Augusto: Quando vai deixar esse passado de lado? Quando vai me aceitar em sua vida? Me deixar ser o seu pai? Acha que eu não sei de nada, que estou alheio a toda sua dor, mas isso não é verdade Victoria... eu tentei me aproximar, mas sei que não era a hora, não estava pronta para isso... estive aqui esperando que viesse, que pudéssemos sentar e ter uma conversa saudável, mas infelizmente não podemos... não conseguimos... e eu sinto muito por isso Victoria, você não sabe quanto queria ter o poder de refazer tudo, de não ter te transformado nisso que é hoje... mas essa foi a minha vida e eu tive que te ensinar... não queria vê-la passar por nada... tudo foi culpa minha, eu aceito isso e honestamente eu já não sei mais o que fazer... parece que estamos presos a tudo, nunca seremos pai e filha... seremos dois estranhos com laços sanguíneos - falei sofrido.
Victoria: Ele me persegue em cada segundo do dia... eu me transformei nisso por você... para ter um pouco da sua atenção papai... eu só queria ter o meu pai... eu precisei tanto de você... do seu colo... passei tantas noites com medo... sozinha... passei anos em minha vida procurando me sentir amada por alguém... cuidada... eu só precisava de um pouquinho pai... não precisava estar grudado em mim 24 horas... eu só queria não me sentir só... sempre te admirei tanto... para mim não é nenhum estranho... eu sei tudo sobre você pai... de trás para frente... o que mais gosta de comer... o seu gosto musical...- solucei - até mesmo sei da forma que gosta suas coisas organizadas... sempre estive presente, mesmo de longe... em todos os seus aniversário fui até a fazenda e velei seu sono... cuidei de você quando estava doente...- o olhava chorando - mas você nunca percebeu... eu te amo mais que tudo pai... mas que a mim mesma... mas toda a dor está aqui...- bati em meu peito - me destrói e consome dia após dia... e eu não sei como parar ela... não consigo.
Augusto: Eu sou o seu mau Victoria...- falei cabisbaixo - eu me recuso a te fazer sofrer dessa forma... eu... eu...- senti as lágrimas queimarem em meus olhos - eu sempre soube Victoria... sempre soube que esteve lá... cansei de ir até a cidade escondido para te ver, nem que fosse de longe... pode até parecer que fui relapso... mas não foi... eu te amo Victoria... te amei muito antes de você nascer... de ser concebida... tudo mudou de repente, os planos que eu tinha com a sua mãe mudaram... tudo que desejei para a nossa família foi por água abaixo... eu tentei... lutei... mas não tive como... sempre tinha algo para fazer, resolver... cansei de chegar em casa e você estar dormindo, mas mesmo assim eu me sentei no chão ao lado da sua cama e fiquei lá, cuidando de você... lendo sua historinha favorita... a bela e a fera... você sempre foi a minha bela e eu sei que sempre fui a sua fera... pode até parecer idiota da minha parte, mas eu sei que não era... que mesmo dormindo você ouvia tudo que eu te falava, ouvia a canção favorita da sua mãe - sorri em meio as lágrimas - mas não importa o que eu faça, nada vai mudar... eu nunca te contei nada porque não queria que se sentisse obrigada a ter um relacionamento comigo... queria que tudo fosse espontâneo, mas não foi... você cresceu e foi viver a sua vida, mas eu parei no tempo e tudo me sufocou... foi a Liz quem me resgatou... quem me tirou desse poço sem fundo... o sonho de todo pai é ter uma boa relação com a filha... ser bons amigos... mas isso nós nunca tivemos... hoje alguém chegou em sua vida e fez o que eu nunca pude... alguém ocupou um lugar que eu jamais serei capaz de o fazer... me perdoe...- sussurrei chorando - me perdoe por toda dor que te causei... que te causo... eu quero que seja feliz, mesmo que seja longe de mim.
O olhei e chorei ainda mais escutando cada palavra que saia de sua boca... mds...
Victoria: Deveria ter me dito... ter me deixado sentir pai... sabe o que fez?... ninguém nunca vai ocupar o lugar que é seu... mesmo que ele permaneça vazio... - disse me encolhendo mais - o seu trabalho o tirou de mim... me roubou você... eu não vou permitir que essa vida faça o mesmo com meus filhos... vou deixar tudo isso... vou me tratar... vou ser alguém que eu deveria ter sido desde sempre... mas que não fui por crueldade do destino... espero que ela te faça feliz... que faça o que eu não fiz.
Augusto: Dito? Não Victoria... eu fiz o que tinha que fazer para te proteger e mesmo que não entenda foi o melhor que fiz... tive uma escolha Victoria, ser a caça ou ser o caçador... pensei na minha família... mas você está certa... tem que sair dessa vida, deixar tudo para trás e segui em frente...- sequei o meu rosto e me levantei - ela me faz feliz... mas não da forma que desejo... apesar de tudo eu quero que seja muito feliz.
Victoria: Não, você não quer... porque se quisesse me pegaria em seus braços e diria que nunca vai me deixar e que tudo vai se resolver...- gritei chorando e levantei dali, abri a porta da frente, saí dali e olhei ao redor... era tudo confuso, mas eu só queria me afastar de tudo e de todos, mesmo que por um tempo... entrei no meio daquelas árvores e andei ali chorando... sentia tudo em mim me enlouquecer... tudo estava vindo em minha cabeça, principalmente os tiros que disparei tantas vezes após engatilhar minha arma.
Vi ela sair daquela forma e fui ao seu encontro, não queria lhe deixar sozinha, ainda mais daquela forma.
Augusto: Victoria... minha filha... vem aqui... vamos conversar - chamava ela.
Victoria: Não...- solucei me encostando em uma grande árvore que tinha alí - estou cansada... eu não aguento mais... não posso mais...
Augusto: E eu estou aqui, sempre estarei para você... com você...- me aproximei com calma lhe abraçando - me permita ser o seu pai meu amor... o pai que nunca presenciou, mas que sempre esteve ao seu lado, ainda que distante.
Victoria: Aaaaaah...- soltei um grito de dor ao sentir ele me abraçar e senti meu corpo ir devagar ao chão, junto ao dele - pai...- deitei minha cabeça em seu ombro - por favor não me abandonar de novo... não me faz sofrer mais... eu te imploro... não me dê esperanças e depois as tire.
Augusto: Não meu amor, não mais... eu nunca te abandonei Victoria, sempre estive aqui... só que distante... eu não vou te abandonar... vamos sair dessa vida... vamos para bem longe... eu não suporto mais te fazer sofrer, não quero mais isso - suspirei lhe apertando em meus braços - não sou mais aquele homem, tudo mudou minha filha... vamos fazer tudo diferente, ainda à tempo para isso... só basta querermos.
Victoria: Me apromete?...- o olhei sofrida - me promete pai...- me agarrei a ele soluçando.
Augusto: Shiiiii... não chora meu amor... estou aqui minha filha... eu te prometo... não vou te deixar, nunca mais...- beijei os seus cabelos com amor... como me doía ver o sofrimento que havia causado a minha filha, ver o que eu havia provocado em sua vida, mas isso iria mudar.
Victoria: Te amo paizinho...- disse baixinho me agarrando bem a ele e fechei meus olhos, deitando a cabeça em seu peito, deixando toda aquela dor sair.
Augusto: Te amo muito minha bella - sussurrei beijando os seus cabelos macios e cheirosos.
Depois de um tempo com sua ajuda levantei e entramos. Ele ficou cuidando de mim por um bom tempo ali na sala, até que vimos Dionísio descer. Conversamos e Dionísio oficializou o pedido de casamento perante o meu pai. As semanas que se seguiram foram meio alvoroçadas. Tinha tanta coisa para organizar e fazer, que pensei que iria enlouquecer. Com o passar dos dias eu até que fui me acostumando com a Elisa, percebia que ela realmente fazia bem ao meu pai e isso era o que me importava.
Dionísio: Vamos voltar quando? Estive pensando em sair da agência Victoria - suspirei acariciando os seus cabelos - precisamos sumir meu amor, eu não quero que nada te aconteça.
Victoria: Quando você quiser meu amor... é... precisamos... o mais rápido possível... que algo me aconteça?... por que diz isso? - lhe olhei.
Dionísio: Tenho medo de que mais alguém possa entregar aquele dossiê na agência, não descobrimos quem fez isso... pode ter sido o Gabriel, mas também pode ser outra pessoa, não sabemos... tão pouco podemos facilitar isso.
Victoria: Por favor não fala o nome dele amor...- disse baixo - mas você está certo... vamos embora para longe... para bem longe.
Dionísio: Não mais - beijei os seus cabelos - acha que leva quanto tempo para fazermos isso?
Victoria: Se nos organizarmos não mais que duas ou três semanas amor... isso se adiantarmos o casamento.
Dionísio: Eu quero muito me casar com você... acha que em duas semanas conseguimos isso? - a olhei - podemos sumir na lua de mel... um acidente e tudo acaba.
Continua...
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😏 Cómplices 😈 - Victoria y Dionisio (Concluído)
AcakNão sou um anjo, ninguém me ensinou a voar. Eu não sou perfeita, sigo aprendendo a caminhar. É impossível tocar o céu sem tocar o fundo. Aprendi que o bom não é para sempre, o ruim tão pouco. Despertei, abracei os meus demônios. Lhes aceitar foi dur...