capitulo 7

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Depois do observatório, voltamos para casa. No caminho de volta Juliette me disse que esse foi um dia cheio de primeiras vezes. Primeira vez que foi lá. Que viu a chuva de meteoros. Que dormiu fora. Que me abraçou.

   Enquanto dirigia, pensei em como vai ser na minha casa, esse é um passo e tanto nessa relação que estamos criando.

   Minha casa é grande. A parte da sala, copa e cozinha é dividida por balcões revestidos por pastilha com mármore em cima. Não tem muita decoração. Sempre presei pela simplicidade.

   Juliette entra olhando atentamente para tudo, seus olhos passeiam por tudo e param mais curiosos ainda sobre o aquário no canto da sala.

  - Que legal! - Fala rindo bobamente para os cinco peixinhos que estão ali.

   - Se eu te disser os nomes deles, você vai rir.

   - Qual é? Gostei desse laranjinha... - Tentou chamar a atenção deles.

   - Um, dois, três, quatro e cinco. - Encosto ao seu lado, apontando para cada um.

   - Sarah, eu sei contar! - Revira os olhos e eu dou risada.

   - É o nome deles. Aquele ali é o cinco. - Aponto para um que está próximo ao vidro.

   - Sério? Que falta de criatividade. Quem é aquele? - Aponta para uma foto na parede, eu estava com Rodolffo na Europa. E isso surge como um estalo em minha mente, "oh, Rodolffo", eu penso menos nele. Aliás, com Juliette não consigo pensar em qualquer outra coisa.

   - Ele é Rodolffo... Alguém especial. - Falo, com um sorriso pequeno.

   - Sua casa é grande. Você consegue uma folha e um papel para mim? E onde eu vou dormir? - Diz me olhando.

   - Entre na primeira porta a esquerda. - Mostro a ela.

   A deixo sozinha um instante e vou pegar caderno, lápis e borracha em meu quarto. Estou curiosa para saber o que vai fazer.

   Entro no quarto e a encontro deitada, virada de lado. Não sei se está acordada ou não. Deixo as coisas sobre sobre a estante e saio lentamente.

  - Não. - a ouço dizer, antes de fechar a porta.

   - Oi? - Pergunto sem entender. Seus olhos estão pequenos e a boca entreaberta, como se fosse dizer algo. - Não o que, Juliette?

   - Não é nada... - Diz esmorecendo. - Isso acontece as vezes. - Vira-se de lado, mas, ainda estou sem entender.

   - Ei.. - Sento na cama, tocando seu braço, sobre a coberta.

  - Não posso controlar isso, sabe? As vezes quero dizer algo, comi agora, ia dizer "obrigada", mas sai algo sem sentido da minha boca. Ou algo que eu deveria ter respondido a um tempo atrás para alguém e minha mente demorou demais para processar. - Explica, soltando o ar pela boca. - Me sinto horrível, não consigo controlar nada relacionado a fala, é tão triste. Cantar por exemplo, nunca vou fazer isso.

   - Você pode fazer outras coisas! E não precisa se sentir mal por não conseguir controlar, Juliette. Não sei como é para você, mas quero que se sinta bem comigo. Olha, você conversa comigo e sua mãe disse que tem grandes dificuldades de comunicação, você me ajuda, foi ao observatório comigo, são muitas coisas, não? Você pode confiar em mim. - Susurro vendo seus olhinhos me olhando.

   - Eu sei. É estranho, não sei lidar. Fico em casa e fico ansiosa para te ver. Fico no serviço e procuro coisas para te chamar ou te ajudar. Me animo com coisas pequenas, como a possibilidade de almoçarmos juntas. Isso é novo, não sei como interpretar. Só queria ser normal, para você gostar mais de mim. - Seus olhos marejam e meu coração se aperta. As palavras que vem em minha garganta não parecem suficiente diante daquilo.

   - Sou eu quem deveria ser melhor para você, anjo. - Deslizo os dedos por sua bochecha lentamente. - Você é normal, aliás, não, essas pessoas normais são chatas e estranhas como eu, você é a pessoa mais especial e linda desse mundo todo. Nem as estrelas são páreo. - Juliette sorri e suas bochechas estão completamente vermelhas.

    - Sabia que eu pinto? Em casa tenho meu quarto e uma sala cheia de tinta, telas, pincéis, lápis de cor. - O assunto desviado é algo que eu já esperava. Seus olhos brilham olhando para o teto, enquanto fala sobre isso.

   - Eu gostaria de ver.

    - Sim! Vai em casa, vai vê-los. - anima-se na cama. - Minha casa é um lugar bom, já me sinto mais leve que em qualquer outro lugar. Porque meus pais não me julgam e você também não, você vai estar lá, isso é legal mesmo. - Ela ri sem parar, mexendo a cabeça, mordendo os lábios e me olhando.

   - Vou dormir, Juliette. Amanhã eu venho te chamar. - Levanto e ela assente.

   - Abraçar... - A ouço susurrar e sorri.

  - Você deveria mesmo me abraçar. - Juliette levanta e me abraça, ajoelhada na cama. Seus braços me apertam. Meus olhos lacrimejam, não consigo conter. É como se todos os sentimentos estão aumentando segundo a segundo.

  Entro no meu quarto e vejo ligações perdidas de Rodolffo, suspiro ao cogitar ligar para ele, mas está tarde. Coloco o celular de lado, sem despertador, me troco e apago. Tenho um sono pesado, mesmo. Só acordo porque minha janela é de vidro e deixa uma claridade imensa no quarto. Não vejo a hora, apenas levanto, escovo os dentes e saio.

   Fico de pijama, andando sem chinelo, pois, não lembro onde o deixei. Tomo um leve susto ao ver Juliette já acordada, na sala. Tem papéis para todos os lados. O que mais me chama a atenção é um sobre o sofá. " Mapa da Juliette e Sarah", basicamente um desenho do interior da minha casa, com plaquinhas nomeadas em tudo. " os peixes numéricos", "cozinha", "sala", "quarto da Juliette" e as outras portas com um ponto de interrogação de fora a fora. Me aproximo lentamente. Ela está desenhando o aquário, com todos os detalhes possíveis.

   - Bom dia. - Susurro, depositando um beijo entre seus longos cabelos perfumados.

   - Boa tarde, né? - Brinca, sem se virar.

   - Você gosta de algo específico? - Pergunto pensando no que fazer para ela comer.

   - Você. - Responde assim que termino de perguntar, rápido demais, direta demais. Ri bobamente.

   - Gosta de café ou leite? - Pergunto, indo para a cozinha.

   - Leite, com chocolate. - Reponde alto. Enquanto preparo as coisas, eu a observo. O modo leve de mexer as mãos. Os pés com meias coloridas. A calça e blusa de moletom. Os cabelos bagunçados, caindo nas costas. A sua volta um monte de rescunhos, os papéis parecem Estar jogados, mas olhando melhor eles estão bem colocados a sua volta. Me pergunto, quem é capaz de fazer mal a ela? Quem é capaz de julga-la?




Olá amores. Não sei se conseguirei postar mais um capítulo hoje, mas irei tentar. Caso possam não esquecam de assistir hoje às 18:00 a live do Gilberto Gil com a Ju. Bjs e se cuidem.

You captivated me-versão sariette (Finalizada) Onde histórias criam vida. Descubra agora