As telas foram ao chão, o desenho nosso não passava de um borrão, o mar parece ter sido inundado de tintas coloridas.
Meu coração estava tão descontrolado.
Juliette se desfaz de tudo e senta no canto da parede, com os braços abraçando os joelhos, os cabelos sendo sujos de tinta porque a parede ainda está fresca.
Essa é minha resposta afinal?- Você quer que eu vá embora? - Pergunto.
- Você quer ir? Isso importa? Eu nem entendi porque veio, como vou dizer que pode ir? Não sei para que você quer uma chance, Sarah. - Diz levantando a cabeça, seu rosto está vermelho.
- Eu vim porque precisava explicar, Juliette, precisava te dizer que você é importante para mim, entende? - Encosto-me a parede ao seu lado, me rendendo, escorregando até sentar.
- É mentira, Sarah, eu não consigo olhar as pessoas nos olhos por muito tempo, mas, você sim e sequer consegue fazer isso agora. - Sua voz sai fria, penso em responder-lhe, contudo, sei que há mais. - Eu nunca fui boa em falar, mas, você pode falar e se perde em desespero e mente. Tudo é mentira, eu sei que é. - Ela se levanta lentamente se dirigindo a porta.
- Não é mentira. - Levanto permanecendo onde estou.
- É sim! Minha mãe diz que pessoas agem de má fé e você foi a pior delas. - As lágrimas dela voltam a descer, um tiro no estômago.
- Nós fomos ao planetário, você lembra? Almoçamos juntas e caminhamos juntas, isso foi real, foi divertido, foi de verdade, Ju. Em cada momento eu estava mais encantada por...
- Encantada por uma pessoa que tem déficit de comunicação? Quem faz isso? - Ela ri, um riso desesperado. Me atinge de todos os lados, mas não é culpa sua, sei disso.
- Por uma pessoa linda! - Rebato suas palavras no mesmo tom, dando um passo a frente.
- Para! Eu não sou, não posso ser nada, minha mãe... Ela sempre diz, não pode, não pode, não pode, ela está certa, eu não posso sentir essas coisas, não posso confiar em ninguém. - Suas costas chocam com a porta e novamente seu corpo escorrega.
Seus pais estão errados, ela está errada, muito errada.
Olho para as tintas, para as palavras na parede. Ela esta em cada um dos borrões na parede.
Tenho uma ideia, que me parece tão óbvia.
Pego a tela em que estamos deitadas vendo o céu, e tento arruma-la com a tinta azul.
- O que está fazendo? - Pergunta com a voz baixa.
- te respondendo. - Falo com a tela dos peixes em mão.
Eu queria ser a sua estrela cadente. Você faria um pedido?
Os peixinhos perderam a forma, só é possível ver pontos laranjas cobertos por borrões vermelhos e amarelos. Passo tinta azul sobre a tela. Faço peixinhos laranjas, a cor misturava-se ao azul e admito ter ficado estranha. Mas não me importo, desenho os cinco de modo desordenado. Com o azul mais claro que está ao meu lado, faço outro peixe, bem no meio de todos, o mais bonito que consigo.
- Você não tem um peixe azul.
- É você. - Levanto mais uma tela.
Olho para a tela com meu rosto e suspiro. Levanto o cavalete, meus dedos ganham uma coloração vermelha, passo sobre os lábios pintados que estão borrados.
- Sarah? - Ela chama, mas sei que se a responder, outro surto se dará.
- Sarah? - Ela diz novamente. - O que está fazendo?
- Te respondendo. - Viro me dando conta de que ela está a menos de um passo de mim. - Não nadaria ou viajaria em você, porque já fiz isso, venho fazendo desde o primeiro dia. E vou continuar, se permitir. - Ouso tocar seu rosto, o sujando de tinta. - Poderia ficar pensando no que dizer, mas você é isso, estampado em cada tela, você é meu peixinho, meu céu, minha estrelinha... Errei, mas se eu tiver que pintar essa sala inteira para você me entender, tudo bem. - Suas lágrimas descem por minhas mãos, descendo coloridas, nos desarmamos de acusações e de desculpas. - Eu achei que estava te entendendo, mas, não estava. Quero aprender tudo, quero saber, ajudar, quero te mostrar mais coisas, quero... Não quero outra chance, tenho outro pedido.
- Eu sou sua estrela? - Ela pergunta me olhando, com um pequeno sorriso. Dentro de mim sinto uma chaninha se alastrando, estendendo por todos os lados, fogos de artifícios coloridos.
- Você é. Minha estrela cadente, a estrela mais brilhante do meu céu, da minha vida.
- Qual é o seu pedido? - Pega minha mão, entrelaçando os dedos aos meus.
- Quero um abraço. - A olho, apertando sua mão.
- Você poderia pedir para eu acreditar em você. - Juliette diz. E está certa. Mas isso é o de menos se por alguns segundos eu puder segura-la junto a mim.
- Um abraço, pequena... - Susurro me colocando a sua frente, ela assente.
Juliette se joga em meus braços, com todo sentido que a palavra permite. A aperto, ela repousa a cabeça em meu busto firmando os braços ao redor de mim. Senti tanta falta disso, sinto suas lágrimas descendo e seus dedos me apertando.
- Senti sua falta, Sarah.
No momento em que abraço Juliette sinto paz.
- Você e Rodolffo estão juntos? - Ela pergunta e me solta.
- Não... Nós conversamos e não tem como continuar. Relacionamentos precisam ser recíprocos.
- Sei disso. Mas, não sei o que simto sobre nós, eu e você.
- Você não precisa me dizer o que sente. Só preciso que me diga se quer isso. Se quer tentar. - Talvez eu não queira saber a resposta.
- Eu... - Ela passa os olhos por mim, as palavras somem.
Penso em dizer algo, porém, não tem o que dizer
Viro as costas para sair, tomar um copo d'água, pensar. Juliette segura em minha nuca e me beija. Avança até que meu corpo encoste na porta. Meu coração parece explodir. Seus dedos apertam minha nuca, é um beijo calmo é muito diferente de tudo, é doce.
- Não quero que acabe, Juliette se afasta e sorri olhando meus lábios. Não permito que diga nada, me aproximo a puxando para perto de mim de novo, a beijando novamente, mordendo seus lábios. Esperei demais por isso para acabar tão rapido.
Juliette desce a mão para minha cintura apertando. Sua respiração está pesada quando nos soltamos.
- Isso é diferente do que eu pensava. - Ela diz.
- É ruim? - Fico apreensiva. Quantos anos eu tenho? 10?
- Nada ruim... - Toca meu rosto com ambas as mãos e me beija de novo e de novo. Tem como me apaixonar mais e mais a cada segundo? Meu corpo inteiro reage de diversas formas a Juliette
- Ju...
- Eu quero tentar. Quero aprender coisas. Quero crescer, sabe? Recuperar o tempo que estive presa. Quero mais disso... - Morde meus lábios e ri. - Muito mais, Sarah.
/// Me contem o que acharam... Até amanhã amores.
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You captivated me-versão sariette (Finalizada)
Fanfiction" Eu sempre gostei da história do pequeno príncipe, de como o amor é explicado em cada detalhe. Quando era pequena meu pai me dizia para eu encontrar meu lugar na história e eu finalmente encontrei. Ao conhecer Juliette, eu descobri ser o piloto." ...