DESTINY

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E durante toda aula, ela ficou do meu lado. Puxando papo enquanto os professores davam aula e as boas vindas ao último ano de faculdade, me observando, contando coisas sobre a turma e a faculdade pra mim durante o intervalo. E, se eu posso confessar, foi ótimo. Realmente foi. Eu precisava de alguém do meu lado. Um alguém nesse caso foi uma total estranha meio barbiezinha e maritaca, mas que no fundo me divertia.

Eu não falei muito e ela entendeu, me respeitou muito. Quando a aula terminou, comecei a guardar minhas coisas e a maioria da sala, literalmente, a maioria da sala, veio atrás dela.

-Vem any, vamo - Uma garota com um cabelo preto lindo chamou a Anahí.

-Quem é a gata do seu lado? -Um menino com cabelo pintado de rosa perguntou.

-Christian, pessoal, essa é a Dulce. Dulce, esses são meus amigossss! -Na hora as dez pessoas na minha frente começam a falar oi todas juntas e eu sorrio brevemente, já indo embora.

-Ei, Dulce! -Anahí começa a ir atrás de mim -May, podem ir indo, encontro com vocês depois.

Eu respiro fundo.

-Anahí, preciso mesmo ir. Obrigada por ter me feito companhia hoje.

-Calma lá, dona Dulce. Vou te passar meu número. Não quer ir almoçar com a gente não? -Ela pergunta anotando o número num papelzinho.

-Ah não, obrigada. -Eu não sei por que ela tá insistindo tanto comigo, sinceramente. Eu não fui legal, divertida, engraçada, nem conversei.

-Tudo bem. Me chama. Se não vou ficar enchendo seu saco até o final da facul. Beijinhos, até amanhã candy! -Ela quase me abraçou, mas no final desistiu. Talvez ela tenha percebido minha cara, ou lembrado da situação da mão. De qualquer jeito, agradeci aos céus.
Candy, já tenho até apelido, é doida mesmo. Soltei uma gargalhada sozinha no meio do corredor. Vou precisar conversar muito com minha terapeuta sobre o que aconteceu hoje.

Mais tarde no mesmo dia...

-E foi basicamente isso. -Suspirei.

-Agora, seja sincera, como você está se sentindo? Depois de toda essa aproximação dessa Anahí? -Dana, minha psicóloga, perguntou.

-Não sei. Foi rápido demais. Você sabe, foi um ano de reclusão e sem conseguir conversar com ninguém além de você e dos meus pais. Foi tanto esforço pra tentar ser simpática hoje. Sorrir. Manter um diálogo de um minuto. -Falo com lágrimas nos olhos - Mas ao mesmo tempo, eu fiquei feliz. De verdade. Ela é tão engraçada e divertida. Me passou um pouco dessa energia. Ela até me fez rir. Mesmo que ela não tenha visto. Você se lembra da última vez que eu ri? E ter alguém assim, claro que ela não é minha amiga, mas perceber que alguém quer ser minha amiga mesmo com meu comportamento nada normal é... não sei.

-Dulce, eu estou tão orgulhosa de você. -Comecei a chorar igual uma louca quando ela falou isso- Eu sei o quanto foi difícil, mas mesmo assim, você não fugiu. Enfrentou a situação até o final. Agora que você lembrou o quão bom é ter conexões, vai ficando cada vez mais fácil. Te prometo. Afinal de contas, você estabelece seus limites, como você estabeleceu com ela hoje. E as pessoas vão te respeitar. Você estar a aberta a isso é primordial. E agora a pergunta que não quer calar: quando a senhorita vai mandar mensagem pra Anahí?

-Não sei, não sei, aí meu Deus, eu quero mas não quero, não sei - Começo a ficar meio tonta.

-Dulce, vamos juntas. -Inspirei profundamente- Um- Lembrei do momento que minha mãe dançou comigo vestida de Cinderella no meu aniversário de 4 anos- Dois- Meu pai tirando fotos minhas enquanto eu me apresentava- Três - Primeira vez que fui na montanha russa - Quatro - Quando tomei meu primeiro gole de cerveja - Cinco - Fazendo uma das coisas que eu mais amo no mundo: cantar. Minha psicóloga continuou a contar até dez, mas só consegui ir até o cinco.

-Vou mandar mensagem pra ela agora.

-Essa é minha garota! -Dana ficou genuinamente feliz.

Resolvi mandar um: "Dulce aqui".

-Eu realmente fiz isso. -Olhei para Dana.

-É, você realmente fez. -Ela sorriu.

Essa é a verdadeira Dulce María.