Capítulo 12

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— Agradeça por eu não ter achado farinha na cozinha

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— Agradeça por eu não ter achado farinha na cozinha. – Yukio saiu detrás da cortina da varanda, e eu me questionei o porquê de eu não ter percebido a sombra atrás das cortinas brancas antes de por os pés no quarto.

— Eu vou matar você! – Exclamei, grunhindo enquanto tirava as penas da minha cabeça. Assim como eu, o chão do quarto estava completamente coberto de penas brancas, o que me deixou ainda mais irritada. — Por quê me odeia tanto? Eu nunca te fiz nada! Estou aqui a menos de dois dias!

— Eu nunca disse que te odeio, só disse que iria tornar sua vida difícil aqui. Você é como um jogo pra mim, e é você quem decide se irá jogar ou não. – Murmurou, andando até mim em passos lentos. Cada passo que ele dava me deixava mais nervosa, com medo do que viria a seguir.

Garotos nunca foram meu “ponto forte”, no Brasil os garotos nunca olhavam para mim. Já me interessei por alguns, mas eles sempre preferiam a garota branca, ou a garota do cabelo cacheado. Acho que foi isso que me transformou em uma virgem eterna – ironicamente falando – e me fez ignorar todas as poucas investidas de garoto que se interessaram por mim. Isso é estranho, a algumas horas tento me convencer do contrário, mas acho que estou atraída por Yukio.

Bom, suponho que seja natural, pois apesar de chato, ele é um garoto bonito. Mas o mais importante agora é que eu tenho que parar de pensar nisso. Parar de pensar nele. É impossível eu gostar dele, mal o conheço. E mesmo que gostasse, não daria em nada. Ele é filho da minha madrasta – ainda sinto meu estômago revirar toda vez que digo essa palavra – e eu não posso gostar dele de jeito nenhum.

— Está com medo? – Em algum momento que não percebi, ele fechou a porta do quarto e me prensou contra ela, me deixando presa. Um sorriso sugestivo dançava em seus lábios, o que me deixou com mais raiva ainda e com vontade de arrancar aquele sorriso dele. Garoto arrogante.

— Não tenho motivos para estar com medo.

Ele riu com desdém:

— Então por quê está tremendo? – Perguntou. Se ele não tivesse falado, eu não teria percebido todo o meu corpo estremecer quando ele se aproximou.

— Se afasta. – Pedi, ríspida.

— Não. – Ele disse, e por um momento eu vi um pouquinho de seriedade em seu tom de voz, que logo foi disfarçado por sua risada humorada. — Você parece uma garotinha.

Seus olhos negros e sem brilho estavam cravados em meu rosto como duas flechas, me deixando ruborizada. Haviam duas vozes dentro de mim, a do meu cérebro – que sempre foi a mais lógica – e a voz do meu coração. A voz do meu cérebro, dizia incessantemente para eu me afastar de Yukio, e que eu me daria muito mal se “cedesse aos seus encantos”. Já a voz do meu coração, me dizia para ignorar a outra voz, me deixando certa de uma coisa que eu passei horas e horas tentando negar.

— Saia do meu quarto. – Sibilei, firme. — Agora.

— Está bem, vou deixar você em paz. – Disse, por fim, me fazendo tencionar os ombros com sua repentina mudança. — Por enquanto. – Sorriu maldosamente, saindo do quarto e fechando a porta com força.

— Quebra logo essa merda, seu idiota! – Gritei, mesmo sabendo que provavelmente ele não entenderia os palavrões da língua portuguesa.

...

Passei o resto do dia em meu quarto – com a porta trancada, assegurando que Yukio não entraria. Mamãe não ligou, mas mandou uma breve mensagem, que dizia apenas “como está sendo seu primeiro dia aí? Ela está sendo legal com você?”
Eu a respondi com outra mensagem pequena: “Eu não a vi hoje, está trabalhando. Meu dia está sendo normal.”

Não vou negar, faz poucas horas que estou aqui, mas sinto falta de algumas coisas do Brasil. São cinco da tarde, e a essa hora, eu estaria comendo alguma comida de rua aleatória, no Pelourinho, observando as pessoas na praia já recolhendo suas coisas para irem embora pra casa. Bom, tudo bem que lá não era só flores, afinal, sempre que eu andava na rua, escondia meu telefone. Mas, suponho que isso seja “normal”, e acontece não só no Brasil como também no mundo tudo.

Sobretudo, era legal assistir o pôr do sol comendo um cachorro quente completo em um quiosque aleatório na beira da praia. É, definitivamente, sinto falta do Brasil.

Em partes.

Não revisado

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