capitulo 12

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O livro em minha mão explica sobre a síndrome, as dificuldade e soluções encontradas para pessoas portadoras viverem . Há coisas que estavam no meu nariz o tempo todo e deixei passar, fechei os olhos. Mas com certeza, diante do que eu li, o que mais os incomodam são os olhares confusos e desentendidos diante de suas ações.

   Meu celular toca me dando um susto daqueles.

   - Bom dia, Sarah!

   - Quem é? - Pergunto levantando.

   - Lourival. Tudo bom? - A animação de Lourival me lembra que eles são os senhores alegres.

   - Tudo. Aconteceu algo com Juliette?

   - Não... Na verdade, ela saiu com Fátima para comprar algumas coisas antes de ir a empresa. Você pode vir aqui? Temos uma conversa pendente. - Bravo ele não está, mas não consigo pensar que essa conversa poderia ser boa.

   - Alguns minutos e apareço ai. - Desligo já na porta do guarda roupa, escolhendo a roupa.

    Levo alguns minutos para me arrumar e conferir a agenda do dia. O dia é menos cheio que o anterior. No caminho para casa de Lourival me pergunto o que ele dirá, se Fátima e ele conversaram, se Juliette disse algo.

   Lourival está na porta, o carro não está lá e onde eles moram está bem mais frio que na minha casa.

   - Nunca se lembra que aqui é gelado, né? - Pergunta, dando um beijo em meu rosto. - Entre, bom dia.

   - Bom dia.

  - Quero te mostrar algo. - Toca meu ombro, seguindo em direção ao corredor. Ou melhor, a sala onde Juliette pinta.

   As paredes estam mudadas, tem peixinhos pintados em telas, com fundo azul. Tem flores pintadas em frente a dos peixes e as outras duas eram vermelhas. As telas estão mais organizadas, algumas ainda cobertas por lençóis, algumas ainda em andamento, algumas viradas para a janela já aberta.

   - Você reconhece? - Pergunta tirando o lençol das pinturas que estão próximas a porta. - Demorei a reconhecer, porém, eu e Fátima inventamos de ver fotos antigas e vocês tem muitas.

  Meu rosto está desfocado na maioria delas, ora dando atenção aos olhos, ora a boca, ora ao corpo. As telas com fundo colorido, os lábios vermelhos vivos.

   E tem mais... - Ele diz, trazendo duas telas que estão no fundo. Em uma há peixes, como os do meu aquário e a outra tem o interior da minha casa, a folha onde ela fez o "Mapa de Juliette e Sarah" estão junto.

    - Você tem uma explicação lógica? - Ele Pergunta.

   - Não... - Susurro, com uma lágrima correndo em meu rosto. - São lindas.

   - São, tudo que ela faz é lindo, mas não é normal, você sabe não é? Ela não deveria estar te desenhando, ou desenhando  sua casa, ou tão animada para te ver... Juliette não sabe lidar com as emoções, elas alternam entre rasas e avassaladoras, Sarah.

   - Eu não sei o que está acontecendo... Eu me encanto dia após dia por ela..

   - Juliette não fala sobre o que sente, porque não consegue... Pintar é a maneira dela de se expressar, preciso dizer mais alguma coisa? Você tem o Rodolffo, lembra-se disso? Porque todos os dias que eu a ouço animada para te ver, é a primeira coisa que vem em minha mente. - Encosta-de à parede me encarando. - Fátima nunca vai te perdoar se você machucar a Juliette, e eu também não.

    - Eu deveria me desculpar? Deveria me sentir culpada? Quando eu a conheci gostaria de ajudá-la a sentir-se bem. A empresa, a se desenvolver e encarar o mundo e eu tentei. Quanto mais tentava me adequar a ela, mais entrava em seu mundo enorme e curioso, mais amava isso. Deveria me culpar por a deixar entrar em meu coração sem esforço algum? - As lágrimas me ganham, viro-me incapaz de encará-lo  - Rodolffo está voltando em alguns dias e eu não sei o que fazer. Não quero trair a confiança de vocês, ou talvez já tenha feito isso, mas principalmente, eu seria incapaz de machucar a Juliette.

   - Eu tento entender, juro. Te chamei aqui antes de Fátima para evitar uma bagunça no futuro. Mas não dá, entende? Juliette pode estar se apaixonando e isso é assustador para mim como pai. O fato de ser uma mulher é algo recorrente, para mim, visto que tenho pessoas assim na família. Mas ser você... A melhor amiga de Fátima, mais velha, casada. Você entende a dimensão? - Ele coloca-se a minha frente. - Sabe que se ela estiver se magoando, não saberemos como chegar até e dizer que um coração partido se reconstrói... Ela não entende isso.

    - Esse é o erro de vocês, vocês a limitam... Juliette não pode isso, não entende aquilo, é incapaz disso e aquilo... Ela é mais que isso.

    - Você não a viu crescer, Sarah, foi um longo caminho para a gente. Não faz isso, não faz nosso trabalho de anos ir para o espaço por causa de seu encantamento. - Ele diz e dirige-se a porta, sua maneira de finalizar o assunto.

    - Não é só um encantamento Lourival. Eu me apaixonei por ela.

   - Você precisa arrumar isso. Eu não quero perder minha filha para um abismo que ela mesma pode criar em si. - Sai me deixando ali, batendo o pé incessantemente.

    - Seco as lágrimas e saio dali. Ando até a sala, Lourival está sentado no sofá e aponta para a porta. Fátima está encostando com o carro. Juliette sai do carro, de calça e blusa de moletom azul escuro. Sua mãe está cheia de sacolas.

    - Sarah! - Fala alto, parando a minha frente.

    - Lourival, me ajuda! - Fátima pede, com a voz brava.

    - Bom dia, pequena. - Susurro, dando um beijo em sua testa.

    - Você vai me levar para trabalhar hoje? Veio me buscar? Por que?

   - Posso te levar. - Aperto seu ombro, cumprimentando Fátima.

    - É bom, minha mãe pode ficar aqui com meu pai. E eu gosto de andar com você. Queria ver seus peixinhos. - Fala entrando, me dando as costas.

    - Juliette! Não pode se oferecer dessa maneira. - Fátima a repreende. - Não precisa, Sarah, nos a levamos.

    - Não sou oferecida! - Exclama com a voz alta e chateada.

    - Eu a levo, não tem problema. Posso levá-la em casa a tarde, para ver os peixes? - Pergunto, nós duas olhamos para Lourival, sei que ele quer me matar, porém, vou arrumar essa história, da melhor maneira possível.

    - Tudo bem. Juliette, já sabe né? - A mãe a olha, enquanto ela sorri.

   - Não mexer em nada, nem pedir nada. - Conta nos dedos as duas coisas.

    - Vai se trocar. - Lourival diz, dando um tapinha em seu ombro.

    Nos olhamos, seu olhar sobre mim expressava compreensão e não esperava por isso. Quero lhe dizer que vai ficar tudo bem, assim como eu acredito que de fato ficará, contudo abaixo a cabeça deixando os dois ali.

You captivated me-versão sariette (Finalizada) Onde histórias criam vida. Descubra agora