Capítulo Cinco

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Point of view Hanna

— Isso é algum tipo de brincadeira? — Isaac praticamente rosna para Jéssica.

Thomas o chamou assim que aceitei a entrada de Jéssica em minha casa, como se precisássemos dele para percebermos que não podemos confiar nela.

— Não — diz Jéssica normalmente antes de se dirigir a mim: — Errei bastante no passado, Hanna, e sinto tanto por ter demorado anos para perceber isso. Mas eu estou falando a verdade, está bem? Maya está casada, estável. Mandou-me dizer que está bem, mesmo com saudades de todos vocês, e que Caio mentiu para ela.

— Em que sentido? — ouço perguntar automaticamente, mesmo sentindo o peso das palavras dela sobre mim.

Jéssica suspira, pesarosa.

— Tudo que ele disse a Maya era mentira. Eles não estavam falidos, pelo contrário, o casamento entre Maya e Zacharias traria muitos benefícios para ambos, Caio e Álvaro.

— Então ela não se casou por querer. — isso não deveria me aliviar, mas alivia. — Ela disse que estava bem, tem certeza?

— É claro que ela não está bem! — Isaac estoura. — Maya odeia ser obrigada a fazer algo que não quer. Caio sabe disso e deve estar fazendo um inferno na vida dela.

— Mais um motivo para irmos atrás dela. — declaro, e espero que Thomas tente me convencer do contrário, porém, do outro lado da sala, ele me fita com o olhar distante.

Alguns minutos se passam em total silêncio até que Jéssica o quebra:

— Tudo isso foi o que Maya me pediu para contar a vocês... mas eu ainda não os contei como eu a vi.

— E muito menos o que estava fazendo lá. — Isaac diz.

Jéssica o ignora e se dirige a mim:

— De uma forma bem estranha, acreditei que ela estava realmente bem. Não totalmente feliz em estar casada, mas sim... segura. Não acredito que Zacharias seja tão péssimo assim.

— E por que isso é estranha pra você? — pergunto-a.

— Porque eu achava que ela só ficaria segura com você.

Encaro seus olhos e vejo a verdade. Não apenas o que ela me disse, tudo era verdade. Porém, o peso que cai sobre mim é apenas um: Maya está casada com outra pessoa e eu não posso fazer nada.

— Onde ela estava? — Thomas pergunta de repente. Nem ao menos notei que todos estavam em silêncio.

— Em Bariloche. É uma cidade bem grande.

— Nenhum lugar será grande o bastante! — Thomas declara, me fazendo levantar a cabeça rapidamente.

— O quê?

Vejo-o olhar para Isaac rapidamente, este, com o rosto impassível, me respondeu:

— Vamos para Bariloche pela manhã.

Meu queixo caí, e sinto meus dedos formigarem com a decisão. Meu peito dói com a esperança de revê-la novamente após 5 anos, após eu achar que seria impossível sua volta, nosso reencontro.

E agora que a esperança voltou – mesmo que apenas uma parte dela – me sinto parcialmente viva de novo.

— Não ouviram o que eu disse? — Jéssica se sobressalta. — Ela disse que estava bem.

— Está bem não é o suficiente. — Isaac dá de ombros. — Eu quero que ela estava feliz. É o meu dever garantir isso.

Ela revira os olhos para Isaac.

Os anos se passaram, mas tenho a leve sensação que eles ainda não se suportam.

— Sempre bancando o herói. — ela murmura pegando a bolsa e jogando-o no ombro. — Seja como for, não é mais problema meu. Tenho minhas próprias questões para resolver aqui.

— E uma delas se chama Ethan? — Isaac a cutuca com um sorriso cínico.

Thomas e eu nos entreolhamos enquanto Jéssica demora para responder, mas, por fim, diz:

— Sim, Ethan é um deles. E seu ciúmes não vai me interferir dessa vez, Isaac, não mesmo.

— Nunca foi ciúmes.

— Não? Tem certeza? — agora era ela que sorria com cinismo.

— Sim, tenho. Nunca confundi meu ódio por Ethan pelo meu desejo de te ver com alguém melhor, que te fizesse entender o quão mau-caráter você estava sendo.

Sua confissão faz o silêncio voltar a pairar. Mas Jéssica, ao olhar para ele com os olhos lacrimejados, questiona-o:

— Alguém como você?

— Sim. — ele pigarreia. — Talvez não tão bonito quanto.

Reviro os olhos para seu comentário egocêntrico, mas, por dentro, me encontro com um pouco mais em paz... pois agora eu sei onde encontrá-la.

E eu vou encontrá-la.

•••

Jackson arremessa a mala sobre a cama enquanto eu continuo contando tudo o que aconteceu. Quando termino, ele acaba de fechar o zíper da mala.

— Não acredito que vamos fazer essa loucura. — ele murmura.

— A ideia foi sua. — rebato enquanto vou atrás dele no corredor. Tenho o impulso de pegar em seus ombros e chacoalhá-los, mas me contenho. Ele é um amigo de infância dela, está fazendo isso por ela, e eu não tenho intimidade para isso.

Porém, de forma abrupta, tombo com um corpo no meio do corredor. Fico tonta por alguns segundos e então minha visão foca no rosto dele.

— Tá sentindo isso?

— O quê? Tontura por ter esbarrado em um trator humano?

Jackson ri baixinho, mas volta a ficar sério com um suspiro.

— A palavra certa é euforia. Não achei que fosse sentir isso de novo em relação a algo tão radical.

Sorrio com ironia.

— Ava! Você foi de irmão mais velho e responsável de uma menor de idade para um tio de trigêmeos e cunhado do cara que você mais queria longe da sua irmã, tudo de uma vez só. Isso sim é radicalismo.

Jackson olha além de mim por alguns segundos e volta apenas para assentir em concordância.

— Nossa vida não é como era alguns anos atrás.

— Me sinto da mesma forma, mesmo que antes eu mal tinha consciência da sua existência. — tento sorrir para minimizar o que digo, mas Jackson apenas ri e nega com a cabeça.

— Você não me conhecia, mas a Maya falava tanto de você que parecia alguém próxima de mim também. — ele dá de ombros e suspira. — Hanna, você poderia me prometer uma coisa?

Fito seus olhos e sinto um arrepio. Sou péssima em promessas.

Jackson dá um passo a frente, colocando as mãos em meus ombros, ele me olha com seriedade. Levanto meu queixo para fitá-lo também já que sou imensamente menor.

— Me prometa que não vai tornar isso uma brincadeira.

Franzo o cenho e deixo minha confusão óbvia, e logo sinto suas mãos apertarem levemente meus ombros.

— Hanna, atravessar meio mundo por uma pessoa que você só quer resgatar para poder brincar é muito babaca, e eu não consigo acreditar que você faria algo do gênero.

Me desvencilho de seu toque.

— Não acredito que pode considerar essa possibilidade.

— Hanna, não me leve a mau...

Meus dentes rangem de raiva e eu não me controlo ao interrompê-lo:

— Eu a amo! Porra! Estou indo para o outro lado do mundo para vê-la, Jackson, e a última vez que eu me senti tão feliz assim foi quando estive com ela. — forço-me a respirar fundo. — Não diminua o que eu sinto dessa forma, não faça isso.

Ele escuta o que digo com o rosto impassível. Estou pronta para dar-lhe as costas, entrar no carro com Isaac e Agatha e ir embora, mas é quando estou abrindo a porta de sua casa, ouço-o gritar:

— Espere!

Arrastando a mala, ele chega até mim com poucos fios de cabelo grudando na boca.

— Acredito em você. — ele diz antes de afastar o cabelo de seu rosto.

— É bom ouvir isso. — digo ainda prestando atenção em seus cabelos voando. — Deus, você precisa de um corte urgente.

Jackson abre o sorriso mais largo do mundo antes de sermos interrompidos pelas inúmeras buzinadas de Isaac. Reviro os olhos, embora sinta o peito dar um salto ao perceber: está acontecendo. Vamos para o aeroporto e então voar para Bariloche. Eu vou revê-la. Eu vou poder dizer que a amo.

Sinto as mãos de Jackson me empurrando até o carro porque, de alguma forma estranha, meus pés não conseguiram sair do lugar. E é quando a porta do carro está sendo fechada que sinto uma mão puxando-a de volta.

Olho para a janela e o encontro parado com uma mochila nas costas.

— Tem espaço para mais um?

Estou no banco de trás com Jackson, Isaac no volante e Agatha no banco do passageiro. Do banco da frente, Isaac olha para mim antes de se voltar para Thomas e respondê-lo:

— Depende, vai trazer seus trigêmeos na bagagem?

— Babaca. — Thomas diz ao revirar os olhos e adentrar o carro.

— E como fica Giulia e a trindade? — questiono-o, afinal, esse era o motivo dele não concordar em viajar.

E a resposta é puro Thomas.

— Por sorte, tenho a melhor esposa do mundo. — se inclina um pouco para olhar para Jackson ao meu lado. — E o cunhado mais babaca também.

De soslaio, vejo Jackson revirar os olhos e assim que Thomas desvia o olhar, vejo-o sorrir. Encosto-me no banco ao sentir o carro em movimento, no rádio começa a tocar “all of the stars”. Encosto minha cabeça no ombro de Thomas enquanto sinto a mão de Jackson fazendo um leve carinho no meu joelho. Pela janela, observo as estrelas e deixo que a música adentre em mim.

“Você está do outro lado
A linha do horizonte se divide em dois
E estou a milhas longe de te ver
Eu posso ver as estrelas
Da América
Me pergunto, será que você pode vê-las também?

Então abra os olhos e veja
O modo como nossos horizontes se encontram
E todas as luzes vão te guiar
Pela noite comigo
E eu sei que essas cicatrizes irão sangrar
Mas os nossos corações acreditam
Todas essas estrelas vão nos guiar para casa”

E aos poucos sinto meus olhos pesando. Vou adormecendo e caindo em um sono leve, mas eu me lembro, me lembro da última que pensei naquela noite.

Onde quer que ela esteja, será que ela consegue ver as estrelas também?

Te Esperar Valeu A Pena [Clichê sáfico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora