Estou parada na parte de dentro de um restaurante vazio. Henrique está ansiosa, balançando a perna em sinal de nervosismo. Odeio ter que colocá-lo nessa posição, mas não há outra saída. Do lado de fora, o paparazzi contratado pelo próprio Henrique, está a espreita apenas esperando a chegada de Zack.
— Que horas são? — questiono a Henrique.
— 16 horas e 34 minutos. — responde ele afundando na cadeira. — Ele já deveria ter chegado.
Concordo rapidamente, encarando meu primo.
— Quando isso acabar, você vem comigo para casa, não é?
Henry suspira com pesar.
— Não sabemos ao certo o rumo que isso terá, Maya. Eu gostaria muito de dar o fora com você com Zacharias, conhecer seus amigos, a cidade onde meus tios viveram — se curva sobre a mesa e coloca seu queixo apoiado nas mãos —, porém, por mais que o meu pai seja do jeito que é, ele ainda é meu pai.
— Discordo completamente de você. Caio não é uma pessoa boa, e não merece essa compaixão toda.
— Se eu o abandonar, serei tão ruim quanto ele.
— Virar as costas para algo que te faz mal é um ato de amor próprio, Henrique, não de maldade.
Ele abre a boca para discordar, porém, logo em seguida a fecha e desvia o olhar. Olha novamente para a tela do celular, se joga contra a cadeira e fecha os olhos.
— De qualquer forma — volto a falar —, quando Zacharias e eu precisarmos fugir, você terá que escolher se virá conosco ou não.
— Tenho noção disso, mas não é tão fácil decidir isso de uma hora para outra. Tem muito mais de mim aqui.
Semicerro meus olhos em sua direção.
— Isso que ‘tá rolando entre vocês é real, não é?
Não preciso de sua afirmação verbal porque ela vem na forma em que ele ruboriza mesmo na pouca luz.
— Isso tudo é tão irônico. — murmuro.
— O que é irônico?
— Você e Zacharias podem ir embora e ficarem juntos, basta a sua escolha. Já eu tive que ir embora arrastada sem ter o que escolher.
Henrique franze o cenho.
— Meu pai não colocou uma arma na sua têmpera e te obrigou a entrar no avião, Maya.
Não acredito que estou ouvindo isso.
Sento-me direito na cadeira e o encaro diretamente.
— Ele mentiu na minha cara no meu maior momento de vulnerabilidade física. Eu não tinha nada, segundo ele. E sei que, sendo realista, eu não teria tempo de ficar em uma faculdade e trabalhar o bastante ao mesmo tempo.
— Muitas pessoas fazem isso. — ele dá de ombros, me fazendo revirar os olhos.
— O problema não é esse! Eu não poderia bancar uma faculdade, estudar e sustentar a minha casa sozinha! — tento me acalmar, mesmo sentindo a irritação em minha pele. — Eu daria de tudo pra ficar ao lado de Hanna, de tudo, Henrique. E você está mesmo considerando ajudar uma pessoa que nos fez estar nessa situação invés de escolher a pessoa que você ama, é sério?
Contra isso, Henrique não tem argumentos. E é exatamente nesse momento que ouvimos passos na entrada do restaurante fechado. Nós dois levantamos quando Zacharias se aproxima da mesa.
— Achamos que você não viria mais. — comento para dissipar o clima tenso que, felizmente, ele não nota.
— É bom que isso dê certo.
— Vai dar! — afirma Henry já colocando o sobretudo. — Eu vou sair primeiro, Jordan vai me fotografar tampando o rosto e em seguida é a vez de vocês.
A intenção é que pareça que eu estava o traindo e a raiva tomou conta de Zacharias para que ele me agredisse. Jordan, o paparazzi, vai cuidar para que na matéria fique nítido a situação.
— Pronta? — Zacharias me questiona assim que Henrique sai pela porta. Apenas assinto e deixo que ele agarre meu pulso e comece a me arrastar para fora do restaurante. Luto contra o seu aperto assim que passamos pela porta, porém, como o combinado, apenas consigo me soltar dele quando estamos na calçada que é quando começamos a discutir. Eu tento o empurrar pelo peito, porém, Zacharias mal sai do lugar. Ele grita comigo, agarra meu braço com força e continua a falar coisas contra o meu rosto. Tento me soltar dos seus braços que apertam-me cada vez mais, tento chutá-lo mas em vão. Seu maxilar está trancado, ele demonstra raiva e indignação a cada fala sua contra o meu rosto. Quando consigo me desvencilhar dele, sou arremessada contra o chão por suas mãos que deixaram hematomas nos meus braços. Tento levantar mas ele chuta o meu estômago, me fazendo gemer contra o chão. Ele continua gritando, apontando o dedo no meu rosto que eu tento esconder atrás de meus cabelos e minhas mãos.
Até que tudo para. Zacharias não está mais gritando comigo, ele está do meu lado ao chão tentando se proteger dos socos que outra pessoa desfere em seu rosto. Mas eu sei que Zacharias não irá conseguir se proteger por tanto tempo, pois quem está batendo-o eu o conheço. E o conheço muito bem.
Isaac.
Não, mas há outra pessoa que não vi até prestar atenção na cena. Um outro homem está chutando a barriga de Zacharias, e é pelo cabelo longo que eu o reconheço: Jackson.
Em um momento de adrenalina, tento me levantar e apenas consigo quando sou ajudada por alguém que me pega pela cintura e faz com que eu me apoie contra seu corpo. O toque das pequenas mãos em minha cintura... eu já a senti antes. O perfume de flores francesas, eu já o senti antes. A voz que repete meu nome tantas vezes em meio a um choro impiedoso, eu já a ouvi antes. A forma como só ela consegue fazer meu coração ficar nesse estado, lutando por espaço em minha caixa torácica, eu já senti antes.
Meus sentidos ignoram a situação. Tudo isso é plano de fundo quando sinto o toque de Hanna mais uma vez depois de todo esse tempo. Depois de cinco anos sem nenhum tipo de contato, Hanna ainda é tudo o que vejo.
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Te Esperar Valeu A Pena [Clichê sáfico✓]
Novela JuvenilÚltimo ano do ensino médio. Maya vai ter que fazer de tudo para fazer com que Hanna Morris note que seu namorado, Ethan Patterson, a traí. Mas como fazer isso quando descobre com quem ele está? Como fazer isso quando sabe que no fundo está querendo...