O interior da casa era ainda mais luxuoso, com um lustre prateado e adornado com cristais no hall de entrada. O piso de mármore escuro era tão brilhante que eu senti vontade de questionar se aquilo era cera. Várias janelas de vidro deixavam a casa com um ar aconchegante e frio. Jean Carlo me mostrou todos os cômodos, exceto a cozinha e os quartos. Todas as paredes do andar de baixo são de um azul ciano tão escuro que visto de longe parece um preto fosco.
— Meu filho não está aqui no momento, mas ele irá comparecer no jantar. – Akemi apareceu na sala de estar, quando papai estava me mostrando a sua televisão de setenta polegadas. — Pedi para Teresa caprichar na ceia.
Eu não havia percebido antes, mas Akemi fala português muito bem. Tão bem quanto Jean Carlo, que apesar de ser italiano – nascido no Brasil – não tem nenhum sotaque ou vestígio de sua ascendência italiana. O fato dela falar português me deixou um pouco tranquila, visto que eu ainda não sou tão boa com a língua japonesa, estou fazendo as aulas particulares a apenas três dias.
— Vou mostrar seu quarto. – Papai me chamou, subindo a escadaria de mogno escuro que havia no hall de entrada. — Eu decorei um dos quartos de hóspedes de uma forma que acho que você vai gostar.
Paramos de frente com uma porta branca simples, e assim que ele a abriu pude ver como era meu quarto. Eu esperava algo do tipo “Princesa Barbie cor de rosa” e estava com medo disso, mas a visão que tive quando entrei no cômodo foi completamente diferente. O quarto era simples, com paredes brancas e cortinas cinzas em uma janela de vidro. Uma cama de casal com um forro de cama branco se encontrava no centro do quarto, próxima á uma cômoda também branca.
— Tem um banheiro aqui, acho que você vai gostar. – Papai colocou minha mala no chão próxima á cama. — Pedi forros de cama brancos, espero que esteja do seu agrado. Mandei instalarem uma mesa para você estudar e alguns sofás na varanda. – Ele apontou para uma mesa branca ao lado da janela, que eu pensava ser uma janela mas percebi que era uma porta para a varanda.
— Obrigada, pai. É tudo perfeito. – O abracei, realmente agradecida por tudo que ele estava fazendo por mim. Ele estava diferente, não tinha mais o cheiro de cerveja que era sempre tão rotineiro, seus cachinhos estavam alinhados e o terno bem passado.
— Vou deixá-la sozinha, se precisar de alguma coisa, estaremos lá em baixo. – Ele disse, antes de sair do quarto fechando a porta e me dando um pouco de privacidade.
Sentei na cama incrivelmente confortável e abri minha mala, começando a tirar minhas roupas de dentro dela e jogando tudo em cima da cama de qualquer jeito. Ouvi um miado e olhei para onde Flake estava, ainda dentro da caixa de transporte. Abri a caixa, permitindo que ele andasse livremente pelo quarto, ele pareceu avaliar o cômodo por alguns segundos, e depois fez uma careta fofa para mim.
— Aprovado? – Perguntei para ele, que apenas subiu em cima da minha cama e se embolou entre os vários travesseiros ali. — Aah, então eu arrumo tudo e você vai dormir?!
Guardei todas as minhas roupas e acessórios dentro da grande cômoda ali, e deixei meus sapatos soltos em um canto qualquer. Abri minha mochila, pegando meus objetos de higiene pessoal e colocando tudo no banheiro.
Eu ainda achava que a definição de “simples” para papai e sua nova família, era completamente diferente do Brasil. Porque quando eu adentrei o banheiro que ele havia denominado simples, passei vários minutos apenas admirando tudo.
Uma banheira se encontrava no centro do cômodo, com portas de vidro ao seu redor. Duas pias com torneiras prateadas e lustradas eram o maior destaque de todo o ambiente, com um grande espelho colado á cima.
Deixei meus itens pessoais em cima da pia e saí do banheiro, abrindo as portas da varanda e saindo para fora. Observei a neve caindo cada vez mais forte. Sempre fui apaixonada pela neve, apesar de nunca ter presenciado isso pessoalmente. Eu me sentia em um sonho, mesmo não estando de acordo com a decisão de meus pais.
Quando estava entrando para dentro do quarto novamente, senti uma bola de neve me atingir em cheio no rosto, me fazendo tropeçar e cair de um jeito desengonçado em um dos sofás ali.
— Mas que diabos!?
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Não Posso Amar Ele
RomanceKaira sempre esteve acostumada á uma vida simples e dias repetitivos. Sendo uma adolescente de dezessete anos, ela sempre teve dificuldades em fazer amigos. Com uma mãe controladora e que mais parece uma amiga do que mãe, ela enfrenta os problemas d...