Kaira estava olhando para os talheres de prata como se eles fossem a coisa mais interessante do mundo, eu sabia o que estava acontecendo. Ela se intimidava com um simples olhar lançado por mim, e eu estava gostando disso.
Sua primeira impressão sobre mim não foi das melhores, visto que eu a acertei com uma bola de neve. Mas, em minha defesa, não foi proposital. Hakkai e eu estávamos treinando beisebol com neve – algo estranho, mas divertido – quando ela apareceu na varanda de um dos quartos bem na hora em que fiz um lance.
Hakkai e eu tivemos uma crise de riso, e eu demorei á perceber quem era ela. Quando Akemi me disse que a filha de Jean Carlo, seu marido, passaria alguns dias em Tóquio, eu não imaginei que fosse uma garota tão bonita. Talvez seja pelo fato de eu só conhecer garotas japonesas – que também são muito belas – mas há algo de diferente na filha de Jean Carlo, uma beleza a qual eu nunca havia visto antes.
— Algum problema? – Perguntou. Sua voz doce e suave, como música.
— É você quem tem que me dizer se há algum problema. – Respondi. — Está olhando fixamente para os talheres desde a hora em que sentou aí, e eu não estou vendo nada de interessante neles.
— Por quê está fazendo isso? – Ela questionou, com um tom firme e confiante, parecia irritada.
— Perdão?
— Não se faça de sonso! Sei o que está fazendo. – Disse com desdém. — É como um jogo para você, não é? Você está tentando me amedrontar, tentando mostrar quem manda aqui. Mas acredite, eu não sou fácil de intimidar.
— Isso é uma pena, porque eu não desisto fácil.
— Ótimo, eu também não desisto fácil. – Ela exclamou, pegando a primeira coisa que viu na mesa e colocando na boca, fazendo uma careta logo em seguida. — Que diabos é isso?
— Você não vai querer saber.
Kaira continuo a comer em silêncio, tomando cuidado com o que comia. E depois de alguns minutos, me retirei silenciosamente e fui para o meu quarto. É sábado, então posso jogar videogame a vontade.
— Deseja alguma coisa, Yukizinho? – Teresa perguntou, sorrindo maliciosa na frente da porta de meu quarto.
— Quero. – Murmurei, seu rosto se iluminou de esperança. — Que me deixe em paz. – A empurrei para o lado e entrei em meu quarto, trancando a porta antes que ela fizesse alguma loucura.
Teresa trabalha aqui a alguns meses, é uma garota bonita, e não vou mentir, já beijei ela algumas vezes. Mas foi só isso, depois eu a dispensei e desde então ela vive me perseguindo, acho que está apaixonada.
Bom, é uma pena, já que não pretendo ter nada nem com ela e com mais ninguém por enquanto, já que a maioria das mulheres que dizem se interessar por mim só estão interessadas no dinheiro de minha família e em meu patrimônio.
Liguei a tv do quarto e conectei o videogame na tomada, me preparando para jogar.
...
Ouvi meu telefone tocando e dei pause no videogame, deixando o controle de lado e tirando os fones de ouvido. Assim que atendi, o rosto de Hakkai apareceu na tela.
— E então, como foi a primeira noite da sua irmãzinha aí? – Perguntou, em japonês.
— Ela não é minha irmã, já falei pra você parar com isso. – Revirei os olhos, desde que ficamos sabendo da chegada de Kaira ele não para de dizer que somos irmão e irmã.
— Ah, é mesmo, eu esqueci que você está afim dela. – Eu sabia que ele estava apenas me provocando, mas ainda assim fiquei irritado. — E quando você vai dar uns beijinhos nela?
— Eu não estou afim dela. – Quanto mais eu dizia isso, mas convencido do contrário ficava. — E vê se coloca uma coisa na sua cabeça, nunca, absolutamente nunca vou encostar meus lábios nos dela.
— Quer apostar? – Perguntou, e eu senti o desdém em sua voz. O ponto fraco de Hakkai, apostas. Ele vive apostando com qualquer pessoa, não importa o motivo da aposta.
— Quero.
...
Hakkai pode não estar certo, mas eu não posso negar, ela é muito bonita. A pele bronzeada e os cabelos negros e encaracolados formam um contraste belíssimo, e a boca dela, com um arco do cúpido perfeitamente desenhado, é perfeita.
Mas eu não posso pensar nela assim, Akemi nunca permitiria. Já percebi que minha mãe não gosta de Kaira, e é claro que é só porque ela é filha de outro casamento de Jean Carlo. Minha mãe pode ser um pouco dura com as pessoas as vezes, mas ela é muito uma boa pessoa, em partes.
Ela quase enlouqueceu quando Jean Carlo disse que sua filha viria morar conosco, eu estava na cozinha fazendo um sanduíche para lanchar quando ouvi sons de vidro se quebrando, e quando eu entrei na sala os cacos de um vaso de meio milhão de reais estavam no chão. Ela não disse nada, só se trancou no quarto e no dia seguinte saiu cedo pra trabalhar.
Eu não sei muito sobre o primeiro casamento de Jean Carlo, até porque isso não é do meu interesse. Mas não consigo imaginar o que aconteceu para a mãe de Kaira a mandar para tão longe, assim, de repente.
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Não Posso Amar Ele
RomanceKaira sempre esteve acostumada á uma vida simples e dias repetitivos. Sendo uma adolescente de dezessete anos, ela sempre teve dificuldades em fazer amigos. Com uma mãe controladora e que mais parece uma amiga do que mãe, ela enfrenta os problemas d...