Capítulo 13

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— Como passaram o dia?  – Jean Carlo perguntou, enquanto cortava um peixe de nome estranho em seu prato

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— Como passaram o dia?  – Jean Carlo perguntou, enquanto cortava um peixe de nome estranho em seu prato. Estávamos todos na sala de jantar, como uma família. Bom, já faziam dez minutos que Jean Carlo tentava puxar assunto comigo, e Akemi apenas observava calada.

— Bom... – Comecei.

— Nosso dia foi ótimo, mostrei alguns cômodos da casa pra Kaira. Depois ficamos jogando videogame, tenho certeza que ela se divertiu. –  Yukio lançou-me uma piscadela. Ele estava mentindo descaradamente.

Resolvi entrar no jogo também.

— Sim, me diverti bastante. – Jean Carlo pareceu satisfeito com o que tinha acabado de ouvir, portanto o restante do jantar foi silencioso.

Ainda não me acostumei com a culinária de Tóquio, é tudo tão estranho. Tudo parecia ir bem quando Teresa nos serviu uma travessa de arroz com camarão e batata palha, mas as coisas começaram a desandar quando ela destampou uma bandeja com uma lula inteira. O que custa cortar a carne em pedacinhos antes de assar?

Quando terminei de comer a sobremesa, me tranquei em meu quarto com a cabeça formigando de ideias. Lógico que eu não ia deixar Yukio se safar assim, tão fácil. Deitei em minha cama e logo Flakes veio se juntar a mim.

Parece tão infantil, o fato de estarmos brigando desse jeito. E é mais infantil ainda que eu sinta uma vontade imensa de dizer: “Foi ele quem começou!”

Senti meu celular vibrar do meu lado e o peguei, desbloqueando a tela e vendo uma mensagem de ítalo, meu irmão.

Oi irmãzinha, como é que tá aí com os branquinhos?”

“assustadoramente normal, acredita que até agora ninguém fez piada sobre meu cabelo?”

“fantástico, parece que finalmente eles estão evoluindo para uma raça aceitável”

Italo e eu adoramos zoar pessoas brancas, é divertido. Algumas pessoas dizem que isso é racismo reverso – e isso nem existe – mas, para mim, é apenas reparação histórica.
Ficamos até tarde conversando, contei tudo o que aconteceu desde que embarquei, deixando fora a parte em que um garoto branco me atinge com uma bola de neve. Ítalo me contou que ganhou um aumento no trabalho, o que é ótimo. Disse que foi visitar nossa mãe, mas ela não estava em casa – o que é estranho porque ela quase nunca saía.

Depois disso, decidi tentar dormir um pouco. Após passar horas me revirando na cama, percebi que estava com insônia, e liguei a TV – mesmo estando tudo em japonês – para tentar assistir algum anime ou dorama.

...

Acordei de forma abrupta com o sol batendo em meu rosto, estranho, lembro de ter fechado as cortinas antes de deitar. Sentei na cama, esfregando os olhos e tentando enxergar a figura que estava parada em minha frente.

— Desculpe acorda-la, senhorita. – Mesmo com meus olhos tentando a todo custo se fecharem, reconheci a voz e os cabelos ruivos de Teresa. — O senhor Jean Carlo pediu para chamar a senhorita para tomar café, e pediu que se arrume.

— Me arrumar? Vamos sair? – Questionei, confusa.

— Não sei, senhorita. Estou apenas passando o recado. – Ela disse, se retirando do quarto e me deixando sozinha novamente.

Tomei um banho rápido e vesti uma roupa confortável, um shorts jeans azul e uma camiseta preta com uma frase “peculiar” nas costas. Calcei meu par de all star escuros e deixei meu cabelo solto, mesmo não gostando dele dessa forma. Desci as escadas com flakes em meu encalço e encontrei todos na sala de jantar, já em seus devidos lugares.

— Bom dia querida, eu estava pensando, o que acha de nós... – Papai começou a dizer, mas parou quando passei por ele em direção a meu assento e ele leu o que estava escrito em minha camiseta. — O que é isto em sua camisa?

— Isso o que?

— Isso! Esta frase, totalmente contra nossos princípios. – Pode ter sido impressão minha, mas notei seu rosto ficando vermelho enquanto falava rispidamente comigo. A frase é nada mais nada menos que: “patria o muerte!” uma frase comum, para mim, e com um significado forte.

Para outros, como papai, uma afronta do comunismo para com o capitalismo. Akemi me olhava estagnada, com uma expressão de puro choque. Eu deveria ter lembrado que se tem uma coisa que os japoneses amam, é o capitalismo.

— Papai, tenho certeza que uma simples camiseta não deve ser motivo para tanto estresse. – Sibilei, sentando em meu assento e me servindo com um pouco de suco de uva.

— Nunca imaginei, uma filha minha, comunista! – Exclamou, irritado.

— Tenho certeza que essa é só uma de suas muitas qualidades. – Yukio se manifestou, depois de muito tempo se limitando a apenas risadinhas baixas enquanto papai brigava comigo.

— Não seja tolo, querido. – Akemi repreendeu seu filho. — Jovens, cheio de ideias na cabeça. – Disse em tom de desdém, como se o fato de os jovens pensarem e serem inteligentes fosse ruim e motivo de deboche.

— Bom, continuando – Papai pigarreou, depois de alguns segundos em um silêncio constrangedor que ninguém estava disposto a quebrar. — O que acha de ir conosco para o clube, Kaira?

— Que clube? – Perguntei. No Brasil, o único clube que tínhamos era um pequeno terreno onde milhares de crianças se reuniam em uma pequena piscina de água suja enquanto seus pais enchiam a cara.

— Uma pequena associação onde nos reunimos todo domingo, apenas a mais alta sociedade frequenta, é claro, todos nossos amigos. – Explicou. — Pensei que iria gostar de ir conosco.

É claro, passar horas rodeada de pessoas velhas e ricas, dizendo para todos o quanto são ricas enquanto bebem champanhe e sei lá mais o que.

— Está bem. – Foi a única coisa que respondi, afinal, talvez fosse melhor passar a manhã em um clube do que sozinha, nesta mansão.

Não revisado

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