Um vento frio me atingiu assim que saí do carro, me lembrando que esqueci de pegar um casaco antes de sair de casa. Após passarmos por um portão com três seguranças, entramos no interior do clube, a parte de dentro dos grandes muros.
Grandes pinheiros com galhos secos estavam espalhado por todo o local, formando uma trilha até a porta do hall de entrada. Várias crianças corriam pelo local, todas vestindo roupas de grife e com os cabelos bem penteados. Papai entrou no local falando com todos que via, um aceno aqui, outro ali. Ao ver isso, tive um pequeno déjà vu de quando morávamos no Brasil, ele conhecia todo mundo.
— Não é tão bom quando está nevando, visto que o melhor lugar daqui é onde as piscinas estão. Mas, em compensação, eles fazem um Martini incrível aqui. – Explicou, animado. — Oh, como vai Henry?
Um homem alto e loiro veio até nós, usando um conjunto que os ricos costumam usar para jogar tênis – um esporte praticado somente por ricos – e com uma raquete nas mãos. Apesar de ter um semblante sério, um sorriso iluminou seu rosto assim que viu papai.
— Jean Carlo, meu amigo. – Os dois se abraçaram. — Não imaginei que fosse vê-lo aqui em época de neve. – Exclamou, divertidamente. — E quem seria esta bela dama? – Perguntou, virando se para mim.
Ao meu lado, pude ver Yukio revirar os olhos com desdém.
— É minha filha, Kaira. Está passando uns dias conosco. – Papai explicou. Eu não tenho certeza se serão só uns dias mesmo, imagino que serão meses aqui, o que me deixa feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por viver com tanto luxo – apesar de não merecer – e triste por ter que conviver com Yukio por tanto tempo. Triste não, furiosa.
— Oh sim, a tão falada filha. – Pude sentir uma pitada de deboche em seu tom de voz, mas preferi ignorar. — É um imenso prazer conhecer-la, sou Henry Duval. – Se apresentou, pegando minha mão e deixando um beijo molhado e nojento nela.
— Olá, senhor.
Um sorriso presunçoso dançava em seus lábios, e ele ia dizer alguma coisa quando Akemi o interrompeu:
— Está bem, chega de apresentações, vamos entrar. Se nos dá licença, Henry. – Disse, friamente, puxando Jean Carlo e Yukio para dentro do clube e deixando um Henry desapontado para trás. — Henry fala demais, não devemos dar tanta corda. Se me dão licença, acabo de ver uma amiga de longa data.
Prestando atenção no local, percebi que praticamente tudo era banhado em ouro. Vários sofás de couro branco espalhados por todo o ambiente, com diversas pessoas conversando entre si. Várias mesas de carvalho escuro e cadeiras acolchoadas em um canto do grande saguão, com balcões de bebida, toalhas e comida. Dois grandes lustres com pedras brilhantes iluminavam o local. Duas lareiras nas extremidades da sala deixavam o ambiente ainda mais acolhedor.
— Se me permitem, vou pedir alguma bebida no bar. Se quiserem, podem escolher uma mesa.
— Então... – Yukio começou a dizer, assim que Jean Carlo se afastou de nós. Olhei para ele pela primeira vez em algumas horas, e tenho que admitir, ele estava razoavelmente bonito. Com uma calça cargo escura e uma simples regata branca – uma vestimenta estranha, visto que está nevando lá fora. – e um par de Air force brancos.
— Yuki, que surpresa boa! – Uma garota interrompeu a fala de Yukio, vindo em nossa direção com um sorriso forçado em seu rosto. — Não esperava vê-lo aqui no inverno... Quem é ela? – Ela me pareceu um tanto quanto falante demais, e curiosa. Aparenta ter a mesma idade que Yukio e eu, com cabelos negros e curtos e um rosto jovial e magro. Me impressiona o fato dela falar português tão bem.
Yukio parecia estar desconcertado:
— Olá Harumi, esta é Kaira, filha do meu padrasto.
— Sua irmã! – Ela afirmou, com convicção. Devo dizer que a palavra “irmã” me incomodou um pouco. Yukio e eu não somos irmãos, nunca seremos.
— Não, ela é filha do meu padrasto, apenas isso. – Yukio esclareceu, parecendo desconfortável com toda a “situação” que a menina causou. — Temos que ir agora, até mais, Harumi. – Em um gesto repentino, Yukio pegou-me pela mão e me levou até uma mesa distante de onde deixamos Harumi, próximo a uma grande janela com vista para os campos de golfe congelados.
— Porquê fez isso?
— Me desculpe, se não saíssemos de lá ela nunca nos deixaria em paz. – Ele suspirou, sentando-se de maneira desleixada em uma cadeira.
— Achei que ela fosse sua amiga. – Sibilei, sentando de frente para ele. Estamos em uma situação comprometedora agora, visto que esta cena, vista de longe, parece um encontro romântico. As velas acesas na mesa não ajudam muito.
— E éramos, até ela querer “misturar” as coisas. – Ele disse, um sorriso ladino dançando em seus lábios e deixando aparente suas magníficas – talvez magnífico seja um adjetivo pequeno para isso – covinhas. — O que acha de tomarmos um vinho?
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Não Posso Amar Ele
RomantikKaira sempre esteve acostumada á uma vida simples e dias repetitivos. Sendo uma adolescente de dezessete anos, ela sempre teve dificuldades em fazer amigos. Com uma mãe controladora e que mais parece uma amiga do que mãe, ela enfrenta os problemas d...