Capítulo Quatorze

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Estou tão nervosa quanto Zack. Sei que isso tem que ser feito mas não consigo não sentir pena dele. Ele será preso e ficará na prisão por alguns dias.

Henrique o abraça mais uma vez depois de Thomas, Jackson, minha noiva e eu.

— Eu vou pagar a sua fiança assim que der o tempo, ok? — Henry tenta tranquilizá-lo.

Entendo a agonia de Zack em relação à cadeia. Tem muita gente que não toleram agressores de mulheres e estupradores, e com toda a razão. As chances de Zack sair sem um arranhão são pequenas, mas mesmo assim ele deixa o apartamento e vai.

Nos sentamos no sofá e esperamos. Algumas horas se passam e os sites começam a publicar matérias com a sua declaração pelo stories do Instagram.

“...O que mais me machuca nessa história é o fato da impressa estar atormentando o meu pai. Ele que tanto já me disse que agressores são covardes, que não se resolve nada com a violência. Estou muito machucado pelos ataques que ele está recebendo, e não eu. Eu sou o agressor, eu sou o errado aqui. Em nenhum momento meu pai levantou a mão para qualquer ser vivo, até mesmo quando eu merecia. Não sei de onde veio meu temperamento agressivo, ou se eu sou apenas um mau-caráter, mas isso não tem nada a ver com o meu pai, deixem-no em paz!

E a minha ex-esposa, perdão!”

Essa é a principal parte do stories.

— As pessoas estão enfurecidas com ele, e estão tirando o foco de Álvaro dizendo que ser mau-caráter não tem nada a ver com DNA e que ele não deve ser atacado pelo comportamento do filho. Olha só. — Hanna me mostra os comentários.

— Funcionou, então. — confirma Henrique de braços cruzados no sofá, olhando para o jornal na televisão onde passa alguns repórteres tentando falar com Álvaro. Seus olhos estão vermelhos para insinuarem que ele andou chorando.

Reviro meus olhos.

— Não dá para acreditar em tudo que se vê. — comento e, de soslaio, vejo Henry impassível. — Quantos dias ele terá que ficar preso até que possamos pagar a fiança?

— Dez.

Deito minha cabeça em seu ombro para confortá-lo, ele suspira mas logo encosta a dele à minha. Hanna deita sua cabeça em meu colo e passamos alguns minutos assim.

Jackson acompanhou Zack até a cadeia, e levou o carro dele de volta para a casa de Álvaro. Alguns minutos após o fim da entrevista com Álvaro, ele adentra o apartamento.

Sinaliza com a mão para nós, um “oi” mudo e vai direto para o quarto de Thomas, que, desde que voltou, está trancado no quarto.

Ficamos em silêncio até a hora que Henrique tem que ir embora. Jackson o acompanha e volta para dormir no apartamentos ao lado que divide com Isaac. Hanna e eu vamos direto pra cama, e fazemos tudo isso em silêncio, é como se estivéssemos de luto.

Porque tem chances de Zacharias ser assassinado na prisão.

•••

Aperto os ombros de Henrique quando a hora chega, lhe dando forças e ao mesmo tempo comemorando porque dez dias se passaram e Zack está vivo. Colocaram ele em uma sela solitária, e ele vez ou outra saía.

Hanna encosta seu queixo em meu ombro, o conforto que eu preciso para me despedir deles por algumas horas.

— Tem certeza que não quer vir com a gente?

— Ela não pode — Henry a responde por mim. —, seria um tanto estranho a vítima estar aguardando a saído do seu agressor.

Assinto em concordância com Henry antes de segurar o rosto de Hanna entre minhas mãos.

— Ficarei bem. Só preciso ir até o banco e retirar o resto do dinheiro pra gente ir embora daqui. — beijo-a demoradamente. — Te encontro daqui a duas horas.

Hanna assente, mesmo a contragosto e adentra o carro para que Thomas, Jackson, Henrique e ela busquem Zack. Vejo quando o carro dobra a esquina e some do meu campo de visão.

Subo mais o zíper do moletom e atravesso a rua em direção ao banco. Ele não fica muito longe, apenas 15 minutos andando, portanto vou a pé. Coloco meus fones de ouvido e ponho no aleatório apenas para me distrair enquanto percorro um quilômetros e meio.

O banco tem uma estrutura moderna e agradável até. Vou até o caixa eletrônico e saco todo meu dinheiro, que não é muito, apenas cinco mil dólares. Maior parte dos meus bens são imóveis: minha casa na Inglaterra, um apartamento que Caio alugou para um casal de idosos em Berlim, e por último: uma casa de praia.

Coloco meu dinheiro na bolsa e para a saída. A rua está parada por isso não ligo de olhar para os dois lados. A música toma todos os meus sentidos enquanto eu ando de volta para casa, e mesmo que “losing girp” esteja estourando em meus ouvidos, eu sinto quando meu corpo para e meu coração apenas desacelera quando sinto suas mãos me empurrando para o mais longe possível. Sinto meus joelhos se arranharem no chão enquanto o oxigênio se esvai do meu corpo.

Não, por favor, não.

Não quero olhar pra trás.

Mas sei que tem vidro estilhaçado por todos os lados. Meus olhos se voltam para alguns metros, esses que fui arremessada para longe do corpo ensanguentado e inconsciente.

Apenas consigo sussurrar seu nome entre meus lábios trêmulos enquanto forço meus ossos a se mover até ele. Por favor, esteja vivo.

Me arrasto até o sangue e o vidro e caio de joelhos, querendo sentir seus batimentos. E eu os sinto, no entanto, ele está perdendo muito sangue e está inconsciente.

— Eu estou ligando para a emergência. — ouço alguém dizer e eu agradeço enquanto curvo meu corpo até o dele sussurrando as mesmas três palavras, sentindo meu soluços se misturando com as lágrimas.

Fica comigo, Isaac.

Te Esperar Valeu A Pena [Clichê sáfico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora