ordine

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Alberto olhou confuso para a moeda em sua mão, e então para a fonte que reluzia na frente dele. 

Ela era bonita, uma escultura de dois humanos dançando e sorrindo um para o outro, pintada em tons claros e com água esguichando suavemente ao redor dos dois. Ficava situada no meio de um parque e as pessoas estavam sentadas em sua beira, algumas delas de mãos dadas com outras. E o dia em si estava belíssimo, com um sol fraco os aquecendo e brisa com cheiro de pães frescos e flores os envolvendo.

Luca havia falado alguma coisa para ele, algo sobre desejos e moedas, mas Alberto só havia conseguido prestar atenção na maneira como os cachos castanhos de Luca ficavam ainda mais perfeitos iluminados pelo sol e agitados pela brisa, quase como se aquela cidade o adorasse e contemplasse, e como o sorriso era puro e sincero e fazia seu coração se aquecer, acelerado dentro do peito.

E, por isso, agora ele não tinha a mínima ideia do que fazer com aquela moeda que Luca havia posto em sua mão.  

Alberto voltou os olhos verdes para Luca e observou-o sorrir ainda mais, se aproximando até que ficasse bem ao seu lado, murmurando baixinho perto de seu ouvido.

— Os humanos dizem que essa fonte é mágica. Dizem que esses dois na escultura são seres mágicos que podem ouvir os desejos mais profundos e fortes dos corações das pessoas. Então, se você fizer um pedido para uma moeda e jogá-la na fonte, eles vão ouvir e realizar para você.

— Ohh. Mas... Por que uma moeda?

— Porque foi assim que eles se conheceram, muito tempo atrás. Eles foram até uma fonte para fazer pedidos e então acabaram se esbarrando, derrubando as moedas que um deles carregava. Foi quando tiveram a ideia de jogar cada um uma moeda na fonte para fazerem pedidos. No final, eles receberam o que queriam.

— E o que eles pediram? — Alberto perguntou, sorrindo, pegando a mão de Luca na sua e entrelaçando seus dedos.

Luca sorriu de volta para ele.

— Felicidade. E eles a encontraram um no outro. Agora vai, faz um desejo. Mas não pode fazê-lo em voz alta, precisa ser silencioso. E não pode contá-lo a ninguém, senão não realiza.

Alberto riu, balançando a cabeça. Ele não costumava acreditar naquele tipo de coisa, mas, se Luca acreditava, então ele também o faria. O único problema é que ele não fazia ideia do que pedir. 

Se fosse sincero consigo mesmo, Alberto já havia conquistado tudo que mais queria em sua vida. Ele agora tinha uma família, tinha uma casa com pessoas que o amavam, uma cama macia para dormir, amigos, um emprego... E tinha Luca. E Luca era tudo isso junto e muito mais. E eles estavam dando início ao sonho dos dois de conhecerem o mundo, juntos e livres, então Alberto sinceramente não havia mais nada para pedir.

Até que ele virou o rosto e seus olhos se focaram no rosto de Luca outra vez. 

Havia uma luminosidade que nada tinha a ver com os raios pálidos do sol o esquentando. Era uma luz que irradiava de dentro dele, dando mais cor e vida para os olhos adoráveis, o sorriso doce e as feições gentis. Então Luca virou o rosto para Alberto e ele nem ao menos percebeu que já estava sorrindo de volta, aquela sensação engraçada no peito ao ver Luca abrir ainda mais o sorriso e se esticar nas pontas dos pés para beijar sua bochecha. 

Então Alberto soube exatamente o que pedir. 

Ele fechou os olhos, segurando a moeda perto do coração para que ela pudesse entender perfeitamente o que ele queria.

“Que Luca seja feliz em cada um dos seus dias, pelo resto de sua vida, e nada tire sua luz. Ele é a minha anchova mais brilhante.”

E jogou a moeda na fonte, observando-a cair na água e se aninhar com outras que já estavam ali. E ele desejou, de todo o seu coração, que Luca estivesse certo e que aquela fonte realmente fosse mágica, e que aquela moeda levasse seu pedido.

Ele se virou para Luca, apertando seus dedos.

— Você já jogou uma moeda aqui?

— Já, sim. Assim que cheguei em Genova e Giulia me contou sobre essa fonte, eu a pedi para me trazer aqui. 

— E seu pedido já se realizou?

Mas Luca não respondeu, apenas continuou a olhá-lo enquanto sorria.

— Vai, me conta — Alberto insistiu, se aproximando dele, que riu e se afastou um passo. — Conta pra mim, Luca!

— Não! Vai ter que me pegar se quiser saber! — e se virou, começando a correr, fazendo alguns pombos levantarem voo assustados.

Alberto se pôs a correr atrás dele, ambos gargalhando. Ele sabia que as pessoas ao redor estavam olhando para eles de maneira estranha por estarem correndo como crianças no meio do parque, mas aquilo não importava.

A única coisa verdadeiramente importante era que a gargalhada melodiosa de Luca era muito melhor do que qualquer música que já havia escutado em toda sua vida e ele queria que ela jamais parasse de tocar em sua vida.

Em um dado momento, Luca tropeçou. Seus braços se agitaram para frente e o corpo inclinou, mas então Alberto estava puxando-o de volta, colando seus corpos em um abraço forte, e eles ainda riam e sorriam um para o outro quando Alberto devolveu a Luca o beijo singelo na bochecha. 

— Pronto, eu te peguei — ele murmurou com a respiração ofegante. Segurando Luca mais forte para que ele não pudesse fugir outra vez. — Agora me conte.

Mas Luca balançou a cabeça para os lados outra vez, os cachos dançando ao redor de seu rosto.

— Primeiro, vamos tomar sorvete. Tem uma sorveteria aqui que tem o melhor do mundo.

— Melhor do que o que nós tomamos em Portorosso?

— Muito melhor! E então nós podemos voltar para cá e alimentar os pombos.

— E aí você vai me contar?

— Talvez eu conte.

E Luca riu outra vez quando beijou o nariz de Alberto e se desvencilhou dele, voltando a correr. Alberto sorriu e foi atrás dele.

— Luca!

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N/A: Eu estou completamente apaixonada por eles.

Sob as AnchovasOnde histórias criam vida. Descubra agora