Capítulo 36 — Conquista.
Carlos cruzava as pernas no sofá, tomando a liberdade para se apoiar no ombro do artista. Notou que Fernando estava em silêncio, apenas olhando para suas mãos unidas sobre a almofada, parecendo reflexivo.
— No que você tá pensando? — Carlos quis saber, tendo a atenção dele.
— Nem eu sei te dizer... — Fernando entortou o canto do lábio, sem olhar para o outro deitado em seu ombro. — Às vezes tanta coisa passa ao mesmo tempo na minha cabeça, que no fim, acaba não sendo nada. É confuso, mas faz sentido?
— Faz. Faz sim. — Sorriu, agora também olhando para suas mãos unidas. — A gente já se conhece há quanto tempo? Vai fazer dois meses?
— Acho que sim. Era começo de agosto.
— Verdade. Eu me lembro... Eu nunca mais fui naquela lanchonete, sabia? Mesmo sendo o lugar que eu te conheci, eu não tolerei a forma que te destrataram... — Assumiu, surpreendendo o homem.
— Você não pode culpar eles por não quererem um mendigo incomodando... — Encarou-o em seu ombro.
— Ah, eu posso sim. — Riu baixinho, olhando por cima dos cílios para enxergá-lo sem ter que levantar a cabeça.
— Eu me lembro de cada detalhe. Me lembro de pensar sobre o que um homem como você queria comigo.
— E o que quer dizer com "homem como eu"? — Carlos abriu um sorriso sugestivo como se já soubesse da resposta.
Fernando levou a mão livre para os cabelos dele, tocando os fios dele em um carinho contínuo. Não tinha palavras no mundo que fossem suficientes para descrever o quanto ele era uma completa raridade.
— Alguém bom demais para ser verdade. — Apenas respondeu, ainda acariciando os fios castanhos que estavam compridos o suficiente para serem colocados atrás da orelha.
— Acredite ou não, pensei a mesma coisa de você. — Carlos agora levantava a cabeça, encarando-o de frente.
— Não consigo entender como. Você não tinha medo? Eu podia ser um completo maluco; um serial killer procurado; um fugitivo da prisão... — Fernando brincou, listando as coisas enquanto o outro ria.
— Você é todo certinho! Fui eu que fiz você cometer seu primeiro crime! — Carlos ainda ria, não deixando de admirar a expressão carregada de constrangimento do outro.
O artista apenas desviou o olhar e recuou sua mão que antes estava junto a dele, em um gesto de afastamento. No entanto, isso apenas fez o outro se aproximar mais. Carlos não disse nada, prestando atenção ao vê-lo começar a dizer:
— Eu não entendo o que você viu em mim. — Falou tão baixo que o outro apenas pôde ouvir por estar a centímetros de distância.
— Nando... — Carlos praticamente sussurrou, querendo que ele lhe encarasse. — Eu não quero que pense assim.
Fernando se deparou com os olhos azuis e quis mais do que nunca acreditar neles. Aquela sensação ruim estar voltando não era culpa do outro. Carlos deu o seu melhor desde o primeiro momento que se prontificou a permanecer ao seu lado, independentemente do que acontecesse.
— Me desculpa. — O artista comprimiu o lábio inferior com força. — Eu acho que eu estou com medo de estar tudo mais rápido do que eu possa processar.
— Eu entendo... Eu não facilitei pra você desde que você voltou. Eu forcei a barra, né? — Carlos não queria ouvir aquela resposta, mas sabia que podia ter prejudicado o pouco avanço que tiveram. — Você estava indo embora... Eu te forcei a falar comigo e a entrar aqui. Eu agi por impulso e nem pensei em como você estaria se sentindo...
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Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...