Capítulo Sete

810 73 3
                                    

Point of view Maya

Sento-me ao lado de Henrique na cama, esse nem ao menos me olha nos olhos, deixando seu olhar vagar por um canto qualquer do quarto. É Zacharias que começa a explicação, e eu o ouço.

— Ele e eu nos conhecemos desde que nossos pais começam a ficarem próximos. Eu tinha 16 anos, Henrique 11. E eu o odiava por ser tão irritante. — ele sorri por um segundo, mas quando nota que o sorriso não é mútuo pelo próprio, ele morre. — A frequência com que nos víamos me obrigou a suportá-lo, a criar algum tipo de convivência. E eu consegui, por algum tempo, até que, aos 13 anos, ele me apresentou uma garota.

— Namorada? — questiono para meu primo, porém é Zack que responde:

— Não, apenas uma garota que ele estava ficando. Bom, eu surtei, em suma, e então brigamos. Eu tinha 18 anos, então sabia que eles não podiam se envolver naquela idade...

Henry o corta:

— Dois anos se passaram e você ainda não admite que estava com ciúmes, incrível.

Zack o olha por um segundo e então o ignora.

— Eram apenas duas crianças, eu sei o tipo de coisa que nós descobrimos nessa idade. Somos curioso e intensos. Treze anos é uma idade delicada. — passando a mão pelos cachos, Zack continua: — Foi apenas quando ele completou 15 anos que eu percebi meu interesse nele. Com 16, começamos a namorar.

Franzo a testa ao fazer os cálculos.

— Henrique tem 16 agora. — afirmo, olhando o perfil do próprio. — Não tem tanto tempo assim que vocês estão namorando em segredo.

...E quase foram pegos, impressionante.

— Uma semana após eu tê-lo pedido em namoro — Henrique toma a palavra, agora olhando pra mim. —, você chegou aqui. Eu sabia o que aconteceria, Maya, e mesmo assim fiquei quieto, vendo meu tio planejar o futuro de todos nós sem ao menos perguntar o que queríamos.

— Tudo por benefício próprio.

— Exatamente. — Zack finalmente desencosta da parede e se senta ao meu lado, me deixando entre os dois. — Mesmo com ele controlando as nossas vidas, eu não vou deixar que ele controle meus sentimentos também. Isso nunca.

Sinto um misto de admiração e pessimismo em mim, mas logo desfoco meus sentimentos quando Henrique diz:

— Que diferença vai fazer você me amar ou não? Não podemos ficar juntos mesmo assim.

Contra esse fato, Zacharias não tem argumento para rebater. E algo me diz que essa não é a primeira vez que eles já tiveram essa conversa. Por algum motivo, lembro-me de Hanna. E por outro motivo mais sem sentido ainda, levo meu olhar até as estrelas por trás da janela. Mais um motivo sem sentido – mas, enfim, quem está contando? –, me sinto bem. Me sinto... esperançosa.

Levanto-me da cama e fico em frente a eles.

— Caio e Álvaro não vão deixar que nos divorciemos, isso é um fato. Então precisamos levar isso para outro nível.

— Como o quê? — Zack questiona, e automaticamente fitamos Henrique.

— Ambição foi o que nos trouxe até aqui, ou seja, eles vão fazer e já estão fazendo tudo por poder. E só tem uma coisa capaz de fazer com que o poder comercial deles caíam.

— Outra concorrência? — questiono, mas Zack e Henry respondem se olhando:

— Polêmica.

Tudo bem, eles dividem o mesmo neurônio.

— O quê? Isso não vai meio que destacar ainda mais os nomes deles? — cruzo os braços. — Dar ibope não é bem no que eu estava pensando.

— Ibope eles já têm, mas nenhum deles é negativo. — Henry explica. Faço um “Aah”, sinalizando que entendi.

— Uma polêmica vai manchar o nome da empresa, não o suficiente para fali-los, dependendo de que tipo de polêmica eles se envolverem.

Deixo a começa cair para o lado, tentando entender o que ele quer dizer com isso.

— Racismo, por exemplo. — Henry segue o pensamento do outro. — É uma grande questão social, mas nem todas as outras empresas vão quebrar contratos com eles porque, infelizmente, a maioria deles são racistas também.

Assinto a cabeça em concordância e coloco minha cabeça para funcionar. Henrique e Zacharias entendem mais sobre causas sociais e comércio do que eu, mas tem uma coisa que me vem em mente.

— Violência doméstica.

— O quê? — Zack questiona, porém não preciso explicar já que Henry logo segue minha linha de raciocínio:

— É uma das únicas coisas que fará com que alguém vá a prisão, além de racismo.

— Desculpa, eu ainda não entendi.

Reviro os olhos para sua lentidão e me sento novamente ao seu lado.

— Caio e Álvaro têm uma empresa de cosméticos e perfumaria, Zack. O público-alvo deles são as mulheres, e sabemos que elas não vão mais comprar uma marca que está envolvida com violência doméstica.

— Isso eu entendi, o que não sei é como vamos fazer isso.

Henrique me olha e eu sei exatamente no que ele está pensando, porque eu também tive a merda da mesma ideia.

— Está pronto para ser odiado e xingado? — sorrio para Zacharias.

— Aí, porra... — ele finalmente entende. — Não brinca com isso.

•••

Graças ao porte fechado e misterioso de Zacharias, isso será fácil. Henrique gravará o momento em que Zacharias estará me agredindo, isso em uma qualidade que dê apenas para identificá-lo, entregaremos o material para um paparazzi e em seguida esperaremos até que a notícia saía. O que deve acontecer em menos de três dias. Eu serei maquiada para que as redes sociais tenham mais o que falar. Caio não saberá do envolvimento de Henrique, isso é bom. E eu sei que, quando o nome de Álvaro estiver afundando na lama assim que o filho for preso por agressão, ele logo cortará qualquer laço que tiver com Álvaro... isso felizmente inclui o meu casamento.

Henrique terá uma participação maior por trás, e esse é a segunda grande parte do plano.

A parte mais difícil, no momento, está sendo convencer Zacharias disso.

— Não acho justo termos que envolver uma coisa terrível que acontece diariamente com todas as mulheres como armação. Não sei, Maya, mas parece algo bem sujo.

Entendo o argumento. Infelizmente milhares de mulheres terão gatilhos quanto a isso, e essa é a pior parte. Entretanto, por outro lado, sei que consertaremos tudo isso.

— Algo que meu tio faria como benefício próprio? — questiono e ele assente, prestando toda a atenção na estrada.

— Infelizmente, teremos que experimentar como é o gosto da manipulação.

— Eu preferia ficar sem saber. — ele resmunga, mas retira os olhos da estrada apenas para me dizer. — Mas eu farei isso com você.

Por algum motivo, seu tom de voz me fez lembrar de Thomas. Desvio o olhar para a janela e observo o céu escuro, de repente sinto o peso da saudade do sorriso malicioso de Isaac, dos conselhos de Thomas, da proteção de Jackson, das confusões que Giulia nos metia, e, principalmente, sinto saudades de Hanna.

Mas eu me recuso a chorar.

Naquela mesma noite, pela primeira vez em meses, eu senti esperança ao olhar as estrelas pela minha janela antes de dormir.

Será apenas uma questão de tempo, Hanna. Mais uma vez, eu só preciso de tempo. Sei que valerá a pena. Esperar para te rever sempre valerá a pena.

Te Esperar Valeu A Pena [Clichê sáfico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora