã, seria bom estar bem descansado.
— Eu não quero sair de perto dele...
— Então leva ele para o quarto, coloca a cobertinha dele no nosso tapete. Assim a gente fica perto caso ele precise. — O artista sugeriu, vendo o outro parecer gostar da ideia.
— Tá, eu levo o Kid e você pega as coisinhas dele. Traz o ursinho azul que ele gosta. — Carlos se levantou, se ajeitando para pegar o cão no colo.
Fernando o ajudou a fazer uma cama quentinha para Kid dentro do quarto e logo o cão se deitava onde foi colocado. Carlos se certificou de deixar a água dele por perto e uns biscoitos caso o animal sentisse apetite de madrugada.
Apenas após ver que o bichinho estava descansado, que Carlos finalmente trocou de roupa para dormir. Se arrumou para deitar e foi recebido pelos braços do artista ao se aconchegar ao lado dele.
— Boa noite, amor. — Fernando beijou a testa do instrutor, notando um silêncio incomum da parte do outro.
— Boa noite. — Carlos disse, com seu tom de voz denunciando que estava pensativo. — Nando...
— Fala...
— Será que ele foi envenenado? — O instrutor soltou uma respiração pesada. — Eu não conheço direito os meus vizinhos, mas... Eu sei que tem muita gente ruim nesse mundo.
— Eu não acredito nessa possibilidade e acho que a Dra. dele teria dito caso ele tivesse algum sintoma de envenenamento. — O artista tranquilizou-o, levando seus dedos aos fios longos do namorado.
— Eu não quero ficar parado sem fazer nada. Eu sei que a Dra. disse que a gente precisava observar ele por enquanto, mas eu não queria só esperar. — Voltou a dizer, sentindo o cafuné gostoso que recebia.
— Você ficaria mais tranquilo se logo pela manhã eu levasse ele pra uma consulta e exames? — Falou, percebendo que o outro se mexeu para encará-lo.
— Muito... Você faria isso? — Carlos pediu, sem saber o quanto seus olhos brilhavam mesmo em meio ao escuro do quarto.
— É claro que sim, ele é o nosso filho. — Fernando respondeu, podendo ver o sorriso aliviado do outro.
— Então tá, eu deixo o carro com você amanhã. — Voltou a pousar a cabeça sobre o peito do artista. — Eu nem sei como te agradecer...
— Não precisa. — Voltou a abraçá-lo. — Eu também me preocupo com ele. Quero que ele fique bem logo... Mas agora descanse, amanhã é um dia importante.
♢♦♢
Segunda-feira, 21 de novembro.
Carlos fez uma boa caminhada até o bairro que seria seu novo destino de trabalho. Não era um percurso longo, principalmente se acelerasse um pouco os passos, então logo chegou em sua academia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...