Capítulo 5 📚

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Quando recuperei os meus sentidos, a vontade que tive era de abraçar o garoto á minha frente e me esconder nos braços dele. Exatamente como fiz a onze anos atrás.

Era o meu aniversário de 5 anos. Ao invés de uma festa, meus pais alugaram um barco para passarmos o dia juntos. Eu pirei quando vi aquela coisa enorme. Tomamos café da manhã, cantamos, abri os presentes que eles haviam me dado, eu dancei para eles, era o dia mais perfeito em toda minha curta vida.

Havía proposto a idéia de brincar de esconde-esconde, eles relutaram, mas no fim, como sempre, eu havia os convencido.

- Tá com o papai. - Eu disse dando pulos animada.

- Está bem, está bem. - Ele suspirou antes de tapar os olhos e se virar. - um, dois, três, quatro...

Não consegui ouvir o resto da contagem, mamãe fez um sinal com a mão para que eu a seguisse e correu, dei alguns passos mas resolvi arrumar o meu próprio esconderijo, afinal, eu já tinha cinco anos.

Corri até a poupa do barco, e lembrei de um desenho que eu havia assistido, em que golfinhos pulavam no mar tão azul quanto esse. Curiosa para ver ser esse mar era o mesmo do filme e se aqueles golfinhos também estavam alí, subi em uma barra de ferro e Inclinei o corpo para baixo.

- Ashley, o que está fazendo? Sai daí! - Meu pai diz com a voz alterada.

- Mas papai, eu quero ver os golfinhos. - Tentei me defender.

- Fique paradinha que eu vou te tirar daí.

- Mas e os golfinhos? - Inclinei de novo o corpo.

Um solavanco fez com que eu me desequilibrasse, e quando percebi, já estava na água.

Aquele angústia, aquela busca frustrada por oxigênio, o medo. Eu só consegui bater os braços.

Meus gritos eram contidos por uma força a qual eu não podia lidar. Eu me rebatia, gritava, e tentava buscar inutilmente o ar.

Quando abri os olhos, vi diante de mim os meus pais, minha mãe tapou a boca e chorou com soluços aguçados. Mas eu tinha olhos, para o meu pai, e por vê-lo tão molhado quanto eu, soube que ele era o meu herói, e sem pensar duas vezes, me joguei nos braços dele e chorei.

- Eu nunca mais quero ver os golfinhos.

Ver Deniel ali me trouxe um conforto enorme, eu quero agradesçe-lo, abraçá-lo e mostrar o quanto estava aliviada por ele estar ali naquele exato momento. Mas as palavras que saíram da minha boca foram:

- O-o que você está fazendo aqui?

Ele me olha com uma cara de "nem um obrigado"?

- Salvando a sua vida.

Ainda me acostumando com o ar que a pouco minutos estavam me fazendo falta, abro a boca e minha respiração sai mais alta do que o previsto.

- O-obrigado.

- Não foi nada. - Ele sorriu tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. - Como você foi para no lago?

- Alguém me empurrou.

- O quê?! - Ele franze a testa.

- Eu não pude ver quem foi, quando ia me virar, fui jogada na água. - Completei relatando o que me lembro.

Sinto um vento gelado, e inevitávelmente, meus dentes começam a se bater, o sereno da noite já é exageradamente desconfortável, e com roupas molhadas então.

Deniel levantou e estendeu seu braço para mim.

- Vamos, vou te levar para casa.

- Eu vim com a Emma. - Eu disse pegando em sua mão e me levantando.

- Ela não vai se importar se eu te levar. - É. Não mesmo.

Abraçei o meu corpo, enquanto caminhamos, senti Deniel hesitante com alguma coisa, mas não prestei muito atenção, só queria minha casa.

Quando Emma nos viu molhados, abriu a boca chocada, na cabeça dela passou tudo, menos o fato de eu ter caído na água e Deniel ter salvo minha vida. Quando Deniel disse que me levaria, ela deu um sorrisinho torto e nos incentivou a ir mesmo.

Já no carro, encostei a cabeça na janela sentindo o cansaço tomar minha mente.

- Onde eu estava com a cabeça? - Pensei alto.

- Do que está falando? - Deniel ligeiramente vira o rosto para mim.

- Nada. - Respondi ao perceber que falei demais.

- No que estava pensando quando decidiu ir á fogueira em um lago conhecido como o "lago proibido"?!

- Basicamente. - Concordei direcionando o olhar a ele que, por sua vez, tem olhos atentos na estrada.

- Você é jovem, normal querer curtir.

- Tenho meus métodos de curtição.

- Ler? - Ele ergue uma sobrancelha.

- Por que isso parece tão ruim? - Realmente eu tento entender.

- Não é que é ruim, mas é tedioso ter que ficar imaginando um mundo através de palavras.

- Não é imaginar, é criar. Quando a gente lê, nossa mente trabalha em uma fração de segundos, ela cria os personagens, a voz deles, o cenário, isso é muito melhor do que o próprio filme.

- Está querendo me dizer que um livro é melhor que o filme?

Dei os ombros e me voltei para a janela.

- Como eu disse, é a minha forma de curtição.

O resto do caminho é silêncioso, mas não de uma forma constrangedora. Quando Deniel para o carro em frente à minha casa, tiro o sinto de segurança.

- Eu não sei como agradecer. - Falei sincera.

- Não precisa, qualquer um teria feito o mesmo.

- Mas foi você. Obrigado. - Olhei para ele e mordi o lábio apreensiva.

- Não a de quê. - Ele respondeu com os olhos vidrados nos meus.

Por alguns instantes permanecemos em silêncio e nos olhando, até que percebo que devo estar fazendo papel de ridícula e sacudo a cabeça.

- Bom, tenho que ir. Obrigado mais uma vez. - Saí do carro, mas antes de fechar a porta, me abaixei e dei um sorriso amarelo - Fico te devendo uma.

Ele sorri e liga a chave no contato.

- Vou cobrar.

Soltei o ar que eu nem sabia que estava prendendo quando adentrei  em meu quarto.

Número 1, nunca mais vou ao lago proibido.

Número 2, Deniel é um babaca mas sabe ser um cavalheiro quando quer.

Número 3, eu vou matar a Emma!

Apenas um livroOnde histórias criam vida. Descubra agora