Capítulo 37

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Eu preciso encontrar Isaac Sidorov. E eu vou.

O céu escuro, tomado por relâmpagos incessantes que iluminam e trovejam como se o mundo estivesse se partindo ao meio e como se o espaço inteiro estivesse prestes a cair sobre a minha cabeça, é o menor dos meus problemas.

Não faço ideia de onde Isaac pode ter ido. Onde um garoto rico iria a não ser para casa? Para qualquer lugar menos aqui?

Alguma coisa me diz que ele não foi embora. Eu sinto isso.

O vento mais forte que já senti em toda minha vida luta comigo a cada passo que dou, querendo me impedir de ir em frente enquanto me arrasta para trás ou me empurrando como se eu fosse papel ao andar na sua direção.

Mesmo usando um vestido longo extremamente fino, sapatos de salto alto e correndo o risco de ser atingida por um trovão, não consigo parar de lutar contra tudo e todos os sinais que me dizem para não ir atrás dele.

O universo inteiro parece estar me implorando para parar de seguir em frente, me implorando e afirmando que estou prestes a cometer um erro horrível.

Mas eu não quero mais escutar. Não quero mais deixar ninguém me controlar como um fantoche ou me impedir de fazer as coisas que eu realmente quero fazer.

E definitivamente o universo não vai me impedir de finalmente fazer o que eu quero.

Corro o mais rápido que consigo segurando desajeitadamente o meu longo vestido azul para não tropeçar, sem tempo para sequer sentir frio. Meu cabelo bate como chicote em meu rosto e meus pés doem a cada passo que dou, mas continuo a correr.

Não sei para onde estou indo. Não sei para aonde devo ir.

Mas por algum motivo, uma única palavra consome toda a minha cabeça, meu cérebro e minhas pernas, me guiando para a frente:

Cisne.

"Você parece um cisne" disse Isaac para mim, debaixo de uma árvore em meio a uma chuva torrente, logo antes de começarmos a ser parceiros de dança.

E de alguma forma, isso parece extremamente importante nesse momento.

Nessa cidade, existe um lago infestado deles. Infestado de cisnes brancos e perto da praia – que é um dos lugares mais perigosos a se estar em meio à uma tempestade de trovões raivosos.

Eu definitivamente não o conheço muito bem, mas talvez eu o conheça apenas o suficiente para conseguir ir em sua direção.

E sem nenhum dinheiro, ônibus e sequer carros na rua, a única opção viável que tenho é andar. Eu preciso andar até a praia, que é da porra do outro lado da cidade. Mas eu preciso fazer isso. Eu quero fazer isso.

E então, eu volto a correr.

🌪🌪🌪

Sinto que vou desmaiar. Já passa da meia noite quando finalmente avisto o primeiro cisne. Eu nunca achei que ficaria tão feliz em ver uma ave branca perdida no meio de uma tempestade, mas eu fiquei. Estúpida e ridiculamente feliz.

A cidade inteira está deserta, e a praia não é nada diferente. Um vazio maçante, perturbador e sufocante varre toda a areia e o mar preto infindável, arrancando toda a esperança que eu tinha de achar Isaac em algum lugar por aqui.

A única e toda iluminação que tenho depende de cada trovão que parte o céu em pedaços – que feliz ou infelizmente, são dezenas deles.

Praticamente me arrastando e prestes a desabar, vou até a areia. Meu vestido arrasta no chão, o vento ainda me empurra para trás e acho que meus pés sangram, mas não me importo o suficiente a ponto de ter que parar de olhar em volta e procurar por Isaac.

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