15 dias depois...
Os olhos de Caio penetram os meus, mas ele não pode me machucar pois está do outro lado do tribunal. Álvaro tenta demonstrar que está desinteressado mas sabe que não há mais nenhuma chance de limpar seu nome.
Meus dedos se entrelaçam com os de Hanna ao meu lado. Ao meu lado esquerdo, Zacharias e Henrique fitam Caio e Álvaro comigo, já a minha direita, Hanna e Jackson me fitam. Thomas ficou no hospital e nos dará notícias assim que Isaac acordar. No momento, nosso único foco é esperar a sentença do juiz.
Caio está sendo processado por tentativa de homicídio e por agressão física. Álvaro também está sendo processado por tentativa de homicídio. Donald também está.
— Todos de pé, por favor. — o Juiz ordena e ficamos. — Por falta de provas que inocentem os réus Caio Collins e Álvaro Baker e por muitas provas que o acusem...
Vejo quando os olhos de meu tio se fecham e seus ombros caiem.
— ... Eu os declaro culpados! Serão condenados a 17 anos de cadeia por tentativa de homicídio contra Isaac Miller e mais seis meses de prisão a Caio Collins por agressão física contra Maya Collins.
Ergo meu rosto quando Caio direciona seu olhar em minha direção. Demonstro superioridade mesmo quando ele percorre o tribunal, sendo em seguida agarrado pelos policiais.
— Meu maior erro — começa ele rosnando para mim. —, foi não ter tentado te matar com as minhas próprias mãos!
Meus dentes travam uns contra os outros, e eu não me permito fraquejar agora.
— Não deixei nada para você, Henrique! Enquanto eu viver, você não terá um centavo de mim! — diz enquanto continua se debatendo contra os policiais, em certo momento, ele se solta de alguns e vem até nós, agarrando o filho pela camisa ele o suspende e o arremessa no chão. Zack o empurra com força, fazendo-o tropeçar pelas escadas até que um dos policiais o agarra por trás e o arrasta para longe de nós.
Sendo erguido por Zack e eu, Henry analisa o arranhão em sua testa.
— Eu daria tudo a você, seu ingrato! Tudo! E mesmo assim escolheu me decepcionar!
Caio continua se debatendo enquanto Álvaro aceita sua punição de livre e espontânea vontade. Pelo ao menos nisso ele é mais inteligente que Caio.
Em determinado momento, Caio é preso na parede do tribunal, onde de nós, enquanto outro oficiais algemam seus tornozelos e suas mãos.
E mesmo assim ele não desvia seus olhos dos meus, nem por um segundo.
— Eu irei atrás de você, Maya. E eu matarei você. — seu queixo se ergue. — ...Assim como fiz com seu pai.
Engulo em seco sua declaração. Não, não, não... meu pai foi vítima de uma tentativa de assalto à mão armada...
“Há muitas formas de se matar alguém de forma competente, sabia? Assalto à mão armada, por exemplo...”
— Você está se lembrando agora? — sua voz está distante mas eu a acompanho. — Naquela noite, seu pai tentou reagir ao assalto, eu sabia que ele iria fazer isso, é claro. E então eu o matei, mas você estava lá, não estava? Eu não deveria ter deixado você viver também. Se soubesse que você chegaria até aqui, eu teria te matado também.
Meus dentes rangem uns contra os outros. Sinto as mãos de Hanna em volta do meu antebraço, no entanto, não é o suficiente para me impedir de pular o guarda-corpo que separa Caio de mim. Desvio de um oficial que tenta me impedir e acerto sua barriga em cheio.
Sou agarrada pelos punhos, no entanto, isso não me impede de chutar a têmpora de meu tio. Meu maldito tio que matou meu pai, seu próprio irmão.
— Desgraçado! — esbravejo enquanto sou arrastada para o lado contrário a ele no tribunal.
O oficial ordena que fiquemos quietos mas eu não consigo. Luto contra os braços do oficial que tenta me prender à parede, mas é inútil. Acabo desistindo. Agarro a roupa preta do oficial e escondo minhas lágrimas enquanto Caio é escoltado para fora da sala.
— Eu sinto muito... — murmura o oficial que agora me abraça. — Meu pai também foi assassinado, então eu entendo o que você tá passando.
Afasto meu rosto de seu uniforme e o olho nos olhos.
— Me desculpe...
— Não há de quê! Você tem todo o direito de socar quem você quiser...
— William! — esbraveja outro oficial que segura a porta para o colega.
Simples assim, o jovem oficial me solta e corre até o oficial mais velho. Deve ser novo no trabalho para demonstrar compaixão em um tribunal.
Hanna é a primeira pessoa a me abraçar quando somos deixados sozinhos na sala. Ela segura meu mundo enquanto eu desabo em seus braços. Me agarro a ela e choro como se eu tivesse perdido meu pai mais uma vez.
•••
Traço meus dedos pelas linhas da mão esquerda de Isaac. Estou abatida desde que saí do tribunal, no entanto, feliz por finalmente me livrar de Caio. Pedi a Hanna que me deixasse aqui com ele, porque estou cansada demais, porque sinto a falta dele, porque me sinto culpada por ele está aqui, porque quero que ele volte e me diga que está tudo bem agora, que Caio não conseguiu tirar mais uma pessoa de mim.
Encosto-me mais ao lado da cama e ponho minha cabeça no peito de Isaac e, silenciosamente, choro. Choro a falta de meu pai, choro por não ter ajudado ele quando desci as escadas, há 15 anos atrás, e vi seu corpo ensanguentado no chão, tremendo até que sua vida se esvaísse desse mundo.
Eu vi meu pai morrer estirado no chão, não posso ver Isaac tomar o mesmo rumo. Eu simplesmente não aguentaria perdê-lo e mesmo assim sinto que estou perdendo-o. Sinto que Isaac pode morrer a qualquer hora.
Mas então paro de chorar ao sentir sua mão acariciar meu cabelo.
— Isaac? — questiono ridiculamente enquanto divido meu rosto entre as lágrimas e um sorriso esperançoso.
— Quem mais seria? — responde com a voz rouca.
Reviro meus olhos antes de vê-lo se endireitando na cama. Eu deveria chamar uma enfermeira, um médico, mas eu sei que eles me tirariam do quarto em seguida.
— Posso ser egoísta e não avisar a ninguém que você acordou só para te ter mais um pouco comigo?
Isaac pigarreia. Já estive em coma, sei o quão ruim é ter que voltar a exercitar as cordas vocais.
— Sou todo seu.
— Tenho quase certeza que você não deveria estar falando. — examino seu rosto. — Tem alguma ideia do que aconteceu?
— Tenho: eu salvei sua vida, o que me faz ser o herói da história agora.
— Claro. — reviro meus olhos antes de ver aquele sorriso malicioso voltando para o seu rosto. — Isaac, algum dia você ainda me perdoará?
— Não, eu não poderei. — fazendo um tremendo esforço, ele se inclina para a frente. — Porque quem tem que pedir perdão sou eu, Maya.
Tento intervir mas ele me corta.
— Eu era seu melhor amigo, eu não tinha o menor direito de ter feito o que fiz. Hanna foi a única pessoa que você amou em toda a vida e eu não levei em consideração isso. Você tinha razão, Hanna não era sua, poderia fazer o que quiser, mas eu era seu melhor amigo e fui um tremendo filha da puta... portanto, quem te pergunta sou eu: Maya, algum dia você ainda me perdoará?
Pisco tentando afastar as lágrimas mas elas caem mesmo assim.
— Você ainda é meu melhor amigo e sempre será. — sento-me na beirada da cama e afago seus cabelos castanhos. — Está tudo bem, Isaac... vamos pra casa.
E então, como o sol voltando para o céu após uma tempestade impetuosa, o sorriso malicioso dele volta a reinar em seu rosto.
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Te Esperar Valeu A Pena [Clichê sáfico✓]
Ficção AdolescenteÚltimo ano do ensino médio. Maya vai ter que fazer de tudo para fazer com que Hanna Morris note que seu namorado, Ethan Patterson, a traí. Mas como fazer isso quando descobre com quem ele está? Como fazer isso quando sabe que no fundo está querendo...