Como Alberto não caiu em suas armadilhas sutis de tentar descobrir o que era sua surpresa, apenas restava a Luca fazer o que ele mandava e segui-lo.
Mas foi engraçada a maneira como, mesmo que Alberto tivesse chamado Luca para ir com ele, o moreno não se moveu. Pelo contrário, ficou o mais imóvel possível, suas mãos grandes e pesadas mantendo Luca perto de seu corpo quente, o rosto apenas uma silhueta escura contra o nascer do sol atrás dele.
Mas Luca podia ver que sorria. O mesmo sorriso de ontem à noite. E os olhos passeavam sem pressa por seu rosto, como se o tentasse guardar na memória. Luca o flagrara fazendo aquilo outras vezes quando o verão estava perto de terminar e eles estavam perto de se despedir, mas não entendia porquê Alberto estava fazendo aquilo agora.
— Por que está me olhando assim? — ele questionou baixinho, e o sorriso de Alberto ficou maior.
— Porque você é a coisa mais bela que eu já vi, Luca — respondeu no mesmo tom, e as bochechas de Luca se avermelharam e seu peito se encheu de peixinhos velozes.
Alberto ergueu uma das mãos e passou a ponta dos dedos pelos cachos castanhos de Luca, e Luca não pôde deixar de registrar a maneira como gostava desse lado carinhoso e gentil de Alberto.
— Bellissimo, de todas as formas — ele continuou, e Luca abriu um sorriso encabulado, abaixando a cabeça.
Mas Alberto o segurou pelo queixo, seu polegar e indicador trazendo seu rosto de volta ao alcance dos olhos verdes. Então seus braços o rodearam e Luca se viu dentro de mais um dos abraços calorosos e com cheiro de maresia, e foi automático abraçar Alberto de volta.
— Ti amo, Luca.
— Ti amo, Alberto.
Então Alberto se afastou, um sorriso animado voltando a cruzar suas feições, e começou a puxar Luca pela mão para a beira do forte.
— Precisava dizer isso antes de irmos. Vamos gravidade!
E pulou, levando Luca consigo, que gritou enquanto caíam e gargalhou quando aterrissaram no imenso colchão que haviam deixado ali apenas para isso. Alberto continuou puxando-o para a borda da ilha e então pularam outra vez, desta vez no mar.
A transformação, como sempre, foi instantânea e sem que eles ao menos percebessem. De repente, o rosto de Alberto estava coberto de escamas azuladas e arroxeadas, da maneira como ele o havia conhecido seis anos atrás.
Luca sorriu para ele e seguiu-o enquanto começava a nadar de volta para Portorosso, saltando sobre a água, e em poucos minutos estavam caminhando pela pequena enseada coberta de cascalhos claros em direção a casa de Alberto.
Luca gostava de que agora ele não precisava esconder quem realmente era. Então deixou seu corpo secar naturalmente, sem se preocupar em esconder a pele cheia de escamas e a cauda longa.
— Bom dia, Alberto! Oi, Luca! Não sabia que já estava de volta — cumprimentou um senhor de cabelos esbranquiçados e boina preta, sua inseparável vara de pescar jogada sobre o ombro.
— Bom dia, senhor Marino! — eles responderam ao mesmo tempo, acenando para o homem.
Continuaram seu caminho até a casinha de Alberto e entraram, pegando as toalhas que sempre ficavam penduradas perto da porta para se secarem.
A casa de Alberto não era grande, mas era acolhedora e confortável. Tinham dois quartos, uma sala ligada com a cozinha e o banheiro, e nos fundos um quintal pequeno. Alberto costumava dormir na sala e deixar os dois quartos para outros fins; um para guardar achados e tesouros, outro para trabalhar. Seu quintal também servia para guardar coisas, mas em noites de céu limpo eles ficavam por ali para admirar as anchovas nadando no céu.
— Ok, primeira parte da surpresa — Alberto bradou, animado. — O café da manhã! Eu estou orgulhoso de dizer que, depois de muitas tentativas e erros, finalmente aprendi a fazer cappuccino!
— Uhh! É minha bebida favorita dos humanos!
— Eu sei, por isso quis aprender. Por você. E agora consegui. Eeeeee devo dizer sem nenhuma modéstia que o meu cappuccino é o melhor de Portorosso — falou convencido, o sorriso altivo e o peito estufado, e Luca riu.
— Tenho certeza de que é.
Então eles começaram a cozinhar, e pouco tempo depois um cheirinho gostoso pairava no ar. Eles se sentaram a mesa da sala com duas canecas de cappuccino nas mãos, alguns brioches recheados com queijo branco e goiabada, outros pães e algumas frutas.
— Eu não sabia que você gostava de Romeu e Julieta no seu brioche — Luca murmurou depois de alguns minutos, e Alberto o olhou confuso.
— Romeu e Julieta? São... Pessoas? Tem pessoas no meu brioche?!
Lucas riu outra vez, balançando a cabeça para os lados.
— Não, Alberto. Romeu e Julieta é como chamamos a combinação de queijo e goiabada.
— E por que chamam assim?
— Porque dizem ser a combinação perfeita de sabores, assim como Romeu e Julieta eram uma combinação perfeita de amor.
— Ohh — ele olhou para seu brioche por um longo tempo e então deu mais uma mordida, voltando a olhar para Luca. — E quem foram Romeu e Julieta?
— Eles foram o casal com a história de amor mais conhecida do mundo. E é incrível, pois eles nem ao menos existiram. Não existem registros de que foram reais ou não, mas o mundo todo os conhece.
— Sério? — Alberto perguntou, impressionado, e Luca balançou a cabeça. — E qual foi a história deles?
— Eles moravam na mesma cidade e se apaixonaram um pelo outro. Mas suas famílias eram rivais, e não os queria juntos. Mas o amor deles ultrapassava qualquer coisa. Era forte demais.
Alberto sorriu, olhando com carinho para Luca, e mordeu mais um pedaço do brioche.
— E o que aconteceu depois?
Luca deixou os ombros caírem, seu sorriso morrendo alguns centímetros.
— É um final trágico e triste, Alberto.
— Oh. Bem, então vamos ficar com a primeira parte, a do amor proibido e poderoso.
— Essa é mesmo a parte mais emocionante.
Eles terminaram de comer e deixaram a louça na cozinha. Luca sabia o que viria a seguir e se sentia ansioso quando Alberto o puxou para o quintal dos fundos.
Parou em sua frente, sorrindo abertamente em empolgação.
— Certo, feche os olhos.

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Sob as Anchovas
Fanfiction{Luca x Alberto} ...e eles voltavam para ela todos os anos quando Luca voltava para casa. E se deitavam lado a lado na plataforma de madeira do topo, olhando para as anchovas brilhantes acima deles enquanto Luca contava tudo o que havia para ser co...