Capítulo 10

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Sinto a música dominar meu corpo enquanto danço. Dessa vez, não estou fazendo nenhuma coreografia elaborada ou treinando passos difíceis. Só estou sentindo a música. Estou deixando toda minha tristeza, raiva e mágoa ir embora, me permitindo ser feliz e livre enquanto danço como se eu fosse uma criança novamente.

Mas então, escuto um barulho vindo do lado de fora da sala de dança. Será que alguém estava me observando? Já está tarde e não tem mais ninguém no setor de dança do Instituo – ou pelo menos não deveria ter.

Paro de dançar, sentindo meu coração pulsar cada vez mais rápido. Engulo em seco e caminho lentamente até a porta, tentando olhar pelo pequeno vidro se alguém está do outro lado.

Apenas silêncio e escuridão, alguns pequenos feixes de luz da lua iluminando o corredor.

Respiro fundo e me tranquilizo. Depois de tanta tortura devo estar ficando paranoica. De qualquer forma, preciso urgente de um descanso.

Pego minhas coisas e desligo a luz da sala, começando a andar pelos corredores escuros em direção ao meu dormitório. E, então, subitamente, sinto meu braço ser puxado e meu corpo ser prensado contra a parede. Deixo minhas coisas caírem no chão e fazerem um estrondo pelo Instituto vazio e escuro quando percebo que quem está cara a cara comigo, é Isaac Sidorov.        

Prendo minha respiração enquanto deslumbrantes olhos azuis encaram os meus intensamente. O maxilar contraído e o olhar ardendo de alguma coisa entre desprezo e raiva, me fazem engolir em seco.

Meu instinto praticamente grita em meus ouvidos para me soltar e sair correndo o mais rápido possível, mas já perdi todo controle do meu corpo em choque.

Isaac me analisa rapidamente dos pés à cabeça com o rosto fechado e as sobrancelhas levemente juntas, tentando me decifrar e intimidar.

Ele não diz nada. Eu não digo nada.

O silêncio é constrangedor, mas sinto que se eu falasse primeiro, perderia.

– Você acha que eu sou idiota? – Ele diz, finalmente.

Arregalo os olhos, surpresa com a pergunta. Eu não sei bem o que estava esperando, mas com certeza não era isso.

– O quê?

Ele dá um suspiro curto de impaciência e apoia seu braço direito na parede logo acima da minha cabeça, aproximando seu corpo e rosto do meu.

Eu não recuo.

Isaac abaixa a cabeça para conseguir olhar melhor para mim.

– Ele te mandou pra cá, não é? – Fala ele.

– Ahm... – Estou tentando entender o que está acontecendo, mas assim que abro a boca para falar, sou interrompida.

– Eu só vou dizer uma vez: saia disso enquanto ainda pode. Não me importo com o que ele te ofereceu e, seja lá o que for, não vale a pena. – Levanto a sobrancelha, incrédula e extremamente confusa.

– Eu não... – Tento novamente, mas ele não me deixa falar.

– Chega – Ele prensa seu outro braço do outro lado da minha cabeça, definitivamente me prendendo contra seu corpo. Sinto os meus pelos se arrepiarem e o ar queimar entre nós. – Khalil realmente acha que mandar uma garotinha bonita com cara de inocente é o suficiente pra me fazer perder o foco?

Isaac me analisa de cima para baixo com sangue nos olhos e a boca molhada. Alguma coisa me diz que não é só ódio que sente quando olha para mim.

– Saia do Instituto – Diz entre dentes e, automaticamente, minhas pernas ficam bambas. – Pegue essa carinha bonita e corra pra longe. Eu não quero ter que te tirar em pedaços daqui.

Cerro o maxilar e os punhos, ódio começando a subir por minha garganta.

– Eu não vou a lugar nenhum – Levanto o queixo, sentindo sua respiração pesada em meu rosto. – Eu não vou largar tudo que eu sempre sonhei porque um riquinho de merda acha que tem o direito de tratar minha vida como um simples incômodo.

Os punhos de Isaac se cerram do lado da minha cabeça e percebo seu corpo ficando cada vez mais agitado e pendendo em minha direção, quase como se estivesse usando toda sua força para manter o controle. Seus olhos azuis se fixam por um segundo em minha boca, mas ele pisca com força para se manter centrado em mim.

– Você é um incômodo – Sussurra ele. – Você está me incomodando mais do que consegue imaginar.

– Que bom.

– Não. – Seus braços se estreitam pela parede e se aproximam ainda mais de minha cabeça, quase tocando meus cabelos. – Você não sabe o que eu faço com quem me incomoda. E você não quer saber.

– Acho que eu já tenho uma ideia. – Provoco sem medo. – Você não vai me bater que nem fez com aquele pobre garoto? Não vai me forçar a entrar em uma briga com você só pra humilhar? – Agora eu me aproximo ainda mais dele, deixando nossas bocas a centímetros de distância. – Você não vai me destruir, Isaac Sidorov?

E, então, sua mão esquerda voa até minha cintura, me segurando com força suficiente para me deixar imóvel sem me machucar. Parece fazer isso para usá-la como um escudo entre nós. Não sei se para me proteger dele ou até para ele se proteger de mim.

Mas Isaac definitivamente a usa para me proibir de me aproximar e tentar controlar seus impulsos.

– Eu não conheço Khalil – Digo olhando no fundo dos seus olhos frios e perturbados. – Eu não quero nada de você ou dos seus amigos. Só quero estudar. Se for me punir por isso porque você é louco pra caralho da cabeça, então vá em frente. Mas não se meta com a minha amiga. Quem bateu em você fui eu, não ela – Engulo meu medo, acrescentando: – e eu posso bater de novo. Não tenho medo de você.

É claro que eu morro de medo dele, mas Isaac não precisa saber disso.

Arranco sua mão da minha cintura, aproveitando seu choque, e abro uma deixa para sair daqui o mais rápido possível. Pego as minhas coisas e praticamente corro para longe de Isaac, sem acreditar no que acabou de acontecer.

No que acabei de fazer.

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