Antes Tarde do que Nunca

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Nota do Autor: O sol, vê se me esquece.

O estado de Ártemis era lamentável, seu roupão de cetim branco e comprido estava com a bainha toda encharcada, e seus pés descalços estavam na mesma situação, uma vez que os jardins ainda continuavam bem úmidos devido a enchente no dia anterior, e seus cabelos negros estavam bagunçados, ela ofegava e parecia transtornada ou exaltada com algo. Apenas isso que surpreendeu o resto dos Chamados, uma vez que a informação que ela trazia, não era velha.

Os Chamados estavam reunidos no salão onde acontecia suas reuniões, isto é, no templo principal, porém o lugar ficava mais afastado da "sala do trono", mas não tinha um estilo muito diferente do resto, as cores das paredes ainda eram no dourado enferrujado e vermelho, além de continuar na vibe do templo chinês antigo, com até lâmpadas amarelas de tecido que iluminavam o ambiente timidamente. Talvez a única coisa que não correspondia com o resto da sala fosse a mesa redonda de pedra escura, esculpida com os mais diversos desenhos e que parecia ter saído diretamente da época do rei Arthur e a távola redonda, com claro, oito cadeiras, enfeitadas correspondendo a cada Chamado. Isso não significava que a mesa desnorteava a decoração, veja que Physis é composta dos mais diversos tipos de pessoas e costumes, trabalhando em harmonia, logo há muitas culturas misturadas, mas sempre puxando pro lado oriental antigo, ou da idade média, e até mesmo de fantasia de outros universos, e todos trabalhavam em considerável equilíbrio.

Contudo, mesmo que o clima estivesse consideravelmente agradável, era visto o ar de depressão que todos exalavam, Ares principalmente, estava em sua cadeira com a cabeça apoiada nos braços em cima da mesa, inconsolável, lágrimas simples ainda escorriam pelo seu rosto, muito mais silenciosas que antes, mas elas ainda estavam lá, e Gaia tentava transpassar algum tipo de conforto acariciando os cabelos escuros da mulher, mas seu estado não era dos melhores também. Umbra era outro, este apenas tinha desistido da vida enquanto sua cara estava jogada em cima da mesa e os braços do lado do corpo, não chorava, mas estava cansado psicologicamente demais para mudar sua posição. Os demais estavam em pé, em silêncio apenas existindo, com seus próprios pensamentos que os assombravam, porém, com a entrada de Ártemis todos tomaram um tempo para encará-la estáticos, até entenderem do que se tratava e soltarem um longo suspiro.

Contudo, Umbra foi o único que não levantou a cabeça, em vez disso empurrou a cadeira para trás e se afastou, andando até a varanda para tomar algum ar.

- Vocês que lidem com ela esse ano, não to com paciência para isso - resmungou Umbra ao sair da sala.

- Ártemis... Você sabe muito bem assim como nós, que isso, não é verdade - se pronunciou Iemanjá, cautelosa e com certa empatia no olhar se aproximando da amiga.

- Eu to dizendo para vocês, não é apenas um pressentimento! - insistiu Ártemis.

Por mais de meio século tivera sido assim, em todas as noites do dia escuro, Ártemis teve o mesmo sonho, porém sempre teve e estranha sensação de que Rá não estava morta, como se toda vez que acordava alguém a cutucasse e dissesse "Ei, vocês entenderam errado, Rá vive", e sempre acabava comentando com os colegas, mesmo que seu sonho não denunciasse qualquer indício que aquele formigamento de algo não ser o que parece, fosse real, Ártemis acreditava fielmente, nunca creu que Rá estivesse morta, nem no dia em que o céu se apagou pela primeira vez, e agora mais do que nunca, tinha a certeza que por todos esses anos, estava correta.

- Você insiste nisso por séculos, um hora terá que deixar essa negação, é difícil para todos nós - Loki encarou Ares ainda com os olhos marejados e Umbra do lado de fora observando a escuridão - Mesmo por todos esse tempo, eu só... - mas não conseguiu completar a frase pois as lágrimas voltaram aos seus olhos.

Os Heróis Que O Mundo EsqueceuOnde histórias criam vida. Descubra agora