capitulo 9

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  O almoço com os pais da Juliette foi tranquilo, o olhar de Lourival passava sobre mim me deixando levemente incomodada, Juliette não falava a mesa com eles, olhava para a comida, mexia de um lado para outro, ou estava sem fome ou não gostava do que via. Fiquei tentada a perguntar, porém não quis bancar a chata.

   - Juliette vai se arrumar. - Fátima a chama, ela não comeu nem metade do que tem no prato.

   - Sai sem dizer nada e ficamos os três, um olhando para a cara do outro. Coço a garganta e levanto colocando o prato na pia. A conversa está no ar, esperando alguém começar.

   - Sarah, Juliette tem se soltado desde que começou a trabalhar com você. Com Fátima de férias achei que teríamos um problema. - Lourival se pronuncia, encostando-se ao meu lado.

   - Ela é um amor Lourival, um amor mesmo! Queria mostrar a ela como as coisas funcionam e sem Fátima por perto ela relaxa, entende?

   - Eu estou aqui, viu? - Diz me cutucando. - Você não entende, Sarah. Ela é especial, você já viu isso, não tem muita noção das coisas.

    - Tem sim! Ela é uma das pessoas mais inteligentes que conheço, vocês tem que trata-la como uma pessoa da idade que tem e não como uma de dez.

   - Ela entende pouco, você passa algumas horas com ela, é difícil de ver o todo. Já notou ao menos que ela fala algumas coisas vagas? - Fátima está disposta a argumentar, porém, é uma briga perdida.

   - Sim, as palavras sem sentido, a alteração de voz, a organização exagerada. Não sou desatenta, nos conhecemos tempo tempo suficiente para saber disso. Estou apenas avisando vocês, Juliette precisa estar preparada para a vida, ela não é inválida. - Reviro os olhos, Lourival está quieto, custa dar uma mísera opinião? Visto que, sei que ele concorda comigo.

   - Sarah não complica muito, ou vamos cortar esse trabalho, que nem foi ideia minha. - Fátima suspira.

   - Você não vai me deixar ir? - Juliette nos assusta. - Por que não? Eu quero ir. - Seus olhos lacrimejam e ela se agita.

   - Ju... - Lourival se aproxima, porém, ela dá um passo para trás.

   - Você não pode me impedir de fazer tudo! - Grita saindo correndo para fora. Fátima vai atrás, mas, a seguro.

   - Me deixa falar com ela. - Susurro pegando minha bolsa e meu desenho.

   - Me liga. - Lourival diz, antes de eu sair.

    Juliette está encostada em meu carro, virada em direção a rua. Vou a passos lentos até ela. A ouço fungando, com as mãos no rosto.

   - Não chora, Juliette... - Passo o polegar sobre sua bochecha, que está vermelha.

   - Ela não me deixa fazer nada! Eu ouvi tudo, Sarah, tudo. Minha mãe pensa que me ajuda, mas me deixa sem ter o que fazer. Uma coisa que eu faço, que me faz sentir bem, ela quer tirar. - A voz sai falha, com as lágrimas descendo.

   - Olha para mim, Ju. Sua mãe não vai tirar nada, eu prometo, para de chorar, por favor. Quer um abraço? - Minhas mãos passam em seu rosto, ela parece pequena, os olhos pequenos e vermelhos.

   - Eu não sei. - Responde.

   - Vem cá. - Estendo o braço com o coração na mão.- minha cabeça está fervilhando por Fátima fazê-la sentir-se dessa forma.

   A abraço encostando-me ao carro, na janela os olhares curiosos nos miravam. Juliette a cabeça em meu ombro, brincando com a barra da minha blusa, os braços em torno de mim.

   - Você promete mesmo? - Susurra, levantando o rosto.

   - Eu prometo não deixar sua mãe te tirar de lá. - Suspiro dando um beijo em sua testa.

   - Não é isso... É você. E se ela me tirar de você?

   - Prometo não deixar ela te tirar de mim. Eu não saberia lidar com isso. - Sou sincera, minha mão afaga seus cabelos.

   - Você gosta de mim, Sarah? - Afasta-se de vez, olhando para rua enquanto pergunta.

   - Muito, Juliette. Vamos? - Abro a porta do carro para ela.

   Não faço o caminho da empresa e sou questionada por isso. Fico feliz de saber que já está se acostumando com o caminho. A levo ao shopping. Vantagens de ser a dona da empresa. Seus olhos percorrem por todos os lados, andamos lado a lado.

    - Olha! Olha? - Aponta para a casinha cheia de bolinhas coloridas na loja de brinquedos. - Quero um desses em casa, no meu quarto, olha quantas bolinhas!

   - Vou te encher de bolinhas. - Mexo em seus cabelos, sorrindo abobada.

   - Mas eu não quero bolinhas em mim, vou ficar feia.

   - Vai ficar linda toda colorida.

   - Não vou! - Aperta minha mão, me fazendo quase gargalhar.

  Deixo um beijo em sua bochecha e seguimos até a lanchonete, que é meu objetivo desde o início. É uma que menos frequento na vida, porém, quando vejo a pintura que a Ju fez do macaco, parece-me o lugar perfeito para leva-lá. As paredes são cheias de bichinhos desenhados, as cadeiras azuis o ambiente gostoso. Tudo me lembra ela.

    - Senta-se olhando para cima e para os lados. Faço nossos pedidos e espero que se pronuncie.

   - Queria voltar aqui todos os dias. - Fala me olhando.

   - Todos os dias? - Arqueio a sobrancelha.

   - Todo dia. É legal, mas eu posso me perder aqui, é grande. - Coça a cabeça, olhando para fora.

   - Todo dia é muito, sabia? Se comer tanta besteira, você pode virar uma bolinha. - Alcanço seus dedos, tocando timidamente.

   - Mas... Você quer me deixar com bolinhas e agora diz que vou virar uma? Estou confusa, Sarah... - Diz confusa.

    - Vamos comer, Juliette! - Mudo de assunto, vendo a garçonete trazer o que pedi.

    Passamos um tempão aqui, para começar um assunto que preciso falar. Conto-lhe como é o zoológico, pensando em quando vou marcar de irmão, com os pais juntos, já imagino ela toda boba com os macaquinhos que ficam soltos lá.

You captivated me-versão sariette (Finalizada) Onde histórias criam vida. Descubra agora