Capítulo 1

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— Não há tempo consumido,nem tempo a economizar

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— Não há tempo consumido,
nem tempo a economizar. 
O tempo é todo vestido de amor
e tempo de amar.
O meu tempo e o teu, amada, 
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada.
Amar é o sumo da vida.                                                                           

— E esse é o poema de Carlos Drummond de Andrade, é o meu favorito! — Ouvi a professora dizer.
Metade da classe dormia, e a outra metade olhava atentamente para a professora Alexandra, acompanhando cada passo que ela dava.
A classe era dividida em dois grupos.

Os Inteligentes: Olhavam atentamente para a professora durante toda a aula, e esperavam ansiosamente ela passar um trabalho sobre a história do iluminismo e outras coisas que absolutamente ninguém (exceto eles) se interessa.

Os populares: O nome já é meio que autoexplicativo, mas acho que preciso reforçar. 
Jovens mimados que nunca precisaram se preocupar com o preço do material escolar ou da conta de luz. 
Humilhando os mais fracos (os inteligentes) para se sentirem melhor, porque são uns fracassados nos estudos, e sabem disso.

Contudo, uma pessoa não se encaixava em nenhum desses grupos. Não era popular, e não tão inteligente quanto os outros.
Kaira.

Uma menina alta, a mais alta da sala. O corpo relativamente "fora do padrão". Seu cabelo era castanho, e crespo. Seus olhos pequenos faziam um contraste bonito com a cor do cabelo. O arco do cupido marcado era a única coisa que ela um dia achara bonito em si mesma. E o nariz, pequeno e sem falhas, fora a única coisa que herdou de seu pai na aparência.

Ela odiava o corpo. Não ele todo, apenas o rosto, os braços, as pernas e os seios.
Ela odiava a vida dela, não porque fosse ruim, mas porque quando você odeia o seu cérebro e seu corpo, é difícil aproveitar o descanso.

Sim, essa menina sou eu. 
Kaira De Luca.
Pais divorciados, mãe brasileira e pai italiano. 
Vivo no brasil, com a minha mãe, e a ultima vez que falei com meu pai foi semana passada, em uma chamada de vídeo.
Vida legal, não é?

— Senhorita De Luca?

A professora Alexandra espantou a nuvem de pensamentos que pairava sobre minha cabeça. Levantei a cabeça olhando a mulher alta e esguia na minha frente.

— Senhorita De Luca, eu estava recitando o poema de Carlos Drummond de Andrade, porque não estava prestando atenção? — Perguntou a professora Alexandra, em um tom severo.

— Desculpe, Professora — Pedi, minha voz saiu estranhamente fina. — Não irá se repetir.

— É o que eu espero. — Alexandra voltou para sua mesa e continuou a aula.

...

— Cheguei.

— Estou na cozinha! — Ouvi a voz de Katrina gritar.

Katrina Araux, anteriormente Katrina De Luca. Divorciada, quarenta e um anos de idade, cabelo cacheado curto e loiro – com luzes –, mais conhecida por mim como “mãe.”

Uma senhora difícil de conviver, que não aceita minhas decisões e não se importa com as minhas opiniões. Extremamente preconceituosa com as pessoas que tem uma orientação sexual diferente da dela e pessoas – mais especificamente os homens – que usam brinco na orelha e tem tatuagens.

"Não precisa gritar, eu não sou surda" a vozinha nos meus pensamentos disse, e eu me controlei para não falar em voz alta.
Flake, meu gatinho de estimação, pulou em meu colo assim que me sentei no sofá da sala, e começou a ronronar pedindo carinho.

Sei que Flake é um nome estranho para um gatinho que mora no interior da Bahia, onde faz um calor horrível, mas eu gosto muito de neve, e não pude pensar em um nome melhor para ele quando vi seu pelo branquinho e macio.

— Está com fome? – Katrina apareceu na sala de estar, segurando uma colher de pau suja de molho de tomate. Assenti. — O almoço está quase pronto, vai tomar banho enquanto eu termino aqui.

— Sim senhora... – Suspirei, colocando Flake no chão novamente e subindo para o meu quarto com a mochila nas mãos. Assim que entrei, joguei a mochila em um canto qualquer do quarto e tomei um banho rápido, vestindo uma camiseta branca e um shorts jeans escuro. Prendi meu cabelo em um coque e tentei deixar com menos volume possível. 

Quando estava descendo as escadas, senti um cheiro maravilhoso de Moqueca de Camarão invadir minhas narinas. Este é o meu prato favorito, e Katrina não costuma fazer ele com frequência, só quando quer me pedir alguma coisa.

Entrei na cozinha e sentei a mesa ainda com uma dúvida na mente, vendo Katrina terminar de pôr a mesa e se sentar próxima á mim. Ela estava com um olhar diferente, não o olhar dizendo “Você precisa sair mais, fazer amigos!” que ela me lançava sempre, e sim um olhar do tipo “Não fique chateada comigo.”

— O que houve, mãe? – Perguntei, assim que ela começou á me servir de arroz e camarão sem eu pedir.

— Preciso conversar com você, mas não agora. – Ela abriu um sorriso nervoso. — Vamos comer primeiro.

— Seja o que for, fala logo. – Resmunguei e ela me lançou um olhar que dizia “Agora não.”

Comi o primeiro pedaço de camarão com arroz no prato e por mais que fosse minha comida favorita, já não parecia tão boa assim, estava tão azeda quanto o nó que se formou em minha garganta e o pressentimento ruim que eu estava tendo naquele momento. Eu não sei o que ela tem para me dizer, mas não é algo bom, disso eu posso ter certeza.

 Eu não sei o que ela tem para me dizer, mas não é algo bom, disso eu posso ter certeza

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