Acho que eu nunca dormi tão bem em toda a minha vida. Os lençóis brancos são tão macios que eu me senti como se estivesse flutuando no mar. Os travesseiros, que eu achei macios demais, foram jogados no chão quando eu descobri serem feitos de penas de algum tipo de animal, restando apenas dois feitos de espuma.
Um dos pontos ruins de se morar na periferia do Brasil, é o barulho logo cedo. Carros passando, pessoas a caminho de seus trabalhos, vizinhos, motos com motores personalizados por seus donos que – sem necessidade alguma – colocam motores que fazem barulhos três vezes mais alto que o normal.
Já aqui, neste momento, em Tóquio, estou vivenciando o amanhecer mais tranquilo de toda a minha vida, que seja sempre assim. Senti alguém pular em cima de mim, mas não me assustei, visto que já sabia quem era.
— Bom dia, Flake. – Sentei na cama, fazendo carinho em Flake, que se aninhou em meu colo. — Como foi sua primeira noite na casa nova? Está com fome?
Levantei da cama e calcei meus chinelos de pelúcia, indo em direção ao banheiro para ver a minha situação. Quase gritei ao me ver no espelho, isso sempre acontecia todas as manhãs no Brasil.
Retirei a touca de cetim da cabeça e liguei o chuveiro, tirei o pijama de seda – que estava dentro da cômoda do meu quarto novo e eu o vesti, supondo que era meu – e entrei em baixo da água fria. É sábado, e eu suponho que ficarei sem nada para fazer o dia inteiro, talvez eu conheça o exterior da casa.
Saí do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça e vestida em um roupão. Abri a cômoda, pegando uma roupa qualquer e vestindo. Chequei as horas em meu telefone, vendo que não havia chegado nenhuma mensagem enquanto estava dormindo. Nenhuma ligação de Katrina.
Sinto que já estou me acostumando a morar aqui, apesar de estar aqui á algumas horas. Este quarto já se tornou o meu cômodo favorito da casa, mesmo ele sendo exageradamente luxuoso. E agora, olhando pela porta de vidro da varanda e vendo a neve caindo mais forte que ontem, imagino como serão os próximos dias aqui.
Prendi meu cabelo e abri a porta do quarto, permitindo que Flake saísse primeiro. Desci as escadas sem fazer barulho para não acordar ninguém, podiam estar dormindo ainda. Entrei na sala de estar a procura de Flake, que sumiu da minha vista em poucos segundos.
— Flake! – Sussurrei, chamando-o. Ele não estava em lugar nenhum. Entrei na sala de jantar, após ouvir um miado e me deparei com uma mesa posta com diversas coisas. Toda a comida que havia naquela mesa, alimentaria quatro famílias.
— Bom dia, senhorita. – Teresa, a cozinheira, disse com sua voz esganiçada. Ela parecia ser legal, apesar da voz irritante.
— Bom dia, viu meu gato de estimação? – Questionei.
— Seria este aqui? – Não foi Teresa quem respondeu, e sim outra pessoa a qual eu não havia notado a presença ainda. Sentado em uma das pontas da mesa, com Flake no colo, estava Yukio, me encarando com um olhar sugestivo.
— S-sim. – Porque estou tão nervosa? Ele é um imbecil, eu não deveria me deixar amedrontar apenas por sua voz gutural e braços fortes. E o olhar, havia alguma coisa naqueles olhos que me deixavam intimidada.
— Posso colocar comida para ele, senhorita.
— Obrigada, Teresa. – Desviei o olhar do moreno, que ainda me olhava. — Eu agradeceria muito.
Teresa pegou Flake dos braços de Yukio, o levando para a cozinha e nos deixando a sós. Endireitei a postura, para não parecer intimidada e sentei o mais distante possível dele.
— Onde estão Jean Carlo e Akemi? – Perguntei, servindo um pouco de suco de morango para mim.
— Saíram cedo para o trabalho. – O olhei de soslaio e vi que ele ainda me encarava, como um predador. Eu me sentia estranha, como se não fosse bem vinda. — Pediram para eu dizer que você pode conhecer o exterior da casa, se quiser.
— Está bem, farei isso. – Bebi um gole do suco, tentando ao máximo não olha-lo. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas havia alguma coisa, naquele garoto, que me fazia tremer quando ele me olhava.
— O que há de tão interessante nos talheres, Kaira? – Ele questionou, com um tom de sarcasmo na voz. Ele percebeu que eu estava com medo de olha-lo nos olhos.
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Não Posso Amar Ele
RomanceKaira sempre esteve acostumada á uma vida simples e dias repetitivos. Sendo uma adolescente de dezessete anos, ela sempre teve dificuldades em fazer amigos. Com uma mãe controladora e que mais parece uma amiga do que mãe, ela enfrenta os problemas d...