Capítulo Dois

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Cinco anos atrás...

Point of view Maya:

Levo minha mão ao rosto assim que a sua atinge minha face em cheio. Alguns segundos se passam até que eu possa processar o que de fato está acontecendo: ele me bateu. De todas as coisas que eu um dia cheguei a pensar que Caio faria comigo, nunca achei que chegaria a isso.

Levanto meu rosto com os músculos do local atingido rígidos. Ele me desafia a retrucar, a começar uma briga para piorar minha situação em frente aos seus sócios, dentre eles Álvaro Baker e seu filho, Zacharias, ou melhor dizendo, meu noivo.

— Pai... — Henrique, meu único primo, o chama com um pedido por trás que grita: não a machuque.

Caio o ignora. Seus olhos ainda grudados aos meus em desafio, se eu desviar o olhar ou abaixar a cabeça, estou me submetendo a seu plano ridículo. E não vou aceitar ser um peão no seu jogo. Não vou me casar com Zacharias, sendo que quem eu amo está a milhas de distância, provavelmente me odiando, provavelmente nem sabendo do que eu sinto. Não tive tempo de contar tudo, e agora não posso mais o fazer nem por carta, celular ou até mesmo sinal de fumaça. Seja lá o que Hanna e eu começamos a ter, Caio acabou de me tirar. E aceitar sse fato me dói mais do que seu tapa.

Para minha surpresa, quem desvia o olhar é ele. Mas isso não significa que eu ganhei, na verdade, não significa nada. Ele ainda está no controle.

— Pode começar os preparativos para o casamento. — diz Caio à Álvaro. — Ela irá aceitar até lá.

Álvaro descansa o talher enquanto diz:

— Não vou começar os preparativos até que a menina aceite, caso contra seria uma vergonha.

— Ela irá aceitar. — Caio o assegura com um olhar fixo ao dele, mas Álvaro não parece tão convencido assim.

— Me dê uma resposta assim que possível. Se a garota não aceitar, não haverá casamento...

— Eu já disse que não aceito. — eu o interrompo.

Ele continua como se minha presença não fosse nada.

— ...e não quero quaisquer confusão associada ao nome de minha família. Então — após limpar a boca, prossegue: — é bom que ela tenha certeza do que quer, senão, Caio, pode esquecer.

Pela forma que meu tio engole em seco, fica óbvio o que está em jogo: dinheiro, poder, cargo. Mas eu não quero e não vou fazer parte disso.

A mão de Henrique se entrelaçara a minha quando vamos em direção à saída do restaurante. Apesar dele ser apenas um garoto de quinze anos, ele entende mais do mundo empresarial do que eu, consequentemente sabe como as coisas funcionam. Ele mantem a mão entrelaçara à minha até que estejamos em casa, talvez com medo de que se elas estivessem livres fossem parar no pescoço de seu pai.

No quarto, permito-me chorar. Estou longe de casa, com saudades de todos e em um lugar que não existe amor. Hanna deve me odiar, além de tudo, e com razão: eu me aproximei, a fiz gostar de mim, se entregar e então fui embora. Por um segundo me arrependo de ter me aproximado. Isso nunca deveria ter acontecido. Eu não deveria sair das sombras, mas eu sai. E agora eu me arrependo, porque tudo que eu a causei não é muito diferente do que Ethan causou.

Rolo para o outro lado e adormeço com o desejo de que ela esteja bem, porque eu não estou nem um pouco.

•••

— Você não tem noção do que está em jogo! — berrou Caio em outra de nossas discussões. Já se passaram duas semanas desde aquele dia, e mesmo recebendo um “não” diariamente, Caio não desiste.

Estou cansada, tão exausta que emagreci três quilos em menos de um mês. A ansiedade tem me consumido hora após hora, minuto após minuto, e eu não consigo parar de querer ir embora. Eu só quero que isso acabe; essa pressão, esses olhares enraivecidos e a decepção.

Abro meus olhos com esforço. Minhas pálpebras estão pesadas, reflexo das noites mal dormidas.

— Pela última vez, não vou me casar. — declaro, fraca mas convicta. — Não há nada que você possa fazer para que isso mude, tio, e eu estou cansada da sua insistência.

— Você não entende... — ele praticamente rosna, enraivecido. — Maya, eu menti sobre o roubo que um associado meu em relação a você. Ele não roubou apenas sua herança... Ele me roubou também. Não tenho nada além de um cargo que não dá para pagar as contas. E eu não vou abrir mão da vida que eu levo porque você não quer abrir as pernas.

E é o suficiente para meu cansaço se esvair e seu rosto adquirir um tom avermelhado após meu tapa. Engulo o bolo em minha garganta com força e solto o ar, incrédula. Nunca fiz isso antes. Nunca me senti tão humilhada também.

Caio me fita com rigidez e em seguida me agarra com força, fazendo com que eu me desequilibre e tenha que confiar em seu toque para não cair. Sua outra mão agarra meu rosto, me forçando a olhar em seus olhos enquanto ele diz:

— Você é realmente tão burra quanto sua mãe foi, se não mais. Me dá um tapa, Maya...? — ele ri com amargura. — Como você achou que isso fosse melhorar a sua situação, me diz?!

— Eu não quero melhorar a situação. A única coisa que eu quero é ir embora.

Caio crispa seus olhos enquanto examina meu rosto.

— Que bom você poder me dizer o que deseja, sei que isso está acabando com você — diz com doçura enquanto retira alguns fios de meu cabelo. Desvio de sua mão, não confiando nenhum pouco no gesto. — ...porque assim eu poderei fazer tudo ao contrário.

Sua mão que estava em torno do meu braço se fecha com mais força do que eu achei que fosse possível. A outra volta a agarrar meu rosto, o virando para que possa sussurrar em meu ouvido:

— Seja bem-vinda ao inferno, querida.

Três meses depois disso, eu esteja casada com Zacharias Baker.

Te Esperar Valeu A Pena [Clichê sáfico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora