— Sentirei sua falta. – Katrina me deu um abraço apertado, com os olhos marejados. Se fosse sentir minha falta mesmo, não me mandaria para tão longe. — Se cuida.
— Vou me cuidar. – Peguei minha única mala indo em direção á entrada de avião, mas antes tive que passar por uma revista completa. Assim que entrei no avião e me sentei no assento indicado, olhei pela janela, vendo Katrina acenando para mim. Eu tinha certeza que ela não estava conseguindo me ver de tão longe, então ela estava apenas acenando para o avião. Suspirei, colocando o cinto assim que senti o avião começar a se mexer. Vou sentir saudades do Brasil, mesmo que eu não tenha sido muito feliz aqui.
Flake dormia serenamente em sua caixa de transporte, foi uma sorte eu ter conseguido um vôo onde aceitam gatos. De qualquer forma, eu não iria para outro país sem ele.
Coloquei meus fones tocando uma música aleatória e senti meus olhos pesarem aos poucos, em breve eu iria adormecer. Como Jean Carlo estaria, depois de tantos anos? Falei com ele por chamada de vídeo várias vezes ao longo dos anos, mas eu nunca vi seu rosto direito. Eu lembro exatamente de como ele era, antes de ir embora. Negro, cabelos cacheados – que ele não dava á mínima, por isso viviam embaraçados. – e uma barriguinha de cerveja.
Ele não gostava muito de se arrumar, estava sempre de chinelos e bermuda, com uma camisa jogada sobre os ombros. Um típico brasileiro classe baixa. Porém, nas ligações por vídeo, ele está sempre de terno, e com os cabelos muito bem penteados. Talvez a nova esposa tenha feito bem para ele, e despertado uma vaidade que ele nunca teve. Ou ela obriga ele a andar sempre arrumado pra na envergonhar ela. Como será que ela é? E o filho dela?
São tantas perguntas.
Espero que se eu não conseguir me adaptar, eles respeitem minhas decisões e me deixem voltar para o Brasil.
...
Algumas horas depois, acordei assustada com uma pequena turbulência no avião, que logo passou. O comandante avisou para todos que foi apenas um pássaro que bateu no vidro da frente.
— Com licença, senhorita. Quer comer alguma coisa? Tem um cardápio em baixo desse suporte. – Uma aeromoça veio até mim, e apontou para o suporte no braço do meu assento. Puxei o cardápio e pedi uma porção de fritas com um sanduíche e um refrigerante. Viajar na primeira classe é muito legal, apesar de ser minha primeira vez em um avião e eu não saber como é a classe econômica.
Logo o meu pedido chegou e a aeromoça foi atender os outros passageiros. Peguei o sanduíche, vendo que ele estava cheio de “coisas saudáveis”, cenoura, queijo, alface e tomate. Eu deveria ter descrito o tipo de sanduíche.
Depois de comer, deixei a bandeja de lado e coloquei o cinto novamente. Logo senti meus olhos pesarem e vi que iria dormir em breve. Quando eu acordasse, provavelmente já estaria no Japão.
Japão.O país dos animes. Bom, é claro que o lugar é muito mais que a capital dos animes, mas no Brasil as pessoas só o conhecem por isso. Uma vez um aluno novo entrou pra minha escola, na minha sala. Ele era asiático, e a primeira coisa que perguntaram pra ele foi “Você conhece o Eren?”, uma pergunta totalmente sem sentido, visto que o Eren não é real. E no final das contas, o garoto não era japonês, e sim coreano.
Bom, dou apenas uma semana para que eu me canse daquele lugar e da família nova de meu pai, pedirei para ele comprar uma passagem de avião para que eu volte para o Brasil, e nem precisa ser na primeira classe. Posso viajar até no bagageiro, desde que eu volte para o Brasil.
Eu nunca entendi essa fascinação que tenho pelo Brasil, não há nada lá de muito interessante. Bom, há pontos turísticos, que custam uma fortuna. As pessoas são tóxicas – não todas, é claro, mas as que eu conheci são – e o presidente atual é um homofóbico doente. E as pessoas ainda querem votar nele na próxima eleição, piada né?
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Não Posso Amar Ele
Storie d'amoreKaira sempre esteve acostumada á uma vida simples e dias repetitivos. Sendo uma adolescente de dezessete anos, ela sempre teve dificuldades em fazer amigos. Com uma mãe controladora e que mais parece uma amiga do que mãe, ela enfrenta os problemas d...