Quem sabe um dia

17- De volta

   Em Londres, Wuxian foi estudar em um colégio muito rigoroso, porém ia e voltava para casa todos os dias. Sanren alugou uma casa próxima ao colégio. E logo conseguiu abrir uma filial de sua empresa de arquitetura... Estava fazendo ótimos serviços e conseguindo vários clientes bons. Changze não retornou para Londres, como sua mãe disse que faria. Ele ligava sempre que podia para falar com eles, aos poucos Xian notou que o relacionamento dos pais, já não era o mesmo... Xian tinha se conformado, em termos, com o fim de seu namoro com Wangji, mas quando lia seu nome nas mídias, ou qualquer notícia relacionada a corridas de motos, continuava sentindo-se inundado pelo desejo de estar ao seu lado, geralmente, desmanchava-se em lágrimas nessas ocasiões.
   Para afastar esses pensamentos ligados à Wangji. Transformou-se em um aluno exageradamente dedicado aos estudos, fazendo todos os cursos possíveis.
   Quando o filho de Yanli nasceu, Jin Ling, no dia 26 de abril, ela ligou para a mãe e o irmão, muito feliz, desejando que eles estivessem com ela. Mas enfim era quase impossível devido aos estudos de Xian, e a nova empresa de Sanren, que não poderia deixar nas mãos de funcionários ainda novos.
   Wuxian manteve contato com todos os seus amigos, e quando ligava para Xichen, evitava tocar no nome do irmão dele, tinha medo de saber que ele poderia estar feliz com outra pessoa. Ah Qing e Meizuo se casaram em Junho, dia 29, como era de se esperar, Xian não pode ir. E logo em seguida, no dia 24 de agosto, Mingjue e Wen  Qing também se casaram. Wuxian ficou muito feliz pelos amigos, quando viu as fotos postadas. Gostaria muito de estar junto deles. As vezes Xichen fazia ligações de vídeo, para que Yuan e Xian pudessem se ver, e matar as saudades.
   Quando Wuxian completou 18 anos, dia 11 de novembro, fez uma festa, convidando só os colegas mais chegados do colégio e cursos, e alguns amigos de sua mãe. De seus amigos da China, recebeu mensagens e ligações. Seu pai ligou dizendo que não teve como ir até lá, por estar muito ocupado com seu trabalho.
   - Mãe... O quê está acontecendo, entre a senhora e o pai? - Xian perguntou, depois dos convidados irem embora - Ele não veio morar com a gente, e só esteve aqui duas vezes, além de que, eu sei que ele não dormiu no seu quarto.
   Sanren demorou um pouco - Nosso casamento acabou...
   - Assim, sem mais nem menos? Ele tem outra pessoa?
   - Não tenho certeza - Sanren falou sincera - Mas provavelmente deve ter.
   - Então, Isso deve ter ajudado na decisão de nós termos vindo para cá, como eu imaginei, não era só pelo fato de eu ter me envolvido com Lan Zhan - refletiu Xian.
   - Bom, a princípio eu acredito que não, mas pode ter se tornado útil para ele.
   - Você não participou da decisão de me fazer estudar aqui?
   - Em partes, porque eu sempre quis que você fizesse a faculdade aqui na Inglaterra, teria muito mais chances no futuro, mas acabou tudo acontecendo rápido demais.
   - E o que pretende fazer a respeito do meu pai?
   - Assinar os papéis do divórcio, e viver minha vida - Sanren falou sem nenhuma tristeza.
   - Vocês pareciam se dar tão bem - falou entristecido, não gostava da ideia, de ter os pais separados.
    - Nós nos entendíamos bem, mas o amor acabou com o tempo, mantinhamos bem as aparências.
   - Me enganaram direitinho - Xian olhou-a - Pensava que vocês eram apaixonados.
   - E eramos, mas tudo se acabou...
   - Assim como acabou o interesse de Lan Zhan por mim - falou com voz embargada.
   - Filho... Você ainda tem muito que viver... Vai ser muito feliz.
   - E a senhora também - Xian forçou um sorriso.
   Wuxian foi dormir, e pensou que só seria realmente feliz, se fosse ao lado de Wangji. Mesmo depois de conhecer Gary, um colega do curso de desenho. Eles saiam juntos nos finais de semana, dando-lhe pouco tempo para pensar em Wangji. Se bem que Gary não tentou, em ocasião alguma, ser mais do que apenas amigo para Xian, e ele sentia-se grato por isso.
   No último sábado de novembro, Sanren marcou de sair com uns amigos, e para não ficar sozinho, Wuxian aceitou o convite de Gary para irem dançar. Gary buscou-o de carro, na hora marcada.
   - Então, você vai mesmo passar as férias na China?  - Gary perguntou.
   - Sim, estou com muita saudade...
   - Você tem muitos amigos lá?
   - Tenho, inclusive vou ser padrinho, de um amigo, que vai se casar em janeiro - Xian se referia a Xichen e Jiang - E também tem meu tio que vai se casar mês que vem.
   - Nossa! Pelo jeito você está com a agenda cheia, para essas férias.
   - Sim...
   - Gostaria de conhecer a China - Gary falou insinuante.
   Wuxian demorou um pouco, para entender a indireta - Se quiser pode ir, comigo e minha mãe - ele convidou.
   - Sério?
   - Sério, seria ótimo - Xian falou sincero.
   - Se não for problema para você.
   - Com certeza, não será.
   - Você não tem namorado, lá? - Gary perguntou interessado. Xian demorou para responder... E Gary percebeu a mudança na expressão dele - Não gostou da pergunta? Não precisa responder.
   - Bom... - Xian respirou fundo - Tive, mas nada muito sério - ele mentiu.
   Então eles foram dançar, as músicas agitadas afastaram momentaneamente os seus pensamentos sobre Wangji, e num intervalo, Xian encostou-se no peito de Gary, em um dos cantos do salão.
   - Você dança bem - disse Xian, cansado.
   - Você também - replicou Gary, enquanto o ômega tentava manter certa distância entre ele
   De repente, o alfa abaixou a cabeça e Xian sentiu sua boca junto a seu pescoço, o corpo contra o seu.
   - Oh, Gary! - Xian afastou-se, respirando mais depressa.
   - O quê foi? Eu agora estou na sua lista negra? - murmurou ele.
   - Não, é lógico que não - respondeu Xian, sem saber ao certo como se portar naquela situação. De alguma forma, ele nunca pensara naquela possibilidade, apesar de saber que Gary o olhava ultimamente com olhos que não revelavam apenas uma grande e sincera amizade. Apesar de tudo, esperava sempre que ele não nutrisse os seus sentimentos. Eles se divertiam muito quando estavam juntos, e sempre encontravam motivos para boas risadas, mas Wuxian não queria que o relacionamento fosse além disso. Xian sabia que nunca mais seria capaz de amar alguém como amava Wangji. Não importava o que pudesse acontecer, Gary nunca poderia ser para ele qualquer coisa além de uma diversão.
   - Tenho certeza de que você suspeitava dos meus sentimentos por você, não é? - perguntou ele, observando atentamente o rosto de Xian na semi-escuridão do lugar onde estavam.
   - Não, Sinto muito, mas eu não tinha a mínima ideia - respondeu ele, inquieto - Gary, o que posso dizer...
   - Por favor, não diga nada. Esqueça o que aconteceu. Eu é que tinha esperanças demais em relação a você, eu esperava que você pudesse corresponder aos meus sentimentos.
   - Então, isto significa que nós não nos veremos mais?
   - Não. Pelo menos, eu espero que não signifique isso - protestou Gary, segurando-o pelos ombros - Xian eu estou apaixonado por você. Eu nunca me senti assim antes, eu preciso continuar a vê-lo.
   Wuxian hesitou um pouco e depois se aproximou mais dele - Beije-me, Gary. Você não quer isso?
   Gary não esperou que o convite fosse repetido mais uma vez, abaixou sua cabeça em direção ao ômega. Sua boca era quente, suave e muito agradável, mas quando se beijaram, Xian ficou imaginando estar nos braços de Wangji e sua reação foi de tal maneira que Gary ficou ainda mais entusiasmado. O beijo tornou-se mais apaixonado, que Xian deu um passo atrás, soltando uma exclamação contrariada e esfregando os lábios com a costa da mão. Era pavoroso usar Gary daquela maneira.
   Mais tarde, no carro, quando já de volta em frente ao edifício, onde morava, Wuxian, meio indeciso disse - Você tem realmente certeza de  que quer continuar sendo meu amigo?
   - É lógico que tenho certeza disso - respondeu ele, rapidamente - Quem sabe, algum dia, você poderá acordar e descobrir que também está apaixonado por mim. Só posso torcer para que isto aconteça e quero estar por perto quando acontecer. Afinal de contas, eu devo ser pelo menos um pouco interessante.
   - É claro, você é muito bonito e interessante.
   - Ótimo, então estamos combinados, não é? - disse sorrindo.
  
   Nas semanas seguintes, Xian ficou muito ocupado com as provas finais, se bem que ele não precisava muito de notas para passar, pois ele era um dos melhores alunos.
   Num domingo, Xian tentou ligar para o celular de Xichen, mas só dava na caixa postal, e precisava muito falar sobre as roupas que usariam no casamento do amigo. Então tentou o telefone fixo.
   - Alô, posso falar com Xichen - Xian falou assim que atenderam.
   Após um breve silêncio, uma voz máscula e rouca perguntou calmamente - Wei Ying, é você que está falando?
   Wuxian sentiu suas pernas amolecerem - Lan Zhan - disse ele, com um fio de voz. Recuperou-se logo, porém - Xichen está?
   - Ele saiu com Jiang - respondeu, ainda com voz calma e segura.
   - E o Yuan, está aí?
   - Não... Saiu com eles.
   - Bom... Então eu ligo outra hora.
   Fez-se um silêncio e depois Wangji perguntou - E como você está?
   - Estou bem, obrigado - respondeu, forçando sua voz a assumir um tom distante e desinteressado - E você? Muito ocupado?
   - Bastante, estou ficando mais tempo em Los Angeles, por causa das corridas. E você, estudando muito?
   - Muito - Xian respondeu no mesmo tom de voz.
   - Diga-me - perguntou, e de repente havia muita tensão em sua voz - Você está saindo com alguém?
   Wuxian ficou espantado. Como é que ele tinha coragem de lhe fazer uma pergunta daquelas? Afinal que interesse poderia ter, além de mera curiosidade? - Eu acho que isto não lhe diz o mínimo respeito - exclamou furioso.
   - Não fique irritado - disse Wangji, naturalmente - Se não quiser falar, não fale.
   - Bem, se é o que você quer saber, eu conheci um cara muito interessante - respondeu friamente querendo magoa-lo da mesma forma como ele o tinha magoado.
   Wuxian ouviu Wangji respirar fundo, em seguida ele falou - Você me esqueceu rápido.
   - Eu fiz o que você me ordenou - retrucou Xian, chegando a sentir raiva de si mesmo por ser tão rude. O que será que Wangji estaria pensando dele nesse instante? Gostaria de poder ver o rosto dele, só para ver sua reação. De repente, o telefone ficou mudo e ele percebeu que o outro desligara o aparelho. Com um suspiro colocou o celular ao seu lado no sofá, e começou a tremer sem conseguir se controlar...