Capítulo 15

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Isaac

Uma dor agonizante se espalha por todo meu corpo – e eu não tenho a mínima ideia de onde ela vem.

Não sei se é porque estou ficando louco, ou porque estou me sentindo mal comigo mesmo ou se é porque Sienna chora como se estivesse morrendo bem na minha frente.

Provavelmente são os três.

Eu nunca vi ninguém chorar do jeito que ela está fazendo agora – e eu nunca me senti tão mal por ver alguém chorar antes. Nem mesmo a minha mãe, porque pelo menos eu sabia que a culpa não era minha.

Mas agora ela é. Toda minha.

E eu odeio Sienna por não conseguir sentir mais raiva dela, mas me odeio ainda mais por ver o que fiz com ela.

Mas que merda eu estou fazendo?

Minha mãe me odiaria agora. Odiaria ver como estou ficando parecido com meu pai. Parece que não tenho como correr – que quanto mais eu tento me afastar dele, mais próximo eu pareço ficar.

Eu preciso dar um jeito nisso. Eu preciso parar com isso de uma vez por todas.

E, pela primeira vez, vou abrir uma exceção para as regras que sempre segui: vou perder para alguém. Para Sienna.

Ela tenta descontar tudo que sente em mim, mas está tão fraca que não tem forças para me machucar do jeito que eu a machuquei. Minha mão começa a ir em direção ao seu cabelo, hipnotizado pela vontade de tocar e arrumar seus fios bagunçados. Mas então, ela murmura algo, soluçando:

– Eu te odeio. Eu te odeio tanto...

Imediatamente recolho minha mão.

Eu não tenho nenhum direito de reconfortá-la. De tocar em seu cabelo, rosto, abraçá-la ou dizer palavras reconfortantes. Não quando eu podia ter evitado tudo.

E por isso, eu também me odeio.

– Sienna, eu... – Tento falar, mas ela finalmente para de tentar me atingir.

Apenas fica parada, fungando em silêncio e de cabeça baixa, os olhos fixos no chão. Está tão perto de mim que seus fios soltos roçam em meu smoking.

– Tudo bem – Sussurra tão baixo que mal consigo escutar. – Eu desisto. Vou largar Titanos e voltar pra casa enquanto ainda posso.

Arregalo os olhos, em choque.

– Eu amo dança, mas sempre soube que não tinha chances – Fala. – Não quando não tenho dinheiro e contatos que nem os alunos daqui. Vou voltar pra minha cidade, viver e morrer lá em uma vida tranquila, como todos fazem.

– Mas... – Tento, mas ela nem me escuta.

– Não sei porque achei que conseguiria – Sienna se afasta de mim e anda até a beira da piscina, olhando fixamente para a água azul neon que ilumina o ambiente abafado. – Depois que meu pai foi preso, tentei de tudo para mostrar que ele não tinha estragado as coisas. Que não tinha me estragado. Mas de alguma forma, isso sempre volta pra me assombrar.

Não entendo. Por que meus olhos ardem? Eu estou com pena dela?

Por que o meu coração dói?

– Eu sei que já desisti, e que não te devo satisfações – Diz ela de costas, ainda olhando para a piscina. – Mas eu devo satisfações para o meu pai. Vou mostrar pra todo mundo que acha que ele é uma pessoa ruim, que isso não é verdade. – Ela respira fundo. – Ele foi preso por homicídio sim. Mas porque estava protegendo a sua família de um louco psicopata. Naquele dia, o marido da minha tia bateu tanto nela que ela sequer conseguia se levantar novamente. E, depois, chegou a minha vez.

Sinto meu corpo amolecer. Não acredito nisso.

– Quando meu pai chegou para me buscar, me escutou gritar e viu Ângela, ele não pôde se segurar. – O corpo de Sienna começa a oscilar para frente e para trás, sem forças. – O cara morreu, Ângela passou um mês no hospital e eu ganhei uma cicatriz nas costas.

Sienna finalmente se vira para me olhar e eu prendo a respiração.

– Então se quiser me julgar porque meu pai está preso por homicídio, tudo bem. Vá em frente. – Uma última lágrima percorre seu rosto. – Mas jamais o julgue por ter feito o que fez. Por ter nos protegido.

E, então, seus olhos se fecham. Sienna desmaia de cansaço e cai para trás, desabando dentro da piscina funda.

Sinto meu coração bater tão rápido que acredito estar próximo de ter um ataque cardíaco. Sem hesitar, eu corro e me atiro na água atrás dela. Nado o mais rápido que consigo e puxo seu corpo delicado e mole contra o meu, que pesa até o fundo da piscina por conta do vestido longo. Subo rapidamente até a superfície agarrado em Sienna como se ela fosse uma parte de mim.

Não posso deixá-la se machucar. Não depois de tudo que aconteceu e do que ela me contou.

Seguro sua cabeça próxima a minha com uma mão enquanto coloco seu corpo em cima da beira com a outra. Tenho a impressão de que se eu parar de segurar e olhar o seu rosto, vou perdê-la.

Sentindo meus olhos queimarem pelo cloro forte da água, saio da piscina e me aproximo de seu corpo imóvel – o medo começando a dominar todos meus sentidos.

– Sienna? – Chamo tocando seu rosto frio, esperando qualquer reação.

Aproximo minha orelha de seu peito para ver se consigo sentir sua respiração ou o seu coração batendo, e uma onda de alívio inunda meu corpo ao notar o movimento suave dos seus suspiros.

Coloco a mão nos meus olhos para limpar a água e percebo que estou chorando. Acho que estou enlouquecendo de verdade.

Eu preciso cuidar dela agora.

Seguro Sienna novamente em meus braços e começo a correr em direção à enfermaria

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