-Cap. 3 (parte 2)-

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-O Justin... O nosso Alfa foi morto!

A notícia dói e faz o meu estômago revirar-se. Não. Justin sempre foi muito cuidadoso com os rivais, ele gostava de encher a minha paciência até ao limite mas eu adorava-o, ele era o meu Alfa. O meu Alfa, morto.

A lei dos lobisomens tem uma regra muito específica: aquele que matar o Alfa toma a sua posição.

Levanto-me e luto contra as lágrimas, mas não consigo.

-Eu vou... Eu vou só... Podem vir comigo?

-Eu iria de qualquer forma -diz Caleb.

-Adam, vem, não tens escolha. É uma ordem! - «Não tens escolha» faz-me lembrar Justin.

-Tudo bem.

Transformamo-nos em lobos e andamos até à clareira, onde eles deixam o corpo de um membro quando este morre durante um dia para que todos possam "prestar as suas condolências".

Ele está na forma de lobo, facilita as coisas e ao mesmo tempo complica. Os lobos choram? Não, mas se chorassem, muitos estavam desfeitos em lágrimas neste momento.

Mordisco a sua orelha e esfrego a minha cabeça no seu focinho, não. Emito um som que parece um choro. Justin tinha vinte e seis anos, segundo o que me disseram, foi o Alfa mais novo da história. O único Alfa que eu tive (de que me lembro) até hoje.

Sento-me sobre as patas traseiras e uivo, todos fazem o mesmo.

Volto para junto dos meus amigos e fico ao lado de Megan enquanto os outros prestam as suas condolências. Caleb roça o focinho em mim quando passa. Todos podem ter ficado tristes, mas poucos ficaram mais tristes doque eu.

Não aguento a pressão e corro até ao rio. Não me dispo e entro na água. Meia-hora depois, Adam aparece na sua forma de lobo. Pelo cinzento com umas manchas acastanhadas no focinho e na pata traseira esquerda.

-O que é que fazes aqui? -passo a mão pelos meus cabelos negros- Não tens mais ninguém para ir fritar a paciência? Eu estou de luto, não vês?

Nado até à borda e apoio a cabeça nos braços. Adam encosta o focinho ao meu nariz, eu estendo os braços à volta do seu pescoço peludo e abraço-o.

-O Justin foi sempre o Alfa enquanto eu cá estive -sussurro-Quer dizer, eu tinha dois anos quando ele passou a ser um Alfa, mas não me lembro do primeiro. 

Adam emite o mesmo som identico a um choro que eu fiz ao ver Justin. Eu queria zangar-me com ele, afastá-lo o mais possível de mim, mas não consigo.

Adam afasta-se e deita-se debaixo de uma árvore. Saio da água e deito-me como se ele fosse uma almofada. Muitas pessoas odeiam o cheiro a cão, mas eu adoro.  Deito a cabeça no seu pescoço e inspiro fundo.

-Como é que me suportas? -fico sentada na relva- Eu sou péssima contigo. Dou-te ordens e resmungo e tu aguentas-me na mesma. Como?

Ele transforma-se.

-Primeiro, porque sou teu aprendiz e sou obrigado. Segundo, porque eu compreendo que as pessoas possam ter razões para não serem as mais simpáticas do mundo.

-Certo... -digo, a voz falha-me- Como é que vieste aqui parar?

-Eu fugi de casa. Digamos que a minha família não aceitou muito bem o facto de eu ser...

-Lobisomem.

Ele assente.

-Vamos treinar -levanto-me- Eu não aguento ficar aqui parada.

-Ok.

-Entre lobisomens vale tudo, até morte, como é obvio, eu não te vou matar. Presta atenção aos meus movimentos e tenta travá-los. Quando conseguires travá-los, ataca-me.

-Tens a certeza...?

-Ouve, eu faço isto, praticamente, desde que nasci. Não te preocupes comigo, fica inteiro.

Transformamo-nos e colidimos, eu mordo-o no pescoço e depois no ombro. Ele gane e depois atira-me ao chão, dor atravessa a minha espinha. Rodo para o lado e fico de pé, vou contra ele, atiro-o contra uma árvore e espero que se recomponha.

Continuamos nisto o dia todo.

Eu sou... um LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora