Capítulo 5.4

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— Que foi porra? – Era o cara daquele dia. Ethan o reconheceu quando gritou.

— A mamãe... – Quem falava era uma criança, não conseguiu ouvir o resto porque ela começou a chorar e embaraçou todas as palavras.

A chuva piorava, só dava pra ouvi-los porque falavam todos muito alto.

— Já não falei que a sua mãe saiu? E ela não vai voltar mais. E a culpa é sua. Agora sua nova mãe é a Jhennyfer. E a Jhennyfer e eu estamos ocupados, ENTÃO FECHA. A PORRA. DA. PORTA.

Nada ali era da sua conta. Não seria o primeiro pai abusivo que encontraria na sua vida.

Malditas aranhas.

— Mas...ela tá doente! — Eram duas crianças então, a voz soou diferente dessa vez, tinha de ser a casa. Sabia disso pois já havia visto os dois irmãos com Lívia antes.

Deviam estar falando dela quando se referiram a alguém doente. Não tinha outra hora melhor. Bateu à porta.

Megeras!

Um "Shh!" foi ouvido, mesmo em meio a chuva forte que caia, o homem certamente não se importava de ser ouvido. Ou não tinha noção do que falava tão alto? Tentava calar as crianças que nem mesmo estavam falando mais.

Apenas o silêncio reinava sobre os pingos de chuva. Alguém abriu e fechou uma janela na casa vizinha. Quando Ethan ia responder que estava na outra casa ouviu o homem atrás da porta, mais próximo dessa vez.

— Quem tá aí? –

Incrível, ele sabe como falar como um ser humano quando quer.

— Oi. Eu sou...amigo da Lívia. Sobre aquele dia–

A chuva estava pior agora. Grossos pingos marcavam o cabelo contra a testa, não iria parecer muito apresentável quando abrisse a porta, mas que mal fazia? Estava seguindo seu coração! (ou talvez fossem as aranhas).

— Esconde essa porrra ai! — Sussurrou num tom que era tudo menos um sussurro. Tentava dar ordens que soassem ameaçadoras sem levantar a voz, o que não funcionava muito bem quando a única coisa que separava os dois eram alguns metros e uma porta de metal barato – Já vai!

— E você—O resto não deu pra ser ouvido, provavelmente percebeu que tinha falado alto demais na última tentativa.

Ethan olhou pra cima, com certeza ficaria resfriado.

Uma pequena luz amarela no nível do meio da porta foi acendida e ficou visível por trás da cortina. A porta se abriu, só um pouco. Dela saiu metade do rosto de um homem relativamente cheio, (não necessariamente gordo, mas também podia-se dizer que não deixava nenhum osso à vista sob a pele) sem camisa e, apesar do tempo que fazia, suado como um porco. Era o tal do Alves de novo.

Ele parecia o tipo de sujeito que continuaria desagradavel de se ver mesmo depois da décima vez.

O peito estava marcado com tufos de pelo ondulado que faziam par com o bigodinho fino que usava. Atrás dele havia um quarto, ou sala, não dava pra dizer. Mesmo mostrando só metade do rosto pela fresta, Ethan facilmente viu sua expressão mudar de medo e complacência para absoluta raiva. Algo na expressão dele entregava que esperava alguém um pouco mais sério. Ethan reconhecia o olhar por experiência própria.

Alguém como a polícia.

— Você tem muito peito mesmo pra aparecer assim na minha porta, moleque.

Nesse momento estava muito bravo mesmo, tanto que nem se preocupou em mostrar que guardava a arma de volta na cintura, escondido por trás da porta.

— Eu...Eu vim saber da...

Sangue de Moleque - KorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora