- 𝖳𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗍𝗐𝗈

115 16 7
                                    

Milk-shake. o Sr. Gallagher gostava de milk-shake. Quando ele vinha para a casa de praia, a gente tomava milk-shake o tempo todo. Ele comprava uma caixa de sorvete napolitano

Louis e Aidan gostavam do de chocolate; Noah, do de morango; e eu gostava de um mix de baunilha com chocolate, como os Frosties no
Wendy’s. Mas muito mal batido

Os milk-shakes do Sr. Gallagher eram
melhores que os do Wendy’s. Ele tinha um liquidificador sofisticado que gostava de usar, no qual nenhum de nós devia mexer. Não que ele tenha dito isso com essas palavras, mas sabíamos que não era
para mexer.

E nunca mexemos. Até Noah ter a ideia de fazer as raspadinhas de Ki-Suco.

Não havia 7-Elevens em Cousins, e, embora tomássemos milk-shakes, às vezes tínhamos desejo das raspadinhas de lá.

Quando estava especialmente quente, um de nós dizia “nossa, como eu queria tomar uma raspadinha”, e então todo mundo ficava pensando nisso o dia inteiro. Por isso, quando Noah teve a ideia de fazer uma raspadinha de Ki-Suco, eu fiquei vidrada.

Ele tinhanove anos, e eu, oito. Na época, aquela pareceu a melhor ideia do mundo.

Vimos o liquidificador bem no alto da última prateleira. A gente sabia que precisaria usá-lo — na verdade, a gente queria muito usá-lo. Mas havia aquela regra tácita.

Não tinha mais ninguém em casa além de nós. Ninguém jamais precisaria saber.

— De que sabor você quer? — perguntou Noah

E assim ficou decidido. Aquilo ia acontecer. Fiquei com medo,
mas também eufórica por estarmos fazendo aquela coisa proibida.
Eu raramente desobedecia as regras, mas aquela parecia uma boa
regra a ser quebrada.

— Cereja preta — respondi.

Noah procurou no armário, mas não tinha Ki-Suco de cereja preta.

— Qual é seu segundo sabor favorito? — perguntou.

— Uva.

Ele disse que também achava uma boa tomar raspadinha de Ki-Suco de uva. Quanto mais ele falava em “raspadinha de Ki-Suco”, mais eu gostava da ideia.

Noah pegou um banquinho e tirou o liquidificador da prateleira de cima. Colocou o pacote inteiro de suco de uva no liquidificador e acrescentou duas xícaras grandes de açúcar.

Ele me deixou mexer. Então esvaziou a forma de gelo no liquidificador, até o copo ficar cheio até a borda, e prendeu em cima, como vimos o Sr. Gallagher
fazer um milhão de vezes.

— Aperto Pulsar? Ou frapê? — perguntou.

Dei de ombros. Nunca prestei muita atenção quando o Sr. Gallagher usava o liquidificador.

— Provavelmente frapê — respondi, porque gostava do som daquela palavra.

Então Noah apertou o botão frapê, e o liquidificador começou a cortar e a zunir. Mas como só a parte de baixo estava sendo misturada, Noah apertou o botão liquidificar.

A mistura continuou batendo por um minuto, mas daí o liquidificador começou a cheirar a borracha queimada, e fiquei preocupada que estivesse sobrecarregado com todo aquele gelo.

— Precisamos mexer mais. Ajude aqui.

Peguei a maior colher de pau, tirei a tampa do liquidificador e mexi tudo.

— Está vendo? — falei.

Coloquei a tampa de volta, mas acho que não encaixei direito, porque quando Noah apertou o botão frapê, nossa raspadinha de Ki-Suco de uva se espalhou por toda parte: na gente, nos
balcões brancos novos, no chão, em cima da pasta de couro marrom do Sr. Gallagher.

It's not a game without you • Aidan gallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora