eterno

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Na manhã seguinte, eles se levantaram cedo para partir.

A mãe de Giulia já estava de pé e os três tomaram café da manhã juntos, então ela envolveu os dois em um abraço da mesma maneira que a filha costumava fazer, o que trouxe sorrisos para seus rostos. 

— Até daqui algumas semanas, meninos. Façam uma boa viagem e aproveitem para se divertir — ela desejou, sorrindo. — Não se preocupem, eu vou tomar conta da Vespa de vocês até que voltem para Genova. 

E eles acenaram para ela, caminhando até a estação de trem. Luca havia descoberto que em algumas cidades que eles planejavam visitar era proibido andar com a Vespa, o que era algo totalmente ridículo na opinião de Alberto. Ele tinha cogitado seriamente excluir aqueles lugares da lista, mas a animação com que Luca falava sobre eles o fez mudar de ideia. Não que Alberto se importasse, no fim de tudo.

Eles pegaram o primeiro trem para Verona e, cerca de três horas depois, desembarcaram na cidade que, segundo Luca, era uma das mais conhecidas no mundo e um símbolo de romance e paixão. E ele provavelmente estava certo, pois por toda parte viam-se casais trocando abraços e beijos, andando de mãos dadas e sorrindo um para o outro, cruzando as ruas, mas perdidos em seu próprio mundo.

Então ele apenas sorriu também, pegando a mão de Luca na sua e piscando um olho quando ele o olhou confuso. Luca entrelaçou seus dedos e se esticou para deixar um beijo na bochecha de Alberto, que se rosearam enquanto seu coração acelerava.

Eles foram até a casa onde supostamente viveu Julieta, viram a estátua de bronze dos dois amantes debaixo da sacada onde ela conversava com Romeu e Alberto apenas conseguia achar engraçada a maneira como todas aquelas pessoas iam até ali todos os dias para ver ruínas de uma história que havia se passado há tanto tempo.

Mas então ele olhou para Luca, para os seus olhos castanhos brilhantes enquanto tagarelava sem parar sobre toda a história e os fatos importantes, se atropelando na narrativa e retrocedendo para adicionar detalhes que Alberto não poderia deixar de saber, e ele pensou que estava começando a entender.

Porque ele sempre havia pensado que era besteira algo como aquilo, imortalizar o amor em objetos e palavras e monumentos. Para ele, o amor era apenas para ser vivido, não objetificado ou entendido. Apenas vivido. Assim como a vida.

Mas, então, ele havia se apaixonado por Luca e era extraordinária a maneira como aquele sentimento apenas crescia dentro de si, tanto que ele temia que algum dia fosse ficar grande ao ponto de rasgar as barreiras de sua pele e escorrer para fora, desintegrando-o por inteiro. 

Ele se perguntou se era dessa maneira que Romeu se sentia sobre Julieta. Se ele também olhava abobalhado para ela, para sua beleza e jeito únicos. Se ele também sentia o coração palpitante e as ideias completamente sem rumo, ao mesmo tempo que tudo se tornava claro e certo somente porque ela estava ali e vivia e o amava. 

E ele se perguntou se ele a amava de volta tão intensamente e incondicionalmente que seria capaz de qualquer coisa para estar ao lado dela, para sempre. Para apenas observar, encantado, o cabelo dela voando ao vento ou seu sorriso desenhado nos lábios perfeitos, a risada soando por todos os cantos de seu corpo e a companhia trazendo uma paz sublime para a alma. Estar ao lado dela e apoiá-la em todas as suas vontades e sonhos e tudo o que ela desejasse fazer em sua vida.

Porque era desta maneira que ele se sentia sobre Luca.

E ele pensou que, se Romeu e Julieta também se sentiam assim, então fazia muito sentido que eles quisessem que o amor deles fosse imortalizado e contado a todos, porque era isso que Alberto queria fazer sobre o que sentia. Ele queria gritar a todo o mundo ao mesmo tempo em que queria sussurrar baixinho no ouvido de Luca, apenas para que ele ouvisse.

Sob as AnchovasOnde histórias criam vida. Descubra agora